Cerca de 300 trabalhadores ligados a vários setores culturais, da arqueologia ao circo, desfilaram nesta terça-feira em Lisboa, da praça Camões ao cais das Colunas, na praça do Comércio, exigindo a dotação de 1% do PIB para a Cultura.

A marcha, que contou com a participação de cerca 58 entidades e associações do setor, como o Sindicato dos Trabalhadores de Arqueologia, da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) e dos Defensores do Circo Tradicional, foi organizada pela Plataforma pela Cultura, liderada por Pedro Penilo. Em declarações à Lusa, Pedro Penilo realçou que esta “é a primeira vez que existe uma ação de rua, pública, de afirmação da cultura”, e sublinhou o “entusiasmo” dos cerca de “300 participantes”.

Os manifestantes empunhavam faixas e cartazes com palavras de ordem onde se lia “Cultura produz um valor que não tem preço”, “1% do PIB [Produto Interno Bruto] para Cultura”, e outros em que se exigia uma mudança política para as artes, se criticava a situação económica, e ainda em defesa do circo tradicional com animais.

Pedro Penilo, referindo-se à marcha, disse que esta representava “uma unidade em torno de um programa político alternativo” à atual política. Entre as entidades representadas no protesto estavam também a REDE – Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea, o Teatro Extremo, e a CGTP-IN.

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Fábio Pedro, da associação “Circus Fans”, disse à Lusa que a atividade circense “é discriminada em Portugal, desde o 25 de Abril [de 1974]”, apesar de “pagar todos os impostos” e de se registar um crescimento de espetadores. “Há uma nova geração que gosta de circo e que o quer promover e praticar, na sua forma tradicional com animais”, afirmou.

Fábio Pedro criticou a portaria de 2009, que proíbe a participação dos animais em pistas, tendo afirmado que “havia uma má informação sobre a forma como são tratados”. “Os animais de circo são tratados como os nossos animais de estimação”, acrescentando que, muitos, “na velhice, acompanham os seus treinadores até morrer”. O ativista realçou que a União Europeia considerou, em 2005, o circo “com os seus animais” um “bem cultural essencial”.

No cais das Colunas, além de uma ‘performance’ que encerrou a marcha, a organização leu o comunicado da Plataforma, já subscrito por 58 entidades, destacando a organização, em declarações à Lusa, que “há outras interessadas em o assinar”.

Esta ação insere-se na campanha “Dias da Cultura em Luta”, que decorrerá ao longo de junho, com iniciativas em diversas cidades – como espetáculos, intervenções públicas, desfiles e debates -, como Coimbra, Almada e Évora, além de Lisboa, disse Penilo. No manifesto “Dias da Cultura em Luta – Por outra política para a cultura”, os subscritores responsabilizam os sucessivos governos pela “situação de prolongada crise da atividade cultural e do tecido social que a dinamiza”.

Segundo o documento, por detrás da atual crise económico-social estão políticas de “desprezo pelo papel vital da cultura”, de “grosseiro subfinanciamento e desorganização das funções culturais do Estado”, de “mercantilização e privatização de bens e funções públicas” e de “ataque à dignidade do trabalho cultural e artístico”.

“Perante este quadro, e em ano de eleições legislativas, as forças da cultura em luta devem dar um sinal forte e claro a favor de outra política para a cultura: pelo direito constitucional à cultura e das obrigações do Estado que ele implica”, lê-se no manifesto, reiterando a exigência de 1% do PIB para a cultura.

Entre os subscritores e envolvidos na campanha estão Associação das Coletividades Concelho Lisboa (ACCL), a Associação Portuguesa Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas (BAD), a Associação Portuguesa de Realizadores (APR), a Federação Nacional dos Professores (FENPROF) e o Sindicato dos Músicos, dos Profissionais do Espetáculo e do Audiovisual (CENA), entre outros.