Já dizia Margaret Thatcher: ‘se queres alguma coisa dita, pede a um homem; se queres alguma coisa feita, pede a uma mulher’. Tinha razão. Nada iguala a capacidade interminável de divagação de alguns homens, apenas com o nobre objetivo de ouvir a sua admirável voz e convencer-se da excelência absoluta e inequívoca dos seus argumentos. Por outro lado, nada bate a capacidade de concretização das mulheres – que as mães apuram.
A razão? Não temos tempo para perder. Uma mãe que trabalhe tem tantas solicitações para o seu tempo que se tornou exímia na sua gestão. À medida que o nosso tempo tem de se esticar para um cada vez maior número de requisições, aproveitamo-lo mais eficientemente.
Um amigo meu blogger e colunista ocasional, Helder Ferreira, empresário dos negócios do surf, diz certeiramente do trabalho das mulheres: ‘A regra é que não perdem tempo com o que não interessa, estabelecem melhor as prioridades e compreendem muito melhor que os homens que o trabalho é um conjunto de tarefas ligadas entre si com método e prazos. Fazem-me sentir seguro, sei que se precisar alguma coisa posso contar com elas.’
Também gosto muito de trabalhar com mulheres que são mães. Além de serem (generalizo, claro) bulldozers a decidirem e despacharem as suas tarefas (têm de ir para casa dar banho à filharada e ajudar com os malditos TPC, ou passar pelo supermercado) não perdem tempo a discutir o omnipresente futebol, nem em guerrinhas de poder – algo tão natural para a parte masculina da humanidade como respirar. As emoções podem explodir no meio dos inevitáveis conflitos, mas sem demonstrações de ego insuflado que são uma especialidade masculina. Acima de tudo, há uma tremenda capacidade para magicar e implementar soluções simples, criativas e eficazes para os problemas que ocorrem.
E, no entanto, o mercado ignora tudo isto. O wage gap, que afeta todas as mulheres, agrava-se para as mulheres depois de terem filhos. Segundo Michelle Budig e Paula England, as mães sofrem uma penalização salarial de 7% por cada filho, sendo apenas um terço explicada por tipo de trabalho e tempos de paragem pela maternidade.
Há fatores, digamos benignos, que explicam este fenómeno. As mães podem deliberadamente escolher profissões com horários mais amigáveis para a vida dos filhos. É possível o enfoque da vida de uma mulher passar a ser a sua prole, em vez da entrega massiva à profissão, com perda de empenho no emprego. Mas estas possibilidades não representam todos os casos de mães que trabalham, nem esgotam o fenómeno da motherhood penality.
Outra razão explicativa para a diferença salarial pode ser uma menor produtividade resultante do cansaço por acumular a maioria das tarefas domésticas – algo que se tem esbatido, sobretudo nos casais urbanos, mais escolarizados e mais novos, mas que subsiste. Também por culpa das mulheres, já que lhes cabe pararem de desempenhar o papel de empregadas domésticas dos seus maridos e namorados. Se o seu adorável amor não participa equitativamente nas tarefas de casa e dos filhos, bem pode ficar com a roupa por lavar e por engomar até aprender, não?
Resta sempre a explicação do preconceito contra o trabalho feminino e a discriminação. Que é mascarada de racionalidade, apresentada como consequência dos fatores atrás descritos, e jamais assumida, mas não pesa menos na hora de promover uma mãe versus uma mulher sem filhos ou um homem. Sendo que para os homens, apesar de também tirarem tempo para as consultas do pediatra e para as festas de Natal e, até, partilharem as noites por dormir, a paternidade lhes traz um bónus salarial.
Em se tratando de mães, todas as desculpas se aproveitam para julgar as mulheres como pouco empenhadas na profissão ou incapazes. Num estudo que conclui pela existência de discriminação das mães no trabalho, Shelley J. Correll, Stephen Benard e In Paik verificam que as mães são julgadas mais estritamente quanto à pontualidade e à performance que outros colegas. Ou que, em CV iguais, acrescentar a informação de que uma mulher tem filhos reduz-lhe as possibilidades de ser contratada ou promovida. A reincidente Budig encontrou correlação entre a visão negativa do impacto do trabalho das mães nas crianças e a penalização de maternidade de cada país.
Bom, assumir a existência de um problema é o princípio da sua resolução, mas não é suficiente. Pelo que vamos às contas, que urge combater a ideia pacóvia e sexista de que uma mulher decente é um ser etéreo que não se interessa por vulgaridades como um ordenado avultado.
As mulheres terem filhos é de interesse para qualquer país. Historicamente os períodos de decadência são acompanhados de declínio demográfico. O crescimento da população tem impacto positivo no dinamismo económico e cultural. Enquanto a segurança social usar, em cada momento, as contribuições de quem trabalha para pagar a quem está reformado, os nascimentos beneficiam até quem não tem filhos: no futuro vão pagar-lhes a reforma. Pelo que as mulheres terem filhos deve ser visto como uma externalidade positiva na economia de um país. Da mesma maneira que é uma externalidade positiva a vacinação e a educação das crianças, fazendo sentido que o estado contribua financeiramente para ambos.
Donde: enquanto as mulheres forem financeiramente prejudicadas na sua carreira por terem filhos, é bom que a comunidade que beneficia da existência de crianças calcule (via Estado) bonificações fiscais a oferecer a mães com profissão, para compensar no rendimento disponível a perda de rendimentos que a maternidade traz. Seria bom também a direita (a minha área política) perceber que milhares de jovens mulheres eleitoras se vão deparar brevemente com esta distorção do mercado de trabalho, e oferecer-lhes uma solução. Às vezes fazer o correto traz ganhos eleitorais.