A Rússia é responsável por trazer uma “grande guerra” para a Europa e irá ser responsável por “dezenas de milhares” de mortes se esta crise escalar, escreveu na segunda-feira, Valeriy Heletey, ministro da Defesa ucraniano, numa publicação na sua conta pessoal do Facebook.

“Uma grande guerra chegou à nossa porta de entrada, daquelas que a Europa não vê desde a Segunda Guerra Mundial”, escreveu  o membro do governo ucraniano. “Infelizmente, as perdas numa guerra deste tipo não vão ser medidas em dezenas, mas em centenas e dezenas de milhares”.

Desde o surgimento dos movimentos separatistas na Ucrânia, a Rússia tem negado persistentemente fornecer armas aos insurgentes pro-Moscovo, afirmando que não há, nem irá haver, uma intervenção militar. O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, afirmou na segunda-feira, num discurso a alguns estudantes, que o seu país apoia uma “solução pacífica para esta grave crise”, tendo já pedido um cessar-fogo urgente.

https://twitter.com/ria_novosti/status/506726090774441984

Porém, na manhã desta terça-feira, o conselho de segurança a que preside anunciou que iria “atualizar a sua doutrina militar até ao final de 2014, de forma a refletir a atitude de expansão da NATO.” E deixou um aviso: qualquer ataque à zona controlada pela Rússia na península da Crimeia “vai ser considerada uma agressão à própria Rússia.” Não foi especificado quais as mudanças que podem surgir da nova doutrina.

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Estes desenvolvimentos surgem depois de Vladimir Putin ter afirmado ao presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que, se quiser, pode tomar a capital ucraniana em duas semanas. O episódio foi relatado pelo jornal italiano La Reppublica, na segunda-feira.

No domingo, irromperam confrontos entre separatistas e militares ucranianos, nos quais os rebeldes conseguiram expulsar as forças governamentais de um aeroporto perto de Luhansk, a segunda maior cidade controlada pelos rebeldes. Este confronto ocorreu um dia antes das negociações que se realizaram em Minsk, na Bielorússia, onde os separatistas pro-Rússia exigiram a autonomia da região de Donetsk.

De acordo com o Wall Street Journal, a Ucrânia vai mudar a sua estratégia militar nos próximos dias, passando a uma posição de “defesa” para “conter as incursões de Moscovo”, devido às derrotas de que tem sido alvo nos últimos dias. O ministro da Defesa ucraniano anunciou que o exército irá parar de tentar remover os separatistas do leste do país, assumindo agora uma estratégia de defesa contra “uma invasão a grande escala” das forças militares russas.

Barack Obama, que esta semana visita a Europa, vai estar na Estónia para tranquilizar a região abalada pela incursão russa na Ucrânia que a Aliança Atlântica continua comprometida em defender os países bálticos. Na quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos da América vai estar no país de Gales para participar numa cimeira da NATO, parte de um esforço para reafirmar que a aliança pode ser continuar ao lado da Letónia, Lituânia e Estónia. Nesta cimeira, vai ser discutida a aprovação da unidade militar já anunciada de ter 4.000 homens em prontidão.

A Casa Branca espera que a passagem de Obama por Tallinn deixe uma mensagem clara ao presidente russo Vladimir Putin: “Não toquem nos países bálticos”, escreve o Wall Street Journal.

“A Rússia que nem pense em brincar com a Estónia ou em qualquer outro país do Báltico, da mesma foram que está a fazer com a Ucrânia”, afirmou Charles Kupchan, responsável pelos assuntos europeus na Casa Branca.

Kiev em duas semanas

A conversa aconteceu por telefone e foi relatada por Durão Barroso na cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia, no sábado. O ainda presidente da Comissão Europeia questionou Putin sobre o milhar de soldados russos que a NATO afirma estarem a combater em território ucraniano.

“O problema não é esse. É que, se quiser, em duas semanas tomo Kiev”, terá sido a resposta de Putin, conta o La Reppublica.

Um aviso em relação a novas sanções. O La Reppublica relata ainda a resposta do primeiro-ministro britânico David Cameron, que alertou para que a Europa não vá ao encontro das pretensões de Putin. “Já tomou a Crimeia e não podemos permitir que tome todo o país, corremos o risco de repetir os erros cometidos em Munique em 1938″, avisou, recordando o Acordo de Munique com Hitler, após a anexação alemã de uma região da Checoslováquia.

Preocupado sobretudo com o “comportamento agressivo” da Rússia, o secretário-geral da NATO anunciou na segunda-feira a criação de uma equipa “ponta de lança”, pronta a intervir num prazo de 48 horas, e uma presença mais visível no leste da Europa. Serão cerca de quatro mil soldados prontos a entrar em ação sempre que necessário através de ar, mar e forças especiais em terra.

Esta força estará disponível em 48 horas caso a Rússia decida intervir na Ucrânia, conta o jornal Independent.

https://twitter.com/ria_novosti/status/506744776121909248

Segundo o portal noticioso estatal da Rússia RIA Novosti, Vladimir Putin aprovou hoje o desenvolvimento de um novo tipo de “super-rockets”, com capacidade de transportar 150 t0neladas de explosivos.

Discurso de Putin foi “mal-interpretado”

Também nesta terça-feira, o Kremlin criticou a publicação na imprensa italiana de declarações “tiradas do contexto” de Vladimir Putin, citado pelo presidente da Comissão Europeia, nas quais terá afirmado que a Rússia pode conquistar Kiev “em duas semanas”.

Num artigo publicado na segunda-feira pelo diário italiano La Repubblica, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso afirmou que o chefe de Estado russo não quis responder às perguntas sobre a presença de soldados russos na Ucrânia e ameaçou: “Se eu quiser, conquisto Kiev em duas semanas”.”Isso não é correto e vai além da prática diplomática, caso tenha acontecido. Isso não está ao nível de uma personalidade política séria”, declarou à imprensa Iuri Uchakov, conselheiro do Kremlin para as questões internacionais.

“Independentemente de estas palavras terem sido pronunciadas ou não, penso que estas citações foram tiradas do contexto e tinham um significado totalmente diferente”, denunciou Uchakov.

O conflito no leste da Ucrânia, entre as tropas de Kiev e separatistas pró-russos, causou perto de 2.600 mortos desde meados de abril e centenas de milhares de refugiados e deslocados.

A Ucrânia, que relançou o processo de adesão à Aliança Atlântica, espera uma “ajuda prática” e “decisões cruciais” no final da cimeira da NATO.