A reunião ainda não aconteceu e já está a provocar reações, que mais não são do que pressões para o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras. Esta quarta-feira foi a vez da Comissão Europeia avisar a Grécia sobre as promessas que o grego vai fazer a Vladimir Putin. Em causa está a negociação entre os dois sobre o comércio de fruta grega e gás.

“Esperamos que todos os Estados-membros sejam tratados da mesma maneira e esperamos também que todos os Estados-membros falem a uma só voz com todos os nossos parceiros comerciais, incluindo a Rússia”, foi assim que o português Daniel do Rosário, porta-voz da Comissão Europeia, deixou o aviso à Grécia para que na reunião com o Presidente russo, Tsipras não ponha em causa a política europeia de sanções contra a Rússia por causa da crise da Ucrânia, escreve a Bloomberg.

Em causa está sobretudo a intenção de Tsipras conseguir dos russos um alívio no embargo à compra de fruta, kiwis, pêssegos e morangos, sobretudo, mas também melhores relações na energia. Foi isso mesmo que Tsipras respondeu em entrevista à Agência de notícias russa, TASS: “Temos de ver como as nossas nações e países podem realmente cooperar em muitas áreas – económica, energia, comércio, agricultura – e descobrir onde nos podemos ajudar uns aos outros”, disse.

Mas a Bruxelas o que chega são os ecos de uma pressão grega para mostrar que procura uma alternativa à ajuda da União Europeia. E por isso, em dia de encontro entre os dois, a Comissão Europeia de Jean-Claude Juncker quis marcar a posição dos parceiros europeus. Daniel do Rosário lembra que as sanções russas aos produtos da União Europeia se aplicaram aos 28 países por igual e que no encontro de hoje com Putin, a Grécia tem de ter em atenção que não pode ser privilegiada em relação aos restantes, até porque se for caso disso, a Comissão Europeia tudo fará para bloquear o acordo: “De acordo com a lei europeia, é a Comissão Europeia que tem direito exclusivo sobre a política comercial da União Europeia”. Mas quando questionado sobre se a CE está disposta a usar instrumentos específicos para o impedir, o porta-voz da CE foi mais cauteloso e disse que cada caso é um caso que deve ser avaliado, uma vez que não está a falar de “instrumentos legais que possam ser utilizados contra um Estado-membro”.

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Além da redução das restrições pela Rússia à importação de fruta grega, a União Europeia pode enfrentar outro problema legal se os gregos conseguirem um acordo para a redução do valor da compra de gás russo. Isto porque Tsipras pode negociar com Putin uma redução do preço em troca da compra pela Gazprom do gasoduto que passa pela Grécia. O que é impedido pela legislação europeia que impede que os produtores de energia detenham também as infra-estruturas para a distribuição, quer seja de gás, petróleo ou eletricidade.

O resultado do encontro entre Tsipras e Putin está previsto ser revelado em conferência de imprensa conjunta às 13h30, hora de Lisboa.

Não é um pedido de dinheiro

Antes da reunião entre Alexis Tsipras e Vladimir Putin, fonte do Governo grego disse à Bloomberg que a Grécia “não pediu à Rússia por ajuda financeira” até porque todos os assuntos relativos à situação da dívida grega têm de ser “resolvidas no quadro da União Europeia”. A mesma fonte garante que em cima da mesa das negociações em Moscovo vão estar as sanções aos produtos agrícolas gregos e a “estabilidade da região”.

Oficialmente, os gregos continuam a dizer que esperam por um resultado positivo na reunião do Eurogrupo no dia 24 de abril.