Diz que na primeira conversa que teve com Passos Coelho falaram da necessidade de manter um SNS “como a Constituição previa”, com a óbvia condição de “fazer reformas sérias”, em cima da agenda “ambiciosa da troika”. Numa entrevista a Maria João Avillez, o ministro da Saúde mostra-se satisfeito (“O SNS conseguiu responder numa altura de crise”). Mas não o suficiente para ficar descansado.

“Temos demoras demasiadas no SNS, é um problema que ainda não conseguimos resolver. Na Saúde todos os dias temos notícias alarmantes – alguém que põe uma notícia, algum facto que surge. Há uma parte dos casos que são absolutamente verídicos. A Saúde tem diversos problemas em Portugal”.

Um desses problemas é o da falta de recursos: “Precisamos de mais”. Outro é o do investimento de que o setor ainda precisa – consequência da crise, do envelhecimento da população e dos novos recursos (tecnológicos e ao nível de medicamentos) que vai ser preciso ir buscar.

E vai ser preciso mudar de modelo na saúde? “O preço da tecnologia vai ser determinante. O futuro da saúde tem que ser pensado. Com este modelo que é financiado pelos nossos impostos, tem que se pensar como se vai fazer frente a este aumento de custos. Há ineficiências a corrigir, mas isto tem limites. Temos de pensar como o vamos financiar. E temos de estar pelo menos tão preocupados com isto como com a sustentabilidade do sistema de pensões.”

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reforma hospitalar só acaba com o próximo governo

Paulo Macedo reconhece que tem ainda desafios grandes pela frente. Como “implementar a reforma hospitalar”. “Demora mais de uma legislatura”, alerta. “Temos também de ir a áreas nucleares, mas intermédias.”

Mas o ministro recusa uma “visão catastrofista” do SNS. “Temos hoje mais médicos, mais cirurgias, menos demora média nas cirurgias, maior acesso a medicamentos. Em algumas medidas fomos para além da troika, mas no bom sentido: não estava previsto a baixa do preço dos medicamentos para as pessoas. Se não tivéssemos tido isso – com impacto para o Estado”, reafetando a outras áreas, “o acesso dos mais vulneráveis ficaria muito mais afectado”, anota.

“Provou-se de uma vez por todas, todos os profissionais de saúde concordam hoje que é possível fazer melhor, fazer mais. Sabe-se que isto não é ilimitado, que na Saúde temos que investir em áreas que nos consomem mais recursos que no passado, como os cuidados continuados, a parte da inovação tecnológica – sem pôr em causa a sustentabilidade do SNS. Em muitas dessas áreas tivemos de reduzir o custo da prestação de serviços, para não diminuir o número de serviços. Conseguimos continuar a prestar cuidados num ambiente de crise, com os problemas que tínhamos na Saúde”, explica Paulo Macedo.

estado precisa de melhores negociadores

As dificuldades, porém, existem e continuarão no caminho. E o ministro da Saúde alerta para uma em particular, para a qual diz já ter alertado o primeiro-ministro: “O Estado tem que ter muito melhores negociadores. Está a negociar sempre com privados, que têm equipas profissionais. Do lado do Ministério temos pessoas competentes, mas que não são da área da negociação. O PM está consciente que temos um problema de estar a remunerar pior os dirigentes mais qualificados – os mais afetados, que ficaram pior face ao setor privado. Como sociedade temos que o resolver. O Estado não pode ter os piores negociadores.

Para os administradores e clínicos do Hospital de São João, que têm suspenso o seu pedido de demissão para ver se o Ministério cumpre as suas promessas de autonomia e investimento, Macedo dá um sinal de tranquilização: “Tem que se dar progressivamente maior autonomia aos serviços. Tem que haver uma maior autonomia em relação aos hospitais equilibrados. São das entidades de maior complexidade do ponto de vista da gestão. Na Saúde falamos muito dos profissionais, médicos, do que fizeram. A resposta tem vindo deles, mas também dos dirigentes”, os mesmos que viram o salário cortado. “E isso tem de ser reconhecido e, a seu tempo,  tem que ser recompensado monetariamente”, promete.

E no fim de contas, fez-se o suficiente? “Não, seguramente”, reconhece o ministro.