Um investigador acredita ter descoberto um quadro de Rembrandt, ou pintado por um discípulo, numa coleção do acervo do Museu de Portimão, mas o diretor da instituição duvida que se trate de um quadro original do pintor holandês.

O quadro, de pequenas dimensões, que representa uma cena bíblica, foi arrematado pelo museu de Portimão em leilão, no ano de 2006, por 780 euros, e faz parte de uma coleção de vinte pinturas que pertenceram a Manuel Teixeira Gomes, escritor e antigo Presidente da República, natural daquela cidade, eleito para o cargo em 1923.

No museu de Portimão, onde já esteve exposto, embora esteja atualmente em reserva, o quadro está identificado com o título “Senhora, ancião e menino” e é atribuído à escola francesa do século XIX, mas, segundo disse à Lusa o investigador José Pacheco, existe no Museu Albert & Victoria, em Inglaterra, um quadro original de Rembrandt que é “gémeo” deste, embora com outro título.

José Pacheco está convicto de que o quadro foi adquirido por Manuel Teixeira Gomes no Reino Unido, onde foi embaixador, e que se trata de um quadro da escola holandesa, do século XVII, saído do ateliê de Rembrandt, tal como o seu semelhante, intitulado “Abraão expulsando Hagar e Ismael”, datado de 1640 e da autoria de Rembrandt, que o investigador observou num museu em Londres.

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De acordo com o investigador, professor do Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, os quadros são muito semelhantes e têm as mesmas dimensões, havendo as hipóteses de o quadro comprado por Manuel Teixeira Gomes ter sido uma pintura abandonada, para ser feita uma segunda versão, ou então, ser uma cópia feita por um discípulo.

O antigo Presidente da República tê-lo-á comprado em Inglaterra, onde frequentava leilões, mas José Pacheco admite que o algarvio, que era “especialista em comprar quadros a quem ninguém dava grande importância”, poderia não saber, quando o adquiriu, que se tratava de um Rembrandt ou semelhante.

O diretor do museu de Portimão, José Gameiro, manifestou à Lusa reservas sobre a autenticidade do quadro, que terá de ser confirmada pela Comissão Rembrandt na Holanda, revelando que está a iniciar contactos com aquela entidade e outros museus europeus, nomeadamente o museu em Londres onde está exposto um quadro de Rembrandt semelhante ao que está em Portimão.

“Rembrandt foi sistematicamente e vastamente copiado, por discípulos, como Ferdinand Bol, ou mesmo séculos depois, pode até ter sido um dos pintores mais copiados do mundo”, acredita José Gameiro.

O também presidente do júri internacional do Prémio Museu Europeu do Ano prefere ser cauteloso e não especular acerca da origem do quadro, mas admite que, a comprovar-se, o museu não ficará indiferente ao interesse que isso provocará.

“Nós, à partida, nos museus, deontologicamente, temos primeiro de provar e só depois divulgar, enquanto não tivermos provas não podemos anunciar nada”, concluiu.

José Pacheco aborda o tema no seu livro “Manuel Teixeira Gomes, numa sublime cruzada em busca do belo”, recentemente lançado.