Nota: 11

Em apenas sete meses, conseguiu gerar uma onda de insubordinação nas Forças Armadas, verbalizada com violência por generais reformados, por causa da forma como lidou com o caso da discriminação por orientação sexual no Colégio Militar. Cometeu um erro de principiante. Uma manifesta ausência de sentido político e de conhecimento prático (não teórico) da cultura militar levou José Alberto Azeredo Lopes a manchar o seu arranque como membro do Governo numa pasta tão sensível com um erro desnecessário. Ministros da Defesa sem experiência de política e de relação com a tropa cometem facilmente falhas a este nível, que no caso levou à demissão do Chefe do Estado-Maior do Exército.

Azeredo Lopes aprendeu muito, de certeza, com esta escorregadela. Mas membros do Governo que aprendem através de tentativa e erro não ajudam muito, sobretudo em áreas de soberania. O desconhecimento ou displicência em relação à cultura militar tem sido manifestada pelo ministro pela forma como se apresenta: passar revista às tropas sem gravata ou com a gravata mal apertada, ou com um ar desleixado tem efeito nos militares. Se os graduados exigem aprumo rigoroso na formatura, não deixa de ser notado internamente que no topo da hierarquia está alguém que não liga a essas coisas sem importância para os civis.

Era de evitar, porque Azeredo Lopes obteve vitórias políticas importantes que passaram despercebidas. Só o facto de ter conseguido que a Lei de Programação Militar e as verbas para as Forças Nacionais Destacadas não fossem alvo de cativações por parte do Ministério das Finanças era, em si, um facto da maior relevância para as Forças Armadas. Perante um ministro das Finanças que aposta nas cativações e na retenção dos saldos a transitar para garantir uma boa execução orçamental, conseguir ter a totalidade das verbas para dar continuidade à modernização dos ramos é uma batalha ganha e um sinal positivo para os próprios militares. Em 2015, por exemplo, o Governo de Passos Coelho aprovou um corte de 33% na LPM. E era habitual haver cativações da ordem dos 20% em anos menos problemáticos.

Por outro lado, não conseguiu ainda desbloquear as promoções e não deu sinais sobre o que fazer à Empordef, a holding das indústrias de Defesa que o Governo anterior queria extinguir. Apareceu pela primeira vez numa posição privilegiada, esta semana, a enfatizar a participação portuguesa na construção dos aviões de transporte KC-390 da Embraer, para substituírem os Hércules C-130, enquanto também deu luz verde ao MLU (mid-life upgrade) das atuais aeronaves da Força Aérea Portuguesa. Uma nota: apesar de os seus antecessores terem quase todos acabado em ministros dos Negócios Estrangeiros, mesmo sendo especialista em Relações Internacionais, não tem cedido à tentação de andar a trabalhar nesse sentido, pelo menos de forma muito evidente.

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