A declaração de emergência feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS) coloca o Ébola no topo das prioridades de saúde a nível global. Ao mesmo tempo Marie-Paule Kieny, número dois da OMS, disse ser “realista” esperar por uma vacina preventiva contra o Ébola em 2015. De seguida o chefe da Imunização da mesma entidade declarou à rádio francesa RFI que “sendo esta uma emergência, temos de aplicar procedimentos de emergência, de modo a atingir o objetivo em 2015”. Em causa está um tratamento experimental nas mãos da Glaxo SmithKline, iniciado em 2013 e que tem mostrado resultados muito promissores na construção de uma barreira contra o vírus — mas cujos testes em humanos só serão iniciados no final deste ano, pelo que poderão ainda surgir atrasos que comprometam o plano da OMS.

Paciente zero

Os cientistas suspeitam ter encontrado o “paciente zero” desta epidemia.  Terá sido um rapaz de dois anos, que morreu a 6 de dezembro em Guéckedou, uma aldeia na zona sul da Guiné-Conacri que fica encostada à Serra Leoa e à Libéria. Uma semana depois da morte da criança, a mãe, a irmã e a avó morreram também — todos com os mesmos sintomas de febres, vómitos e diarreias.

Segundo conta o New York Times o percurso foi traçado a esta família até ao enterro da avó, onde a doença se terá espalhado: dois convidados levaram o vírus para as suas aldeias, um auxiliar de saúde espalhou-o no hospital e daí para as localidades vizinhas. Quando a epidemia foi declarada a 31 de março, já os três países viviam uma crise de saúde em progresso acelerado. Com a chegada à Nigéria, a nação africana mais populosa, a epidemia pode ganhar novas e mais críticas dimensões.

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A situação foi repetidamente denunciada pelos Médicos Sem Fronteiras e pela Organização Mundial de Saúde, mas só em junho ganhou verdadeira dimensão global. Quando no início de agosto foi anunciado que dois missionários americanos tinham sido contaminados com o vírus e que existia uma droga experimental que tinha sido aplicada com excelentes resultados em ambos, a possibilidade da resolução da crise tornou-se mais real. Esse novo tratamento vai agora ser aplicado numa missionária espanhola, espera-se que também com bons resultados.

anúncio da Glaxo sobre a vacina preventiva promete ajudar a resolver novos focos infecciosos de Ébola — mas já não será útil para resolver a atual crise entre a Libéria, a Guiné-Conacri e a Serra Leoa. Esta crise deverá demorar vários meses até ser considerada sanada e neste momento os esforços estão na contenção das áreas atingidas e na limitação de potenciais vítimas.

Portugal com um risco “muito baixo” de ser afetado

Se o primeiro paciente desta nova epidemia morreu em dezembro, a verdade é que só cerca de seis meses mais tarde é que a gravidade do problema chegou à atenção mundial, e logo numa altura em que a doença já estava “fora de controlo”, segundo os Médicos Sem Fronteiras. A estirpe da doença que está agora a alastrar-se pelos países africanos é a mesma que foi detetada em 1976, pela primeira vez, junto ao rio Ébola, no que era então o Zaire (hoje República Democrática do Congo).

Apesar de já ter 38 anos, há mais dúvidas do que certezas relativamente ao Ébola. O episódio mais recente numa longa história de busca por uma cura e por uma vacina é o “tratamento milagroso” que permitiu salvar dois americanos infetados pelo vírus. Esse tratamento, o ZMapp, poderá também ser a salvação do missionário espanhol que regressou há poucos dias a Espanha depois de ter sido contagiado na Libéria, mas os problemas em controlar a propagação da doença persistem.

Apesar de algumas companhias aéreas terem suspendido voos para zonas onde a epidemia está a provocar mais contágios, como a Emirates ou a British Airways, um dos maiores problemas é a educação das populações, que, em alguns locais de países como a Libéria, não acreditam na existência da doença e pensam que os médicos enviados para tratar os doentes, que vestem fatos brancos, são, na verdade fantasmas. Por esse motivo, ministros da saúde de países da África Ocidental decidiram unir-se para criar uma estratégia comum de combate à doença. Uma das formas de explicar o que é o Ébola foi desenvolvida por um moçambicano e chegou em forma de banda desenhada.

Em Portugal, apesar das suas relações históricas com alguns países africanos – como a Guiné-Bissau, que “não pode ficar descansada” relativamente ao surto, nas palavras do seu primeiro-ministro -, há pouca probabilidade de o vírus chegar a contagiar pessoas, segundo Jorge Atouguia, médico especialista em infecciologia e medicina tropical, que explicou ao Observador que o risco de importação e propagação é “muito baixo”.