Quarta-feira, 19h45, Santiago Bernabéu. Os oitavos de final da Liga dos Campeões estão no segundo dia mas terão esta noite um duelo que poderia ser a final da competição: de um lado o Real Madrid, do outro o PSG; de um lado o bicampeão europeu, do outro o principal aspirante a vencer pela primeira vez o troféu a par do Manchester City (os restantes favoritos já ganharam); de um lado Cristiano Ronaldo, Gareth Bale e Benzema; do outro Neymar, Cavani e Mbappé.

Como seria de esperar, é tudo à grande quando se fala no encontro. À grande pelos mil milhões de euros investidos nos dois plantéis, à grande porque esta é a única oportunidade do Real Madrid ganhar mais um troféu na presente temporada (depois da Supertaça Europeia e da Supertaça de Espanha), à grande porque Neymar está de regresso a Espanha para defrontar o clube rival do Barcelona que sonha um dia resgatá-lo para abrir uma nova era em Madrid. Uma era que, de acordo com o El Confidencial, é impossível (porque recebe muito mais de acordos publicitários ligados com o Mundial de 2022 do que em ordenados e prémios); uma era que, segundo o El País, teria de ser bem pensada tendo em conta o estilo do brasileiro (o início do texto conta uma história em que Neymar convida Mascherano para jantar, o argentino pensava que o companheiro queria pedir algum conselho mas quando chega a casa do avançado afinal era uma festa com dezenas de pessoas).

Veremos o que dá esta primeira mão da grande eliminatória dos oitavos de final da Liga dos Campeões, que terá também esta noite a receção do FC Porto ao Liverpool (que falaremos ao longo do dia). Qualificado, praticamente, está já o Manchester City, que foi à Suíça golear o Basileia por 4-0. E num dia em que se fala tanto de milhões, também podemos fazer uma reflexão sobre o investimento dos ingleses: só 93 países no mundo gastam mais em Defesa do que os citizens gastaram na sua.

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O dado, que não deixa de ser curioso, resultou sobretudo do ataque final do conjunto de Pep Guardiola ao mercado de Inverno, com a contratação do basco Laporte pela cláusula de rescisão: 65 milhões de euros. E o espanhol nem jogou nesta primeira mão dos oitavos de Champions, que teve nos cinco elementos recuados “apenas” 155,5 milhões.

Comecemos pelos guarda-redes: entre Bravo, em 2016, e Ederson, esta temporada, foram 58 milhões de euros (18 do chileno ex-Barcelona, 40 do brasileiro ex-Benfica). Depois, os centrais. Diante do Basileia, jogaram os mais “baratos”: Kompany, um esteio do Manchester City há dez anos que saiu do Hamburgo por 8,5 milhões, e Otamendi, argentino que passou pelo FC Porto e que trocou o Valencia pelos ingleses por 44,5 milhões. Quem não jogou então? John Stones, contratado ao Everton por 55,5 milhões em 2016, e o supracitado Laporte, o senhor 65 milhões. Total: 173,5 milhões em quatro jogadores. E, de acordo com o CIES Football Observatory, os ingleses gastaram 878 milhões no seu plantel.

Ederson foi contratado ao Benfica por 40 milhões e tem sido determinante para a campanha do Manchester City (Clive Brunskill/Getty Images)

Nos laterais, o cenário não é muito diferente: só esta temporada chegaram Kyle Walker do Tottenham por 51 milhões; Mendy do Mónaco por 57,5 milhões (entretanto contraiu uma lesão grave); e Danilo do Real Madrid por 30 milhões. Se ao trio juntarmos ainda Fabian Delph, médio que também pode atuar na esquerda da defesa e que em 2015 trocou o Aston Villa pelos citizens por 11,5 milhões, atingimos o número redondo de 150 milhões. Tudo junto, na defesa, foram 381,5 milhões…

Os comandados de Guardiola decidiram a eliminatória em menos de dez minutos, com golos de Gündogan (14′), do português Bernardo Silva (18′) e Kun Agüero (23′), com o alemão a bisar ainda na segunda parte aos 53′ para fazer o 4-0 final. E aquilo que se percebe deste Manchester City, que é uma verdadeira máquina de jogar futebol de campo cheio a partir da sua defesa (ou do seu guarda-redes, Ederson), é que conseguiu o equilíbrio necessário para aspirar a chegar longe na Champions não pelos largos montantes investidos pelos jogadores de características ofensivas mas pela estabilização do quarteto defensivo. É como dizia o mítico treinador de basquetebol Phil Jackson: “Os ataques ganham jogos e as defesas ganham campeonatos”.

Eriksen fez assim o empate para o Tottenham, num livre em que Buffon ficou mal na fotografia (MIGUEL MEDINA/AFP/Getty Images)

No outro encontro da noite de terça-feira, a Juventus teve uma entrada de sonho com uma saída de pesadelo (2-2): Higuaín abriu o marcador com pouco mais de um minuto na sequência de um fantástico remate cruzado após livre e bisou de penálti aos 9′ (falharia depois uma outra grande penalidade, aos 45′), mas o Tottenham conseguiu aguentar a péssima entrada para fazer uma exibição de alto nível coroada com os golos do inevitável Harry Kane (35′) e do mágico dinamarquês Eriksen (71′). Assim, fica tudo em aberto para a segunda mão em Wembley, onde se espera mais um jogaço de futebol. Com um pormenor curioso: a Vecchia Signora ainda não tinha concedido qualquer golo em 2018 (sete jogos consecutivos).