A aprovação por Bruxelas do pagamento antecipado do empréstimo ao Fundo Monetário Internacional pela Irlanda pode não acontecer tão cedo devido às eleições na Suécia, afirmou hoje em Milão o ministro das Finanças da Irlanda, Michael Noonan, que está confiante no entanto nessa aprovação por parte dos responsáveis europeus.

Na chegada à reunião informal dos ministros das Finanças da zona euro, que decorre em Milão no âmbito da presidência italiana da União Europeia, o governante irlandês explicou aos jornalistas que a Irlanda já tem o apoio das instituições, que recolheu durante as conversações que teve esta semana com os responsáveis europeus e que tem boas indicações que irá ter o apoio dos ministros, mas que esse apoio não sairá da reunião de hoje.

“Nós temos o apoio das instituições, desde as conversas que tive no início desta semana. Não há qualquer tentativa de bloqueio, até agora ninguém se opõe que consiga identificar até agora, mas há complicações devido às eleições na Suécia e eles podem não ter condições para tomar uma decisão política na Suécia, apesar de haver apoio abrangente para o que estamos a pedir”, disse Michael Noonan.

“Acho que temos bons indícios de que vamos obter esse apoio, mas talvez não formalmente hoje e amanhã”, acrescentou. A Irlanda pediu à Europa e ao Fundo Monetário Internacional para fazer o pagamento antecipado de 18 mil milhões de euros em empréstimos ao FMI, para conseguir poupanças significativas com juros.

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O Governo irlandês precisa do apoio de todos os membros da União Europeia para dispensar a cláusula dos empréstimos que dá um tratamento igual a todos os credores no resgate ao país, e que obrigaria a que os empréstimos fossem amortizados na mesma dimensão e ao mesmo tempo tanto aos credores europeus como ao FMI.

Segundo o Executivo irlandês, a taxa de juro cobrada pelo FMI (de 5%) é muito mais punitiva que as atuais taxas de juro exigidas no mercado pela dívida irlandesa, e se esse empréstimo fosse pago antecipadamente poderiam poupar até 400 milhões de euros.

A Irlanda tem obtido, na sequência da ‘operação de charme’ do seu ministro das Finanças durante esta semana, sinais positivos da parte da Comissão Europeia e do fundo de resgate europeu (o Mecanismo Europeu de Estabilidade) de que os credores europeus estarão dispostos a prescindir da cláusula pari-passu (pagamento por igual aos diferentes credores) nos empréstimos do resgate à Irlanda.

No entanto, o ministro das Finanças tem de conseguir agora o apoio formal de todos os restantes 27 países da União Europeia.

Portugal deve fazer o pagamento antecipado, mas para já ainda não compensa

O Governo português também tem dado indicação de que pode vir a estudar a hipótese de pagar mais cedo parte do empréstimo ao FMI para obter uma poupança com juros, mas em Bruxelas a convicção é que este não será tema de conversa tão cedo entre os responsáveis europeus porque as taxas de juro praticadas nos mercados ainda não são favoráveis para este tipo de operação.

A mesma convicção é partilhada pelo ministro irlandês. Michael Noonan disse que falou com Maria Luís Albuquerque, de quem terá o apoio no pedido que está a fazer para pagar antecipadamente ao FMI, e que esta pode vir a ser uma hipótese vantajosa para Portugal, mas para já “ainda não é oportuno”.

Ainda assim, o apoio à Irlanda por parte dos responsáveis europeus pode deixar a porta aberta para Portugal seguir o mesmo caminho, quando, e se, as taxas de juro no mercado secundário forem favoráveis ao ponto de Portugal conseguir uma efetiva poupança sem colocar em causa a estrutura da sua dívida.

A ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, levantou a hipótese durante a Universidade de Verão do pagamento antecipado ao FMI mas não da totalidade dos cerca de 25 mil milhões de euros. A hipótese poderia passar pelo pagamento das primeiras tranches do empréstimo, que a ministra diz serem as mais caras.