O Presidente russo, Vladimir Putin, não para de recorrer a termos herdados da Segunda Guerra Mundial para caracterizar as acções dos seus adversários, o que é mais uma prova de que o documento revelado pelo jornal russo Novaya Gazeta é real e verdadeiro.

Nesse documento, elaborado para o Kremlin em meados de Fevereiro de 2014, quando Victor Ianukovitch era ainda Presidente da Ucrânia, previa-se uma campanha de difamação contra o governo que o viesse a substituir em Kiev, com o emprego de palavras como “nazi”, “fascista”, etc.

Na quarta-feira, ao criticar as autoridades ucranianas por não quererem pagar o gás fornecido pela Rússia aos separatistas do Leste da Ucrânia, ele disse que “isso cheira a genocídio”. Antes, a linguagem anti-fascista e anti-nazi serviu também a Putin para anexar a Crimeia e desestabilizar a situação no Leste da Ucrânia.

Outra prova de que o documento foi e continua a ser realizado está no aumento de intensidade de actos terroristas em Kharkov (Cracóvia) e nas ameaças dos separatistas avançarem para Mariupol. Segundo esse documento, a desestabilização da situação em Kharkov e noutras regiões do Leste e Sul da Ucrânia devia ser feita através da criação de organizações e movimentos que exigissem mais autonomia.

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O objectivo é bem claro: “é necessário preparar condições para a realização na Crimeia e Região de Kharkov (e, depois, noutras regiões) referendos que coloquem a questão da autodeterminação e da posterior possibilidade de adesão à Federação da Rússia”.

É natural que os fervorosos apoiantes de Putin em Portugal e noutros países já vieram afirmar que esse documento é uma “falsificação”, mas as pessoas sensatas compreendem que estamos perante um regime que está disposto a ir muito longe para conseguir os seus objectivos.

Ao ameaçar de fornecer gás à Ucrânia, Putin ameaça a União Europeia também com o “fecho da torneira” desse combustível. Ao realizar manobras militares junto da fronteira com a Estónia, país membro da NATO, o Kremlin não quer apenas mostrar que é forte, mas também que pode empregar a força quando achar necessário.

Outro elemento importante desta crise é que Moscovo só ouve quem e quando lhe convém. Se a Organização para a Segurança e Cooperação na Europeia critica alguma acção do governo de Kiev, é “independente”, mas se não confirma, como fez na véspera, o afastamento do armamento pesado pelos separatistas da linha de combate, passa a ser “não objectiva”. O mesmo se passa em relação às Nações Unidas.

Os dirigentes da União Europeia continuam a fazer de conta que Putin é um parceiro com quem se pode falar e chegar a acordo, política que tem tido resultados desastrosos. O Kremlin quer recortar uma vez mais o Velho Continente à sua maneira, o que poderá ser mais um contributo para o fim da União Europeia.