Finalmente fala-se deles, dos refugiados venezuelanos. Não tanto por eles mesmos mas sim porque no Brasil e na Colômbia o fluxo crescente de pessoas que deixam a Venezuela fez soar as campainhas de alarme. Nos jornais do Brasil e da Colômbia os refugiados venezuelanos são agora referidos todos os dias: “Venezolanos, la migración más grande en la historia de Colombia”; “Brasil discute possibilidade de barrar entrada de refugiados venezuelanos”; “Pedidos de refúgio de venezuelanos no Brasil quadruplicam em dois anos”; “Nuevas medidas para venezolanos buscan llegada más organizada”… Enfim o habitual em qualquer zona do mundo confrontada com uma chegada massiva de refugiados com a diferença que por aquelas bandas e neste particular assunto não vigora a censura do costume e portanto temos títulos como “Onda de imigrantes da Venezuela pode gerar crise em Roraima”; “En Atlántico crece número de enfermedades por inmigrantes venezolanos”; “Atracos, el lado oscuro del éxodo de los venezolanos”…

A crise na Venezuela não surpreende. Ela era mais que anunciada. Afinal serem pobres e perseguidos não para sempre mas enquanto não se conseguirem desembaraçar dos seus auto-proclamados libertadores tem sido o destino de todos os povos que caem nas mãos dos construtores da igualdade. Aliás também já sabemos o que vem a seguir: a culpa é do Maduro porque, vão dizer, se o Chavez não tivesse morrido tudo teria sido diferente. A culpa é dos países vizinhos que não estão a ser solidários com o governo da Venezuela ou que não apoiam os seus refugiados (Os dois argumentos só aparentemente são contraditórios pois em ambos os casos desculpam o governo da Venezuela). A culpa é do petróleo quando é mais barato porque gera menos receita.A culpa é do petróleo quando é mais caro  porque gera mais receita e torna o governo mais dependente do petróleo. A culpa é dos EUA e obviamente de Trump.(Antes de se usar este argumento convém recordar que o esforço colocado pela administração Obama na melhoria das relações com Cuba visava entre outras coisas fragilizar o governo venezuelano que mimoseava o então presidente norte-americano com epítetos como “o negro” e “palhaço”). A culpa é da oposição venezuelana que não é alternativa… Enfim a culpa será de todos mas nunca dessa fraude ideológica representada pelo socialismo.

Valha contudo a verdade que na tragédia que se está a viver na Venezuela existem outros culpados além da camarilha grotesca que se governa enquanto faz de conta que governa aquele país. E esses culpados são os cúmplices do costume em Portugal representado pelo PCP ou pelos radicais e terroristas espanhóis transformados em assessores do governo venezuelano. (Nesta galeria de horrores temos em Portugal além dos comunicados do PCP apoiando “o processo libertador bolivariano” a inauguração em 2016, repito 2016, na Amadora, da Praça Hugo Chavez). Mas os principais culpados estão na esfera democrática porque são eles e a sua condescendência face a qualquer um que integre no seu discurso expressões como combate à pobreza, solidariedade, apoio aos mais pobres, combate às injustiças e às desigualdades, reforço do papel do Estado nas políticas sociais… que tornaram possível que a Venezuela tenha passado de país que recebia imigrantes a país de emigrantes e refugiados. De país que exportava a país onde falta tudo. Na verdade basta usar a língua de pau do socialismo para se gozar do benefício da dúvida dos jornalistas e das organizações internacionais, todos sempre tão angustiados com a falta de condições de vida no mundo capitalista. Só este apoio implícito a tudo o que transpire socialismo-estatismo tornou possível que entidades como a FAO premiassem em 2013 e 2015 o governo de Maduro pelas suas políticas de combate à fome e à pobreza. Aliás durante anos a FAO só viu e estou a citar “progressos notáveis e excepcionais” na luta contra a fome na Venezuela 

Na página da FAO dá-se como bom exemplo  da política de combate à fome levada a cabo pelo governo venezuelano a rede estatal de supermercados onde o subsídio aos preços chegava a atingir os  78,7%. Não é preciso ser especialista em alimentação para perceber que aquilo que tanto inebriava a FAO — 22 mil pontos estatais de abastecimento de que dependiam ou foram tornadas dependentes 17,5 milhões de pessoas com preços ditados pelo governo — pode servir como serviu para ganhar eleições mas alimentarmente falando só podia acabar na tragédia da fome.

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A lista de prémios e elogios aos governos de Chavez e Maduro pelas suas políticas sociais é aliás extensa e resistiu ao grotesco discursivo de Chavez, às imagens das prateleiras vazias nos supermercados (resultado da especulação dos merceeiros); às denúncias da oposição (gente ligada à CIA); à destruição das empresas (incapazes de se adaptar às mudanças)… Até que como invariavelmente acontece nas diversas marchas para o socialismo em qualquer lugar do mundo, o povo — sim, o povo esse em nome de quem se faz o socialismo— se pôs a caminho e fugiu da revolução.

Parafraseando Juan Carlos e o seu célebre Por qué no te callas?  dirigido a Hugo Chavez, temos de perguntar Por qué se han callado? por esse mundo fora durante tanto tempo técnicos, políticos, dirigentes de organizações internacionais perante o caminho que a Venezuela estava a tomar? Pelas mesmas razões por que se calaram quando no lugar da Venezuela estiveram Angola, o Vietnam, a  Coreia do Norte (sim, sim a Coreia do Norte já foi um país exemplar face ao covil  representado pela Coreia do Sul), o Cambodja…: porque para muitos  o socialismo é o regime que defendem ou que não defendendo apenas porque o acham inalcançável  reconhecem como moralmente superior (Ah, já me esquecia, a Praça Hugo Chavez na Amadora foi aprovada por maioria numa comissão de toponímia integrada pelo PS, CDU e coligação Amadora Mais PSD/CDS-PP).

Ps. Prémios Machismo do Ano, Exploração do Trabalho Infantil e Vamos Lá Ver Se Não Há Pedófilos Por Ali: a substituição nas provas de Fórmula 1 de modelos feminininas devidamente pagas para o efeito por crianças presume-se que a título gratuito.