O motorista de José Sócrates, João Perna, andou à procura de outro emprego antes de ter sido detido, na noite do dia 20 de novembro, no âmbito da Operação Marquês, apurou o Observador junto de fonte próxima do motorista.

João Perna chegou mesmo a responder, recentemente, a um anúncio de emprego para motorista. Estava cansado das horas extra e dos fins de semana de trabalho. E até chegou a manifestá-lo numa página da rede social Facebook. Faltava-lhe tempo para a família.

João Perna era motorista do ex-primeiro-ministro, mas também da mãe do ex-governante e de amigos. O Observador sabe que o contrato de trabalho de Perna era abrangente e que previa que ele transportasse outros familiares e pessoas próximas do engenheiro José Sócrates.

Contratado pelo ex-primeiro-ministro após a sua saída do Governo, João Perna foi também motorista da mãe do ex-chefe de Governo. E, segundo o Expresso, esteve ao serviço do Partido Socialista em campanhas eleitorais. Terá sido por esta altur que travou amizade com o então motorista de Sócrates, que mais tarde o recomendou.

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O motorista está preso preventivamente no estabelecimento prisional da Polícia Judiciária, em Lisboa, suspeito dos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e posse de arma proibida. Fonte próxima diz que ele tem uma grande “rede de apoio”. Nessa rede, incluem-se a a mulher e a irmã, Paula Perna, funcionária do PS na área das relações públicas.

De acordo com vários jornais, o motorista de José Sócrates – que também está preso preventivamente, mas na prisão de Évora – será a chave da investigação da Operação Marquês. O motorista levaria dinheiro vivo ao ex-primeiro-ministro em Paris, um esquema que terá sido abandonado nos últimos meses, mas que serviu de base à investigação do Ministério Público, depois de João Perna ter sido apanhado em escutas e ter sido seguido durante meses.

“Se não fazia ele ia para lá outro fazer”

No Samouco, vila onde João Perna reside, no concelho de Alcochete, os vizinhos traçam um perfil discreto do motorista. “O senhor vinha cá bebia café, tirava tabaco, e ia embora”, relatou Carlos Cruz, que explora o bar da Sociedade Filarmónica Progresso e Labor Samouquense, acrescentando que João Perna “era simpático e muito calado”. Carlos Cruz só soube do sucedido quando viu a fotografia do motorista no jornal e sem querer adiantar-se muito sobre o assunto apenas o defendeu dizendo que “se não fazia ele ia para lá outro fazer”.

Mesmo ao lado, na Papelaria Sandra, Sandra Costa retratou igualmente João Perna como uma pessoa “discreta e educada”. Em relação aos crimes de que agora está indiciado, Sandra Costa é da opinião de que “ele devia saber o que andava a fazer”, mas a verdade é que “se não era ele, era outro, e ele era despedido”.

Num outro café próximo da casa de João Perna, e que também costumava ser frequentado pelo motorista, nenhuma das pessoas presentes se chegou à frente para o incriminar. Afinal, “ele era só um serviçal”, repetiram.