O poeta brasileiro, ensaísta, diplomata e historiador especialista em cultura africana Alberto da Costa e Silva foi distinguido com o Prémio Camões, a distinção mais importante da criação literária em língua portuguesa. O anúncio foi feito esta sexta-feira, em Lisboa, pelo júri, composto por Rita Marnoto, professora universitária, José Carlos Vasconcelos, jornalista, e os escritores Affonso Romano de Sant’Anna, António Carlos Secchin, José Eduardo Agualusa e Mia Couto, vencedor em 2013.

O júri justificou a escolha, por unanimidade, pela “elevada qualidade em todos os géneros” literários, aos quais Costa e Silva se dedicou, e salientou também a sua “escrita refinada”, que construiu “pontes entre os povos”.

“Ficou pasmado”. Foi assim que reagiu Costa e Silva quando soube da distinção por telefone. A revelação chega através do escritor Romano de Sant’Anna em declarações à Agência Lusa. Sant’Anna louvou a “modéstia, integridade e honestidade” do vencedor do reputado prémio. Sant’Anna realçou ainda o facto de Costa e Silva ter sido um “homem que trabalhou nos três continentes [América, África e Europa]”, e deixou claro que esta distinção “reforça a presença da Língua Portuguesa no mundo”.

Para Mia Couto, este “é o trabalho de alguém que se encaminha pela história, mas com qualidade literária”. Para o autor moçambicano, Costa e Silva “resgatou a memória dos laços entre África, o Brasil e Portugal, mas com arte e elegância”, afirmou.

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Francisco Seixas da Costa, antigo embaixador de Portugal no Brasil, recebeu a notícia com grande entusiasmo. “Acho magnífico, uma grande decisão e atribuição”, disse o atual empresário ao Observador. Alberto da Costa e Silva “é uma grande figura da cultura brasileira” e “um grande, grande amigo de Portugal”, acrescentou.

José Carlos Vasconcelos, um dos elementos do júri e alguém com uma relação próxima do escritor, teceu rasgados elogios ao vencedor do Prémio Camões. “Foi uma decisão unânime. É uma grande figura da cultura brasileira e da língua portuguesa. É um poeta, ensaísta, historiador. É um grande especialista da História de África”, começou por dizer José Carlos Vasconcelos, o diretor do Jornal de Letras, ao Observador. E continuou: “É um grande amigo de Portugal. Foi muito importante para os africanos pelo seu estudo. É muito completo, não tem uma obra vasta mas tem muita qualidade.” O elemento do júri garante que a relação pessoal não tem qualquer influência neste tipo de processo, já que se conhecem todos e a obra está à vista. “Somos amigos desde sempre. É uma das pessoas mais admiradas pela sua dimensão humana e pela sua cultura”, concluiu.

Alberto da Costa e Silva nasceu em São Paulo, em 1931. Membro da Academia Brasileira de Letras, que presidiu entre 2002 e 2003, é correspondente da Academia de Ciências de Lisboa e o décimo primeiro escritor brasileiro a ser distinguido com o Prémio Camões.

Diplomata, foi embaixador do Brasil, na capital portuguesa, de 1989 a 1992, seguindo então para Bogotá, na Colômbia, depois de ter ocupado cargos de representação em diferentes capitais, como Caracas, Roma ou Washington. Fez parte do júri do Prémio Camões nas edições de 2001, 2003 e 2013.

“Um rio chamado Atlântico”, “Perfis Brasileiros”, “Livro de linhagem”, “Linhas da mão” e, para os mais novos, “Um passeio pela África” e “A África explicada aos meus filhos”, contam-se entre as suas obras.