A Rússia é responsável por trazer uma “grande guerra” para a Europa e irá ser responsável por “dezenas de milhares” de mortes se esta crise escalar, escreveu na segunda-feira, Valeriy Heletey, ministro da Defesa ucraniano, numa publicação na sua conta pessoal do Facebook.
“Uma grande guerra chegou à nossa porta de entrada, daquelas que a Europa não vê desde a Segunda Guerra Mundial”, escreveu o membro do governo ucraniano. “Infelizmente, as perdas numa guerra deste tipo não vão ser medidas em dezenas, mas em centenas e dezenas de milhares”.
Desde o surgimento dos movimentos separatistas na Ucrânia, a Rússia tem negado persistentemente fornecer armas aos insurgentes pro-Moscovo, afirmando que não há, nem irá haver, uma intervenção militar. O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, afirmou na segunda-feira, num discurso a alguns estudantes, que o seu país apoia uma “solução pacífica para esta grave crise”, tendo já pedido um cessar-fogo urgente.
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Porém, na manhã desta terça-feira, o conselho de segurança a que preside anunciou que iria “atualizar a sua doutrina militar até ao final de 2014, de forma a refletir a atitude de expansão da NATO.” E deixou um aviso: qualquer ataque à zona controlada pela Rússia na península da Crimeia “vai ser considerada uma agressão à própria Rússia.” Não foi especificado quais as mudanças que podem surgir da nova doutrina.
Estes desenvolvimentos surgem depois de Vladimir Putin ter afirmado ao presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que, se quiser, pode tomar a capital ucraniana em duas semanas. O episódio foi relatado pelo jornal italiano La Reppublica, na segunda-feira.
No domingo, irromperam confrontos entre separatistas e militares ucranianos, nos quais os rebeldes conseguiram expulsar as forças governamentais de um aeroporto perto de Luhansk, a segunda maior cidade controlada pelos rebeldes. Este confronto ocorreu um dia antes das negociações que se realizaram em Minsk, na Bielorússia, onde os separatistas pro-Rússia exigiram a autonomia da região de Donetsk.
De acordo com o Wall Street Journal, a Ucrânia vai mudar a sua estratégia militar nos próximos dias, passando a uma posição de “defesa” para “conter as incursões de Moscovo”, devido às derrotas de que tem sido alvo nos últimos dias. O ministro da Defesa ucraniano anunciou que o exército irá parar de tentar remover os separatistas do leste do país, assumindo agora uma estratégia de defesa contra “uma invasão a grande escala” das forças militares russas.
Barack Obama, que esta semana visita a Europa, vai estar na Estónia para tranquilizar a região abalada pela incursão russa na Ucrânia que a Aliança Atlântica continua comprometida em defender os países bálticos. Na quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos da América vai estar no país de Gales para participar numa cimeira da NATO, parte de um esforço para reafirmar que a aliança pode ser continuar ao lado da Letónia, Lituânia e Estónia. Nesta cimeira, vai ser discutida a aprovação da unidade militar já anunciada de ter 4.000 homens em prontidão.
A Casa Branca espera que a passagem de Obama por Tallinn deixe uma mensagem clara ao presidente russo Vladimir Putin: “Não toquem nos países bálticos”, escreve o Wall Street Journal.
“A Rússia que nem pense em brincar com a Estónia ou em qualquer outro país do Báltico, da mesma foram que está a fazer com a Ucrânia”, afirmou Charles Kupchan, responsável pelos assuntos europeus na Casa Branca.
Kiev em duas semanas
A conversa aconteceu por telefone e foi relatada por Durão Barroso na cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia, no sábado. O ainda presidente da Comissão Europeia questionou Putin sobre o milhar de soldados russos que a NATO afirma estarem a combater em território ucraniano.
“O problema não é esse. É que, se quiser, em duas semanas tomo Kiev”, terá sido a resposta de Putin, conta o La Reppublica.
Um aviso em relação a novas sanções. O La Reppublica relata ainda a resposta do primeiro-ministro britânico David Cameron, que alertou para que a Europa não vá ao encontro das pretensões de Putin. “Já tomou a Crimeia e não podemos permitir que tome todo o país, corremos o risco de repetir os erros cometidos em Munique em 1938″, avisou, recordando o Acordo de Munique com Hitler, após a anexação alemã de uma região da Checoslováquia.
Preocupado sobretudo com o “comportamento agressivo” da Rússia, o secretário-geral da NATO anunciou na segunda-feira a criação de uma equipa “ponta de lança”, pronta a intervir num prazo de 48 horas, e uma presença mais visível no leste da Europa. Serão cerca de quatro mil soldados prontos a entrar em ação sempre que necessário através de ar, mar e forças especiais em terra.
Esta força estará disponível em 48 horas caso a Rússia decida intervir na Ucrânia, conta o jornal Independent.
https://twitter.com/ria_novosti/status/506744776121909248
Segundo o portal noticioso estatal da Rússia RIA Novosti, Vladimir Putin aprovou hoje o desenvolvimento de um novo tipo de “super-rockets”, com capacidade de transportar 150 t0neladas de explosivos.
Discurso de Putin foi “mal-interpretado”
Também nesta terça-feira, o Kremlin criticou a publicação na imprensa italiana de declarações “tiradas do contexto” de Vladimir Putin, citado pelo presidente da Comissão Europeia, nas quais terá afirmado que a Rússia pode conquistar Kiev “em duas semanas”.
Num artigo publicado na segunda-feira pelo diário italiano La Repubblica, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso afirmou que o chefe de Estado russo não quis responder às perguntas sobre a presença de soldados russos na Ucrânia e ameaçou: “Se eu quiser, conquisto Kiev em duas semanas”.”Isso não é correto e vai além da prática diplomática, caso tenha acontecido. Isso não está ao nível de uma personalidade política séria”, declarou à imprensa Iuri Uchakov, conselheiro do Kremlin para as questões internacionais.
“Independentemente de estas palavras terem sido pronunciadas ou não, penso que estas citações foram tiradas do contexto e tinham um significado totalmente diferente”, denunciou Uchakov.
O conflito no leste da Ucrânia, entre as tropas de Kiev e separatistas pró-russos, causou perto de 2.600 mortos desde meados de abril e centenas de milhares de refugiados e deslocados.
A Ucrânia, que relançou o processo de adesão à Aliança Atlântica, espera uma “ajuda prática” e “decisões cruciais” no final da cimeira da NATO.