Depois do lançamento das duas bombas atómicas que dizimaram as cidades japonesas de Nagasaki e Hiroshima, no final da II Guerra Mundial, os EUA foram maislonge e criaram uma bomba de hidrogénio que tinha um poder destrutivo mil vezes maior. 

A primeira detonação desta bomba deu-se em Enewetak nas ilhas Marshall, servindo para testar o poder da nova arma. A situação chegou aos ouvidos dos políticos britânicos em Whitehall (rua em Londres conhecida por ser a sede do Governo inglês).

Ficou-se agora a saber, depois da divulgação de documentos oficiais britânicos da altura da Guerra Fria, de acordo com o Financial Times, que os ingleses começaram a temer a possibilidade de a União Soviética ter conhecimento da existência da nova arma americana. É que, na opinião das autoridades do Reino Unido, os russos temiam mais os ingleses do que os americanos. E, por isso, seria o Reino Unido a sofrer as consequências por parte da URSS.

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Numa carta de William Penney, um conhecido matemático e físico inglês, dirigida a Edwin Plowden, presidente da Autoridade para a Energia Atómica, é dada a conhecer a devastação que a Inglaterra podia sofrer se fosse alvo de um ataque nuclear por parte da União Soviética: “Em vez de largarem 32 bombas em Londres, eles (os soviéticos) irão, provavelmente, utilizar três, quatro ou cinco bombas muito poderosas.”

Mas Penney não utilizou apenas as palavras para expressar a sua preocupação. Nas costas da carta, o físico desenhou um triângulo invertido, representando, em cada canto, as zonas periféricas londrinas de Uxbrige, Romford e Croydon, isto para demonstrar a destruição total na área metropolitana da capital inglesa.

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Os documentos revelam ainda que o Governo britânico queria colocar em marcha um plano de contingência de prevenção a um ataque com 200 bombas atómicas russas. William Penney esclareceu, no entanto, que um ataque com uma bomba de hidrogénio seria muito mais devastador.

Apesar de todos os receios, autoridades da defesa britânica defendiam que não havia outra alternativa senão a criação de bombas de hidrogénio próprias. A aliança com Washington era uma das razões, mas a falta de armas de longo alcance no arsenal militar russo para atingir os EUA, colocavam o Reino Unido em primeiro lugar na linha de fogo.

Penney chegou mesmo a afirmar que a sua equipa de cientistas podiam criar a arma, mas isso não seria suficiente: “Achamos que podemos criá-las (as bombas de hidrogénio), mas isso é, como é lógico, muito diferente do que tê-las.”

O Governo começou a avançar para a construção da arma, nomeadamente na Nova Zelândia e África do Sul, para recolher os materiais necessários à sua criação. Mas o Reino Unido, pelo que se sabe até hoje, nunca chegou a possuir uma bomba deste género no seu armamento.