Se Portugal pedisse hoje para reembolsar antecipadamente uma parte dos empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) a poupança seria “pouco significativa”, admitiu hoje em Milão a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que explicou que as taxas de juro da dívida portuguesa teriam de estar abaixo dos três por cento.

Numa conferência de imprensa após a reunião informal dos ministros das Finanças da zona euro em Milão, Maria Luís Albuquerque explicou aos jornalistas que Portugal deu o seu apoio à Irlanda na intenção de pagar antecipadamente parte do empréstimo FMI, algo que pode gerar poupanças adicionais em juros na ordem dos 400 milhões de euros a Dublin.

“Transmiti que Portugal apoiava esse pedido e poderia vir a ter o interesse no futuro de vir a fazer um pedido semelhante”, disse a ministra das Finanças sobre o que transmitiu na reunião com os seus homólogos da zona euro, explicando de seguida que no caso de Portugal ainda não compensa fazer esse pedido, mas que o precedente é importante.

“Neste momento o que verificamos, por comparação com a Irlanda, é que o diferencial entre a taxa de juro de mercado e a taxa de juro do FMI é muitíssimo mais baixo, quer porque os empréstimos do FMI para nós são mais baratos que os da Irlanda, porque recebemos mais tarde, quer porque a taxa de juro no mercado é mais alta”, disse.

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A ministra explicou também que pagar essa parcela do empréstimo na totalidade obrigaria a levantar muito dinheiro no mercado, o que faria mexer o preço também e seria complicado para Portugal que ainda tem um perfil de amortizações nos próximos anos considerável. Como tal, nesta altura a vantagem em tentar fazer essa amortização seria muito pequena.

“Aquilo que nós temos neste momento é uma circunstância em que a vantagem ainda seria marginal. (…) No entanto, a tendência marcada é de redução dos juros da dívida pública portuguesa e portanto o que pretendemos é apoiar a iniciativa da Irlanda.

Compreendendo os motivos apresentados, achando que são muito válidos e é uma opção que também tem valor para Portugal, que nós vamos acompanhando a situação e quando acharmos que é altura de fazer um reembolso total ou parcial, apresentaremos um pedido ao Eurogrupo”, disse.

Questionada sobre que tive de redução teria de ocorrer nos juros da dívida para que este pagamento antecipado fosse vantajoso, a ministra recusou inicialmente colocar um número para não haver uma fixação sobre este quando os juros descessem para esse nível, mas acabou por dizer que as taxas teriam de baixar para níveis inferiores a 3% na dívida a mais longo prazo.

“Tínhamos que ir abaixo dos 3% e teria que ser uma altura em que não tivéssemos de ir buscar muito dinheiro ao mercado”, disse a governante. A última colocação de dívida a médio/longo prazo foi uma emissão sindicada a 15 anos, tendo Portugal  de pagar uma taxa de juro de 3,875% por 3,5 mil milhões de euros.

Ainda assim, diz, tudo depende da evolução dos juros no mercado e seria necessário “olhar para cada uma das tranches e ver a diferença para os juros do FMI e ver em que moldes” seria feito o pagamento. “Neste momento a poupança de juros que poderíamos estar a falar mesmo que teoricamente é ainda relativamente pouco significativa”, sublinhou.

Maria Luís Albuquerque, Comissária Europeia?

A ministra foi ainda confrontada com a hipótese levantada de que poderia ter abandonado o Governo para ser comissária europeia em Bruxelas. Questionada pelos jornalistas se essa chegou a ser uma hipótese real, a governante respondeu com um “o tema não tem qualquer relevância”, sem nunca desmentir ou confirmar essa hipótese.