Fazem-se estatísticas para as horas passadas a trabalhar e a dormir — até há pulseiras que medem a profundidade do sono –, mas se houvesse um estudo para apurar quem se demora mais à mesa, provavelmente o pódio iria para os países do Mediterrâneo. De Itália à Turquia, passando pela Grécia, Espanha e, claro, Portugal, o pão pede para ser molhado no azeite com tempo, a paella para ser partilhada entre conversas e a tagine para encher vários pratos enquanto os queijos esperam deitados nas tábuas.

“Hoje em dia fala-se muito da Europa, e o que vemos é que, apesar de todas as diferenças geográficas, culturais e religiosas, estes países do Mediterrâneo têm algo muito próprio que os une e que é esta ideia do convívio à mesa, das grandes almoçaradas e da partilha entre as pessoas”, diz Pedro Sottomayor. O designer foi desafiado por José Grilo, da Grilo Kitchenware, a desenvolver uma marca de acessórios de cozinha inspirados na cultura mediterrânica, e em setembro de 2016 nasceu a Mèzë.

Dividida em panelas, tábuas, contentores e taças — “cozinhar, armazenar e servir” –, a primeira coleção distingue-se pelo design minimal e elegante, sendo ao mesmo tempo multifuncional. Os contentores dão para empilhar, por exemplo, e as panelas têm uma pega magnética que se pode tirar e pôr e que permite transformar a tampa numa tábua de servir. “Até estão patenteadas”, diz Pedro Sottomayor.

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As tampas dos contentores, feitas em cortiça portuguesa, também podem ser usadas como bases. © Divulgação

Habituado a desenhar cadeiras e atualmente responsável pelo projeto de reformulação das esplanadas da Baixa pombalina e do centro histórico de Lisboa, desta vez o designer sentou-se à mesa para pensar toda a coleção. “Para lançar a marca fui eu que fiz tudo, mas no futuro a ideia é convidar designers do Mediterrâneo”, avança. “Um turco não produziria uma peça tão minimal, por exemplo. E é interessante pensar na Mèzë a crescer com objetos específicos de cada cultura, seja um galheteiro de Portugal ou um utensílio para cozer couscous.”

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A pensar nas tais almoçaradas mediterrânicas — um conceito que serve de mote ao vídeo de apresentação da marca, filmado à sombra de uma enorme oliveira — todas as peças são grandes e feitas em materiais típicos da região, do cobre ao latão, passando pela ardósia e a cortiça, materiais esses que são apresentados nas suas cores naturais e “sem grandes alterações”. “Isso permite transmitir a sua qualidade, trabalhar os tons terra, que fazem lembrar esta zona, e também alcançar diferentes objetivos”, explica Sottomayor. “As tábuas, por exemplo: apesar de terem a mesma forma, são para funções diferentes por causa dos seus materiais. Na madeira posso cortar, na ardósia posso servir e na cortiça pôr quentes.”

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Todas as tábuas têm um orifício na ponta porque a ideia é poder pendurá-las (e deixá-las à vista) quando não estão em uso. © Divulgação

Tal como um cozinhado começa sempre por alguma coisa e tem um ingrediente fundamental, a Mèzë começou pelas panelas — quatro ao todo, em diferentes tamanhos — e pretende afirmar-se nessa área. “As panelas são em ferro fundido, são das melhores que se podem comprar”, diz Sottomayor, explicando: “O ferro fundido é uma das técnicas mais antigas de fazer panelas e, tal como acontece com as de barro, absorve o calor e difunde-o muito bem (ao contrário de uma panela de inox, que aquece muito por baixo). No fundo, funciona quase como um forno, para além de que funciona em todo os tipos de fogões.” É ainda nas panelas, acrescenta o designer, que se vê melhor a união que esteve na base da criação da marca. “Uma tagine está esteticamente muito próxima de uma caçarola, ou de uma paella. Há encontros entre as culturas.”

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Pedro Sottomayor desenhou toda a coleção, voltando assim a trabalhar com a marca de cozinha Grilo Kitchenware, 15 anos depois da primeira colaboração, “acabado de sair do curso”. © Divulgação

Ao mesmo tempo portuguesa, europeia e árabe, porque mediterrânica, a Mèzë é acima de tudo internacional. Com peças maioritariamente produzidas em Portugal, mas também na Turquia, e preços que vão dos 12€ aos 210€, desde que surgiu no mercado a marca teve como primeiros pontos de venda as lojas César Castro mas também as galerias Lafayette, em Paris. Com a participação na Maison et Objet, que acaba de decorrer na capital francesa, e noutras feiras internacionais de design em Frankfurt e Tóquio agendadas para 2017, a marca já tem alinhados como próximos pontos de venda lojas como a Globus e Pfister, na Suíça, a Crate & Barrel e a Anthropology, nos Estados Unidos, a John Lewis, no Reino Unido, e a Jia, em Hong Kong.

Caso para dizer: a Mèzë está posta, venham os grandes almoços prolongados.

Nome: Mèzë
Data: Setembro de 2016
Preços: 12€ (tábuas) a 210€ (tagine)
Pontos de venda em Portugal: Lojas César Castro

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