1. Passámos um ano a ouvir que Passos Coelho não sabia fazer política. Os nossos especialistas afirmavam que andava perdido depois de ter sido um vencedor-derrotado das últimas eleições, havia quem notasse que ainda se julgava PM e, no seu partido, muitos observavam que não conseguia estar na oposição. Ao mesmo tempo, sobravam os elogios ao talento político de António Costa. Muitos que o atacam pelo seu oportunismo reconhecem a sua habilidade política. Quanto ao Presidente Rebelo de Sousa, só se ouvem elogios ao seu brilhantismo político. Em suma, Costa e Marcelo sabem fazer política, enquanto Passos sabe executar programas desenhados em Bruxelas, mas falta-lhe rasgo político.

Ora, Passos resolveu finalmente fazer política e é agora acusado de oportunismo. O que em Costa é habilidade e talento, em Passos transforma-se em manobras da baixa política. É preciso muito descaramento e uma completa falta de vergonha. Costa colocou a sua artilha pesada a atacar o oportunismo político e a falta de seriedade de Passos Coelho. É hilariante assistir o PS a acusar Passos e o PSD de oportunismo. Marcelo disse ao Expresso que tinha ficado “furioso”. Mas as fúrias do Presidente não duram mais de um, dois dias, e na segunda feira já o veremos a rir-se e a dar beijinhos numa cerimónia qualquer. Além disso, Passos não tem ar de se assustar com as fúrias de Rebelo de Sousa. No fundo, o que Marcelo e Costa querem é ter o exclusivo da política em Portugal. Eles fazem política com inteira liberdade e Passos seria o notário de Costa para quando a sua habilidade é insuficiente para convencer o PCP e o BE, e a reserva de Marcelo para o caso de tudo correr mal e ser necessário alguém para voltar a impor austeridade ao país – e o Presidente sabe que se o diabo vier a habilidade política deixará de ser suficiente e a coragem e determinação de Passos podem ser necessárias.

Com os seus adversários a tentarem anular Passos como um líder político, o líder do PSD teria mesmo que reagir. Pelas suas últimas intervenções, Passos terá finalmente encerrado o seu período de luto e terá começado a combater politicamente. O líder do PSD está a executar a única estratégia possível: expor as divisões, as fraquezas e os limites da geringonça. Não pode fazer outra coisa. Ou seja, e já não era sem tempo, a sua ação política está de acordo com o seu discurso. Se o PSD ajudasse o governo votando a favor da TSU, perderia toda a credibilidade para atacar a geringonça. Seria colocar-se numa posição de parceiro menor de um bloco central que serviria para substituir a geringonça sempre que a habilidade política de Costa fosse insuficiente. É isso que o PSD quer? A redução ao estatuto de parceiro menor do PS cada vez que a geringonça não funciona?

Costa prometeu a todos os portugueses que a geringonça seria uma maioria política estável e confiável. Isso significa que não precisa nem do PSD nem do CDS para governar. Sei que não é fácil para Costa cumprir as suas promessas, mas o regresso de Passos à política coloca-o sob pressão. O PM terá que demonstrar que a geringonça continua a ser uma maioria estável. E há aqui um teste fundamental para o futuro da política portuguesa. Quando o PSD está com o CDS no governo, não precisa de pedir ao PS para aprovar medidas por falta de comparência dos democratas-cristãos. Se o PS precisa do PSD quando se alia aos comunistas e aos bloquistas, então a geringonça ainda não tem a maturidade suficiente para governar Portugal. Cresçam, sejam responsáveis e aprendam a governar sem pedirem ajudas ao PSD e sem fazerem queixinhas. Passos voltou a fazer política. Habituem-se.

2. Na semana do Congresso dos jornalistas, duas notas lamentáveis sobre dois jornais portugueses. O Diário de Notícias saneou Alberto Gonçalves pelas suas posições políticas. Está tudo dito sobre o respeito pela liberdade de opinião. Nos Congressos defendem a liberdade, na gestão diária dos jornais violam essa mesma liberdade. Quem diria que o DN voltaria aos saneamentos de 1975?

O Público continua o seu papel de defensor oficial da geringonça e sempre pronto a atacar Passos Coelho, como o tem feito sem qualquer pudor durante o último ano. Nas páginas sobre política nacional, não há notícias. São opiniões do princípio ao fim. Um jornal socialista que vive à custa de um mecenas. Se fosse jornalista do Público, teria vergonha. Nem sequer são capazes de se pagaram a si próprios. Parecem aqueles meninos mimados que vivem à custa dos Pais ou de um Tio rico.

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