É raro uma visita oficial ser reciprocada em meros seis meses. Depois da histórica visita de António Costa a Deli, Bangalore, Gujerate e Goa, em Janeiro passado, é agora a vez de Narendra Modi visitar Portugal. Para além de uma conveniente escala técnica, a caminho de Washington, o que traz o primeiro-ministro indiano a Lisboa?

1. Ciência e tecnologia: A Índia está a apostar forte na inovação e identificou em Portugal um importante parceiro na investigação espacial, oceânica e nas nano-tecnologias. O Web Summit do ano passado também atraiu a atenção dos indianos que reconhecem na Europa um importante aliado para a cooperação científica.

2. Lusofonia: A Índia também fala português e o legado cultural em Goa, Damão e Diu é crescentemente visto como uma possível ponte para estreitar laços económicos com os nove países lusófonos em quatro continentes. Na declaração conjunta de Janeiro, a Índia expressou interesse em aderir à CPLP como observador associado. Para além do plano bilateral, interessa à Índia desenvolver com Portugal colaborações estratégicas em países terceiros, especialmente em África e na América Latina, seja para investimentos ou na cooperação técnica.

3. China: A grande ofensiva ocidental de Pequim está a preocupar Nova Deli. Com a crescente influência chinesa na Europa, especialmente via a iniciativa Belt and Road, há o risco de o velho continente sucumbir às garras do dragão. Portugal tem um dos mais altos níveis de investimento chinês per capita na Europa. A Índia procura, por isso, oferecer um contra-balanço em países mais susceptíveis a estas pressões, como a Grécia, a Hungria e Portugal.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

4. António Costa: As origens indianas do PM Costa encaixam perfeitamente na estratégia de Modi focada em realçar o papel da diáspora na emergência da Índia como potência global. A visita de Janeiro foi um sucesso por causa do empenho de Modi em apresentar Costa como filho prodígio de regresso à pátria. Com uma das maiores comunidades indianas na Europa, Portugal espelha uma abertura histórica ao Oriente que Modi procura capitalizar para a sua narrativa de uma Índia apostada em liderar uma nova era da globalização.

5. Confiança: É uma nova Índia que chega este Sábado a Portugal. Menos defensiva e mais confiante em estabelecer parcerias que potenciem mais-valias. É a única grande economia em crescimento acelerado – mais de 7% no ano passado – mas Modi sabe que precisa de criar mais de um milhão de novos empregos por mês para estabilizar uma população com mais de 700 milhões de jovens (65% abaixo dos 35 anos de idade). Nem que seja por via do turismo ou da co-produção cinematográfica, na Índia acredita-se que Portugal pode dar uma ajudinha.

Investigador, Carnegie India, Nova Deli