Menos Matemática e menos Português. Mais ideologia e muita conversa da treta ou seja o regresso da Cidadania e Área de Projecto. À primeira vista é o que se oferece dizer sobre as mudanças curriculares agora anunciadas. Claro que também se pode acrescentar que se adivinha promissor o negócio das explicações de Português e Matemática e dos colégios particulares (os tais que a abastada esquerda caviar diz escolher não por causa dos bons resultados mas sim por causa dos horários ou até por simples acaso, como sucede com a senhora secretária de Estado da Educação cujas filhas frequentam por acaso, mas só por acaso, uma escola alemã) pois as disciplinas de Cidadania e a Área de Projecto não servem para nada de nada a não ser, claro, para doutrinar as crianças e jovens.
Como é óbvio a quem tenha minimamente acompanhado o que se ministra nessas aulas, elas versam as maravilhas do socialismo ou melhor dizendo denunciam a infâmia do capitalismo e da indústria, exaltam o regresso a uma economia de trocas, a superioridade das causas fracturantes do momento e, como ensina a experiência de quem foi encarregada de educação nos tempos em essas disciplinas existiam, afectam horas e horas à problemática da turma, o que está a acontecer à turma, o que vai fazer a turma…
O ataque às escolas com contrato de associação já o anunciara: não são os resultados escolares que importam ao Ministério da Educação, mas sim garantir o poder da corporação do senhor Nogueira e do PCP e fazer da sala de aula um espaço de ideologia à espera das causas inventadas e por inventar pelas agremiações que pululam em torno de BE e do PS.
Mas o fenómeno que estamos a viver é muito mais amplo que uma simples mudança curricular. E está longe de se restringir à Educação. Se repararmos, em nome de causas apresentadas como progressistas, todas as semanas vemos crescer, qual polvo, dentro do Estado, os tentáculos da ideologia: uma semana são os curricula que perdem conteúdos para dar lugar aos comportamentos; na outra as comissões para avaliar o racismo e o que é o racismo e porque não há queixas por racismo; na outra e na outra, que o assunto é muito sério e rentável, a reversão da legislação do trabalho, oficialmente sempre em nome dos trabalhadores e na prática um esquema em que estruturas cada vez menos representativas tratam de blindar o seu monopólio na contratação colectiva.
Dos efeitos devastadores da actividade dos comissários-tentáculos não me restam dúvidas, seja nas escolas, seja na legislação laboral, seja na saúde, seja nesses bairros das periferias onde, certamente inspirados pelo exemplo francês, activistas vários tentam criar casos que uma comunicação social cada vez mais a trabalhar nas redes sociais e menos na rua transmite sem qualquer noção da realidade. (Quando foi a última vez que um jornalista foi ao Bairro 6 de Maio na Damaia sem ser tutelado por um activista, cientista social ou membro de uma associação?)
O controlo ideológico das decisões técnicas, que há anos parecia impossível, acontece agora sem gerara quaisquer perguntas. Veja-se, por exemplo, o caso da integração dos gays na população de risco para dádiva de sangue: a Direcção-Geral de Saúde defende que existe risco ou pelo menos defendia até 17 deste mês. Mas os “activistas” e o polvo ideológico defendem que não e basta tal acontecer para que logo apareçam os títulos que fazem a desgraça de qualquer ser com existência pública. Resultado, a DGS mudou as suas normas. Discussão sobre o assunto? Nenhuma. Há risco? Não sabemos.
É este polvo, muito mais do que a economia ou as finanças, que vai condicionar Portugal nos próximos anos. Porque mesmo quando a geringonça se desfizer, eles, os comissários, vão ficar lá, blindados nas funções criadas à sua medida, nos seus cargos ideológicos, nos seus programas que implicam sempre mais programas. O dízimo que Costa está a pagar à esquerda radical vai atrasar-nos anos e anos e aumentará em muito a conflitualidade pois o preço da descrispação presente é a enorme crispação futura que teremos de suportar. Por cada dia de silêncio e descrispação é mais uma comissão nomeada, um programa aprovado, um plano equacionado. Todos durante anos e anos vão determinar não só o que podemos fazer mas também o que devemos pensar e sobretudo o que devem pensar os nossos filhos e netos.
E aqui chegamos ao que me intriga: como vai ser o pós-polvo? Ou melhor dizendo, como vai ser o momento em que a geringonça sair do governo e lá deixar, trabalhando para si, o polvo? Voltaremos ao tempo em que os ministros da Educação viviam sitiados na 5 de Outubro? Provavelmente sim mas sobretudo veremos como esse estado dentro do estado, na verdade a sua casta, usará todos os meios ao seu alcance para manter os seus privilégios e poderes não escrutinados e desse modo prolongar a geringonça muito para lá da sua vida eleitoral.
Que governo lidará ou pactuará com isto? Terá o centrão de regressar para desalojar o polvo? Não sei. Mas sei que seja quem for não vão ser tempos fáceis de viver.
PS. Curiosamente quanto menos sei sobre um futuro governo mais claro se me afigura o que pode acontecer na Presidência da República: caso se consiga demitir a tempo – ou seja antes de se tornar óbvia a fatura da reposição e das reversões – e com uma boa desculpa, muito provavelmente António Costa será candidato nas próximas presidenciais e ainda mais provavelmente ganhará pois Marcelo, mesmo que conte com a indiferença do PSD, dificilmente contará com o voto dos eleitores do PSD ou do CDS.