A mensagem foi repetida muitas vezes na conferência de imprensa. O programa cultural 365 Algarve, que começou a 1 de outubro e termina em maio de 2017, tem por objetivo “vender” o Algarve fora dos meses de verão.

“Não é só um programa para os que visitam a região, mas sim para todos o que vivem no Algarve, para os algarvios ou estrangeiros que lá estão”, defendeu Dália Paulos, comissária da iniciativa, durante a apresentação à imprensa, esta quinta-feira à tarde na Biblioteca do Palácio da Ajuda, em Lisboa.

Também presente, o secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, classificou o 365 Algarve como um “programa exemplar” que contribui para “uma nova ideia de comunidade artística, uma nova leitura do que é o Algarve, para novas relações de pertença”.

O mesmo responsável assumiu que a iniciativa tem um “carácter estruturante”, pelo que “não veio para durar apenas um ou dois anos”.

Se o mais comum no Algarve têm sido as iniciativas a pensar nos turistas estrangeiros, os responsáveis por este programa pretendem dar um sinal oposto: as iniciativas culturais programadas abrangem o litoral e o interior da região e os espetáculos de música, dança ou teatro cruzam-se com as feiras e festas tradicionais da região.

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“É o concretizar de um casamento muitas vezes adiado entre turismo e cultura”, disse João Fernandes, vice-presidente da Região de Turismo do Algarve, sublinhando que se pretende ir além dos “produtos consolidados” do Algarve: sol, mar e golfe.

365 Algarve vai custar um milhão e meio de euros, pagos pelo Turismo de Portugal. É apoiado por todos os 16 municípios algarvios, que acolhem vários das 63 propostas culturais programadas.

Foi um “desafio rápido” lançado pelo Governo à região, através de duas secretarias de Estado: Cultura e Economia. “Esta oferta cultural contribui para a inversão da sazonalidade”, destacou a comissária Dália Paulos.

Uma das propostas destacadas na apresentação aos jornalistas intitula-se “Lavrar o Mar” e decorre em Aljezur e Monchique. É organizada pela associação Cosanostra, do programador cultural Giacomo Scalisi e da coreógrafa e professora Madalena Victorino.

“Lavrar o Mar” atua em várias frentes. Para começar, os espetáculos “Peep & Eat”, teatro culinário pela companhia belga Laika (de 24 a 27 de novembro, no Polidesportivo de Aljezur), e “Agora ou Nunca/Maintenant ou Jamais”, novo circo pelo coletivo francês Cheptel Aleïkoum (29 a 31 de dezembro, no heliporto de Monchique).

“Lavrar o Mar” servirá também de plataforma de criação e apresentação de artes de palco, artes plásticas e projetos multidisciplinares, para tanto proporcionando residências artísticas entre janeiro e março de 2017, em Aljezur. Serão convidados “artistas estabelecidos no Algarve e noutros pontos do país e do mundo”, dizem os documentos de apresentação.

Inclui também encontros artísticos, em março e abril, e culmina na apresentação dos trabalhos desenvolvidos, num Festival Internacional de Artes Performativas, em maio, com estreias absolutas e espetáculos de “companhias de renome internacional”:

“As artes são muito importantes na política de um país, para transformar a sociedade, o poder das artes no desenvolvimento é enorme”, comentou Madalena Victorino perante os jornalistas.

De entre os 63 espetáculos e eventos do 365 Algarve merecem destaque:

  • o encontro “Fazer Render o Peixe em Portimão” (20 de dezembro, Museu de Portimão), com os chefes de cozinha André Magalhães e Francisco Siopa;
  • o concerto do acordeonista Richard Galliano e orquestra, em Lagoa (11 de fevereiro, Centro de Congressos do Arade);
  • o Festival do Contrabando, nas ruas de Alcoutim (24 a 26 de março), no âmbito do qual se realiza um seminário sobre o contrabando no início do século XX no Algarve;
  • e ainda o festival “Encontros do DeVir”, em vários cine-teatros da região (8 a 29 de abril), com artistas portugueses consagrados, como os bailarinos e coreógrafos Francisco Camacho e Vera Mantero.

A comissária, Dália Paulos, defendeu o caráter pioneiro do 365 Algarve, dizendo que “não houve até hoje um programa assim, feito a partir da região, com um programa cultural articulado com o turismo”. “O apoio para este ano permite ter oito meses de atividades, mas de futuro queremos que se consigo consolidar a oferta por todo o ano”, disse.