É daqueles que ao fim de dois ou três dias de praia está completamente bronzeado? Ou nem que passasse um verão inteiro deitado na areia não ganhava mais do que um tom café com leite? Apesar de serem dois tipos de pele diferentes e que, portanto, têm uma diferentes sensibilidades ao Sol, qualquer um deles precisa de se proteger da radiação solar em excesso. Um estudo publicado esta quinta-feira na Nature vem “validar as campanhas de saúde pública que promovem o uso de protetor solar para proteger os indivíduos em risco de melanoma”.

“A vida ao ar livre e a exposição solar é saudável”, diz ao Observador Joaquim Abreu de Sousa, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO), acrescentando que o Sol ajuda o organismo a produzir vitamina D essencial na regeneração da pele ou no equilíbrio do cálcio. Precisamos de Sol, só não devemos expôr-nos quando ele está mais a pique – quando temos de olhar para cima para o localizar no céu -, mais ou menos entre as 12h e as 15h.

As recomendações sobre as horas em que se deve evitar a exposição ao Sol não se restringem à praia, mas também à esplanada, a um passeio na rua ou ao caminho que faz até chegar ao trabalho. Portanto evite ter a pele exposta: cubra-a com roupa ou com um protetor solar. Joaquim Abreu de Sousa explica que exposição solar prolongada ao longo da vida, como nos pescadores ou trabalhadores rurais, pode levar ao aparecimento de um carcinoma basocelular – o mais comum, mas também o menos letal dos cancros de pele.

No extremo oposto, estão os melanomas, muitas vezes letais e capazes de criar metastases – focos secundários do cancro em locais distantes do organismo -, nos quais a exposição solar pode ser um factor que leva ao desenvolvimento do tumor, mas não o único. “Há melanomas que aparecem em zonas que não estão expostas à radiação solar”, refere o médico, acrescentando que, de qualquer forma, é sempre melhor usar protetor do que não usar.

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“A incidência de melanoma é maior nos países sun belt – Canadá, Estados Unidos, África do Sul e Austrália”, nota o presidente do SPO, não só por causa da forte radiação solar, mas também pela falta de adaptação da população ao meio ambiente – os habitantes originais não eram os brancos caucasianos que atualmente vivem nessas áreas.

Atenção aos sinais

Além da radiação solar, o fator genético e hereditário tem de ser tido em consideração – uma pessoa deve ficar alerta se houve casos na família. Também a existências de nevos, vulgarmente chamados de sinais da pele, exige vigilância. São sete os tipos de alterações no nevo que servem de aviso para ir ao médico: assimetria, dificuldade em distinguir o bordo, mudança na cor, aumento do diâmetro ou elevação, também se o nevo sangrar ou der comichão.

BETHLEHEM, WEST BANK - DECEMBER 7: With his unique birthmark showing, 16-day-old Palestinian infant Alaa Ayad is tended to by his grandmother Aysha Ayad in their family home December 7, 2003 in Aida refugee camp in the West Bank town of Bethehem. Palestinians are hailing Alaa as a miracle baby saying the birthmark across his cheek roughly forms in Arabic letters the name of his uncle, Alaa, a Hamas militant killed by Israeli troops eight months earlier. Baby Alaa was born on November 21, 2003 and his uncle killed on March 25, 2003. (Photo by David Silverman/Getty Images)

Os sinais de nascença são muito raros, mas devem ser retirados pelo potencial de desenvolverem melanoma – David Silverman/Getty Images

Os nevos não são mais que lesões cutâneas localizadas nos melanócitos – células que produzem pigmento. Qualquer nevo atípico deve ser retirado, assim como os nevos congénitos (que nascem com a pessoa), porque o risco de desenvolverem um tumor é grande, avisa Joaquim Abreu de Sousa. “Os nevos congénitos têm 20 vezes mais risco de desenvolver melanoma.” O médico acrescenta que é muito raro um bebé nascer com sinais, aparecem sobretudo durante a adolescência e idade adulta e vão desaparecendo à medida que se vai envelhecendo.

O médico reforça que a prevenção é fundamental, especialmente nas crianças: “Um escaldão na infância ou adolescência tem quase duas vezes mais risco de provocar melanoma 10 ou 20 anos depois do que na população em geral”. Mas lembra que o protetor solar “não é infalível” e que outras precauções devem ser tomadas, como vestir roupa opaca – os fatos de licra usados pelos surfistas são um bom exemplo.

A investigação realizada por cientistas dos Institutos de Investigação em Cancro de Manchester e de Londres confirmam a incapacidade do protetor solar evitar totalmente o melanoma, apesar de comprovarem que pode retardar o aparecimento. Assim os investigadores recomendam que seja combinado com outras estratégias de proteção.

Mesmo sem serem totalmente eficazes, os protetores conseguem melhores resultados do que até aos anos 1990, quando falhavam na proteção contra a radiação UVA que penetra mais profundamente na pele.

Espinhas de peixe dão filtros solares

A desenvolver um material de capaz de absorver ambos os espectros de radiação – UVA e UVB – encontra-se uma equipa liderada por Clara Piccirillo, investigadora na Escola Superior de Tecnologia da Universidade Católica Portuguesa. Pela primeira vez a hidroxiapatite é usada como filtro solar – depois de misturada com ferro, responsável por absorver as radiações. A vantagem é que a matéria-prima é natural – espinhas de bacalhau – e o composto já existe no organismo, refere a investigadora ao Observador.

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Espinhas de bacalhau, a matéria-prima e fonte de hidroxiapatite – Clara Piccirillo/Escola Superior Biotecnologia, Universidade Católica Portuguesa

O objetivo do projeto é a “valorização de subprodutos da indústria alimentar”, explica Clara Piccirillo, referindo que as espinhas de bacalhau são um subproduto muito abundante. “Matéria-prima não falta. Portugal é o primeiro consumidor da Europa e do mundo de bacalhau.” As espinhas, que são normalmente usadas para fazer farinha de peixe, podem ver o seu valor de mercado aumentar se foram usadas em próteses – um trabalho já realizado por esta equipa – ou como filtro solar.

A equipa ficou satisfeita com os resultados na capacidade de absorção da radiação. “Poucos materiais conseguem ter uma absorção num intervalo [de comprimentos de onda] tão grande. Ainda não testámos o fator de proteção, mas quanto maior o fator de proteção, maior a absorção do material”, explica Clara Piccirillo.

O próximo passo será integrar este composto num creme para poder ser usado como protetor solar. Os primeiros testes, em que o pó de hidroxiapatite foi incorporado num creme, já foram feitos, revelando que são eficazes na absorção da radiação e que não causam irritações na pele ou outras reações negativas.

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Três formulações de cremes solares com diferentes concentrações do pó de espinha de bacalhau com ferro – 5, 15 e 20% (a partir da esquerda) – Clara Piccirillo/Escola Superior Biotecnologia, Universidade Católica Portuguesa