Esta terça-feira marcam-se os cinco anos do início da guerra na Síria, um conflito que começou depois de protestos pró-democráticos num país que vivia com altas taxas de desemprego, fracas condições de vida e incumprimento dos direitos civis. Embora a tensão já durasse há varias semanas – também criada pelos curdos, que pretendem ver os seus direitos igualmente reconhecidos -, a gota de água para os opositores ao regime de Bashar Al-Assad, que substituiu o pai em 2000 na presidência do país, foi a detenção de um grupo de crianças que pintavam paredes na escola. A 15 de março de 2011, as forças governamentais abriram fogo contra um grupo de protestantes, matando dezenas de civis.
A guerra estava lançada. De um lado da barricada estavam o governo e os soldados que o defendiam, do outro os que exigiam a demissão de Bashar Al-Assad em nome da democracia. Quando os opositores ao governo começaram a reunir armas de fogo para combater as forças do regime e proteger determinados territórios, a guerra civil já tinha ganho raízes e prometia durar. Em 2012, a luta territorial já tinha atingido a capital Damasco e depois a segunda maior cidade, Alepo. Em dois anos morreram 90 mil pessoas e até 2015 o número ascendia aos 250 mil.
Perante uma Síria frágil, os grupos terroristas encontraram terreno fértil para avançar e também eles dominarem determinados territórios que lhe eram úteis, principalmente os relacionados com a exploração petrolífera. O Estado Islâmico entrou então na Síria e no Iraque e proclamou a luta pela reconquista do dos territórios anteriormente pertencentes ao Califado. Estávamos em junho de 2014 e o número de jihadistas aumentava a olhos vistos. A população síria enfrentava duas guerras no mesmo palco: por um lado, via o país implodir com os conflitos entre o governo e a oposição; e por outro lado, enfrentava a ameaça terrorista, que funcionava como uma “doença oportunista”.
Com o envolvimento internacional, nomeadamente dos Estados Unidos, a situação tornou-se ainda mais complicada. As potências mundiais organizaram ataques aéreos que tinham os terroristas na mira, mas os ativistas garantem que a maior parte trouxe mais prejuízo para os rebeldes e para a população do que para os militantes do Estado Islâmico ou para o governo ditatorial. Enquanto várias organizações não governamentais e a Organização das Nações Unidas enviam ajuda para a Síria e o Iraque, a guerra continua a enterrar o país em destruição.
Em busca de proteção, vários sírios têm pedido refúgio à Europa. Milhões de pessoas (5 milhões registados) têm tentado sair do Médio Oriente e chegar à Europa, em busca de melhores condições de vida e de alguma paz. Muitos deles atravessam o mar Egeu e o mar Mediterrâneo em barcos insufláveis, o que também resulta na morte de milhares de pessoas em acidentes com as embarcações. A União Europeia – e o mundo, em maior escala – viu-se assim obrigada a lidar com a maior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial. Por cá, os protestos referentes aos “imigrantes ilegais” (que depois passaram a ser chamados de refugiados) multiplicaram-se o ano passado, quando o corpo de um bebé de três anos deus à costa numa praia turca: Aylan caiu ao mar Egeu e afogou-se com a mãe e o irmão. Passou a ser o símbolo da luta travada pelos refugiados no Médio Oriente.
As opiniões dividem-se, principalmente tendo em conta os últimos ataques terroristas a que assistimos na Europa: enquanto alguns europeus argumentam que a ajuda humanitária é essencial perante a crise de refugiados e que é função dos países em paz acolher quem foge da guerra, outros temem que o terrorismo encontre nestes fluxos o caminho perfeito para se instalar no Velho Continente. Estas suspeitas aumentaram depois do 13 de novembro do ano passado, com os atentados de Paris, quando se descobriram passaportes falsificados entre os pertences dos autores de um crime que vitimou 130 civis.
Só no último fim de semana, na cimeira extraordinária União Europeia-Turquia, começaram a ser dados os primeiros passos para se encontrar uma crise para o fluxo de refugiados que vivem em campos improvisados junto a fronteiras fechadas (Macedónia Croácia e Eslovénia).
Perante este contexto, a Síria tornou-se na capital da destruição e da morte. Em cinco anos, várias imagens ilustraram o sofrimento de um povo comandado pela ditadura e com mãos e pés atados, sem que os direitos civis sejam reconhecidos.
Na fotogaleria, o Observador olhou para os cincos anos de conflito armado na Síria e mostra-lhe 50 das imagens mais marcantes de uma guerra cujas raízes já percorrem todo o mundo.
O conteúdo de algumas delas pode chocar alguns dos leitores.