A promotora de concertos Sons em Trânsito (SeT), que ganhou o concurso para a concessão do renovado Cineteatro municipal Capitólio para os próximos cinco anos, apresentou esta quarta-feira o seu projeto para o espaço, situado no histórico Parque Mayer, em Lisboa.

Em conferência de imprensa — na qual esteve também presente a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Catarina Vaz Pinto — o diretor geral da promotora, Vasco Sacramento, afirmou ser “uma enorme alegria e responsabilidade tomar conta de uma sala emblemática, com tanta história” e divulgou em detalhe a programação do espaço para os próximos meses e a “identidade” que espera construir no Capitólio, ao longo destes cinco anos.

“Lisboa tem muitos espaços culturais, municipais e privados, com valências muito diferentes. Queremos preencher uma lacuna que a cidade tinha para espetáculos de média dimensão, de salas com versatilidade e elasticidade que se adequem a espetáculos para plateias sentadas e em pé”, explicou o responsável da SeT, acrescentando que, no que toca a espaços culturais que permitem eventos em pé, em especial concertos, “há uma grande distância [de lotação] entre os clubes existentes [um dos maiores dos quais, o Musicbox] e um Coliseu. A cidade precisava deste espaço”.

[o vídeo apresentado na conferência de imprensa:]

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A vereadora Catarina Vaz Pinto reforçou a mesma ideia, afirmando que “criar mais e melhor diversidade cultural” é um dos objetivos que rege as decisões da CML no que respeita à cultura. Quanto à decisão de concessionar o espaço a uma entidade privada, Vaz Pinto justificou-a assim:

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A cidade é um ecossistema cultural. A câmara e a EGEAC [Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, pública] são pivô e pilar desse ecossistema mas não podem fazer tudo — nem querem. A ideia de partilhar a responsabilidade desta sala [deve-se à premissa de que] há outras entidades que o podem fazer [gerir] melhor do que nós.

A proposta da Sons em Trânsito venceu o concurso por propor aquilo que a CML ambiciona para a sala (com lotação variável, dada a possibilidade de alterar a estrutura interior do espaço, mas com capacidade para até perto de 400 pessoas sentadas ou cerca de mil em pé), explicou a vereadora da Cultura. “Isto é, que esta seja uma sala pluridisciplinar, aberta à cidade, que se relacione com as freguesias e com outros eventos culturais da cidade e que traga complementaridade” face à programação dos restantes espaços de Lisboa.

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Vasco Sacramento, da Sons em Trânsito, concordou, dizendo que “programar em rede” (portanto, em conjunto com salas de outros pontos do país) e ter uma programação “complementar, mais do que concorrencial”, face às restantes salas de Lisboa, foram objetivos assumidos na proposta de concessão e são para manter.

O diretor geral da promotora que vai gerir o Capitólio explicou que está “habituado ao conceito de clube” eclético de média dimensão, que não encontra em Lisboa mas que o Capitólio pode vir a ser, tal como o é, por exemplo, o catalão Razzmatazz. “Também podemos ser uma sala de grande elasticidade estilística, que tanto pode acolher concertos como espetáculos de humor, atuações de DJs e eventos de moda”.

De Sérgio Godinho e Cícero à moda e humor

Os três vetores principais da programação que a Sons em Trânsito idealiza para o Capitólio — música, cinema e humor (o último também justificado por “Raul Solnado ser o patrono da sala” — já haviam sido anunciados em primeira mão ao Observador, em agosto do ano passado. Desta vez, foram explicados em detalhe para assinalar a apresentação da programação da sala para os próximos meses, que inclui concertos de Sérgio Godinho (23, 24 e 25 de fevereiro), Marco Rodrigues (6 de abril), Liniker e os Caramelows (7 de abril), PAUS (13 de abril), Rhys Lewis (14 de abril), Héber Marques (28 de abril), Elisa Rodrigues (24 de maio), Beth Ditto (7 de junho) e Cícero Rosa Lins (20 de junho).

Empresa que vai gerir o Cineteatro Capitólio quer “uma sala aberta à comunidade”

Existirão ainda eventos de moda (como o Style Out Loud, já dia 8 de março) e festas e festivais como o St. Patrick’s Day Jameson (16 de março, com atuações de Capicua, Mirror People, Moullinex, Sonja e Kid Franciscolli), Clazz Jazz Festival (“o primeiro festival de jazz latino do mundo, com eventos a decorrer em Madrid, Barcelona, Cidade do México, Bilbao e Lisboa — no Cineteatro Capitólio”, dias 13 e 14 de julho), Vodafone Mexefest (tal como nas edições anteriores e recebendo concertos a 23 e 24 de novembro) e o festival de humor The Famous Fest, que em 2017 decorreu na LX Factory, em Alcântara.

Vasco Sacramento explicou que o objetivo da promotora é que o Capitólio “tenha uma assinatura e uma identidade, não perdendo o sentido comercial que um teatro destas características [dimensões] tem de ter”. É provável, acrescentou o novo gestor do espaço, que o teatro não apresente já nos primeiros meses uma identidade firmada, até porque a Sons em Trânsito vai “entrar com uma atitude de humildade, já que não conhecemos a sala nem os públicos para os quais temos de trabalhar”. Esse risco e essa identidade deverão, contudo, consolidar-se ao longo do tempo: “Esperamos honrar a candidatura e os desafios” a que se propuseram.

[em 2016, o futuro do Capitólio ainda estava indefinido:]

O Capitólio renasce, ainda sem saber como será o amanhã

O diretor geral da empresa, que funcionará parcialmente como programadora, quis deixar claro que “apesar da programação estar confiada à SeT não é em exclusivo” desta entidade e que estão também “abertos a que outros programadores organizem aqui os seus espetáculos. Queremos estabelecer pontos de diálogo e parcerias com outros agentes da cidade e do país”.

Quanto a novidades futuras, Vasco Sacramento indica que, além do Vodafone Mexefest (este parcialmente, já que os concertos do festival decorrem em vários espaços da Avenida da Liberdade) e The Famous Fest, a Sons em Trânsito “tem estado a falar com outras entidades para abraçar também outros eventos que já existem na cidade”.

O recuperado cineteatro do Parque Mayer vai ser “um espaço aberto a qualquer tipo de manifestação artística” e, de futuro, conta acolher ainda apresentações de peças de teatro, acrescentou o diretor geral da promotora. Há também a possibilidade de receber “uma exposição no verão para ilustrar a história do Parque Mayer”, organizar noites que recriem o ambiente das casas de fados, “sem ser de uma forma kitsch, antes como tubo de ensaio para novos fadistas”, propostas infanto-juvenis para “criação e fidelização de novos públicos” e reflexões e debates que deverão acontecer no terraço (que tem “condições únicas para o cinema”) quando a temperatura o permitir. Além de tudo isto, o Capitólio não irá “passar ao lado de grandes acontecimentos como a Eurovisão, os Santos Populares, o Mundial de futebol e a Web Summit”, acolhendo eventos paralelos, concluiu o responsável.