As eleições antecipadas em 2015. Mesmo depois do Presidente da República ter dito que as eleições serão na data prevista, o PS lá teve de reincidir no tema a propósito da demissão de Miguel Macedo. E antes de o PR ter dado a opinião sobre o assunto, toda a gente que costuma usar os neurónios sabia que Cavaco nunca iria antecipar as eleições. Porque considera – e muito bem – que a data das eleições não tem de andar a reboque das conveniências eleitorais do PS e porque deu em 2013 oportunidade ao PS de haver eleições antecipadas. O PS recusou e claro que Cavaco terá todo o gosto em oferecer ao PS aquilo que o próprio partido escolheu.
Era evidente que Costa perderia esta batalha da antecipação das eleições. (E se para a direção do PS não era evidente, aconselho que se demitam em bloco e se retirem para uma vida de contemplação num mosteiro nepalês.) Para que a escolheu, então? Para ter assunto, já que claramente não faz ideia – ou faz e não quer contar – de como resolverá os urgentes problemas do país, os de financiamento do estado? Mas ao político que se apresenta como conseguindo por Merkel no lugar de germânica causadora de duas guerras mundiais que deve desculpas e compensações ao mundo, será que esta imagem de bulldozer que arrasa todos no interesse de Portugal é beneficiada com o facto de nem o Presidente conseguir convencer?
Também estou estupefacta com o regresso ao passado (mas sem o talento de Evelyn Waugh) dos apoios costistas. É certo que, se um certo grupo parlamentar do PSD foi desenhado numa noite de tempestade, o atual grupo parlamentar do PS desconfia-se ter sido produzido durante um inverno nuclear. Ainda assim, Costa não tinha mais a quem entregar a liderança do PS na AR do que a Ferro Rodrigues? Um político com carisma da amiba média. E que, apesar de ter entreaberto a porta enquanto ministro da segurança social à privatização parcial da segurança social, revelando resquícios de sensatez, agora parece confundido com a história recente do país e vemo-lo acreditar que o PS, ao invés de ter governado de modo a necessitarmos da troika e ter negociado o memorando, foi o resistente ao pedido de ajuda externa. Estar pelo menos vagamente situado nos factos políticos que ocorreram nos últimos anos não é critério de escolha para liderar o grupo parlamentar do PS em São Bento?
E que dizer da ressurreição do toda e qualquer cara socrática? Vieira da Silva. Santos Silva (o que o destino nos havia de reservar; uma coisa é suportarmos os sacrifícios impostos pelo memorando de PS e troika, outra é sofrermos nova dose dos ditos azedos e arrogantes de Santos Silva). Assombrosa renovação. Pensará Costa que os eleitores verão a solução nos mesmos que criaram o problema?
Vamos à última. Valham-nos todos os anjos e arcanjos, mas que passou na cabeça de Costa para reabilitar Sócrates? O embevecimento com Sócrates durante a campanha das primárias já foram difíceis de entender se não como uma debilidade de Costa face ao aparelho do PS. Mas, ganhas (e tão expressivamente) as primárias, por que razão atentatória do senso e do gosto Costa não deu indicações claras para se remeter Sócrates a um esquecimento tão honorável quanto possível?
Tanto mais que acredito que já terão percebido que Sócrates é lixo tóxico eleitoral: até conseguiram que faltasse ao jantar de apoio a Costa nas primárias. E, com as incertezas da candidatura presidencial de Guterres, já se aventou a possibilidade de Jaime Gama mas ninguém teve o despudor de sugerir Sócrates.
Ah, mas Costa compensa este passos em falso com a sua brilhante argumentação para o futuro do país? Também não. Assegura-nos que tem visão estratégica mas nós não a avistamos. Diz ter uma agenda para a década (que é ambicioso, não se contenta com uma legislatura de cada vez); sabe, portanto, onde quer estar dentro de uma década; mas não faz ideia, devido à incerteza, onde estará um mês depois de ser primeiro-ministro; mas a dez anos, com muito maior incerteza, já sabe. Pois. E se para o país não propõe nada – apesar de não fazer se não política desde a adolescência – promete deixar Lisboa com uma obra emblemática: um novo centro de congressos. Que ninguém necessita, que é inútil e que está na mesma categoria das socráticas terceira travessia do Tejo e terceira auto-estrada Lisboa-Porto. Novo regresso ao socratismo.
Olho para Costa e para o seu PS e só consigo ver um grupo que não entende que o país mudou e não está de pazes feitas com quem nos trouxe tantos trabalhos. Que não vê que frases redondas e bazófia já não são confundidas com solidez política. Provavelmente a penalização do atual governo será mais forte do que a inépcia socialista, mas por mim temo o futuro com um governo deste PS.