Em agosto de 2015, a dramaturga e encenadora Marta Freitas abriu o restaurante Cruel, na Rua da Picaria, uma das ruas obrigatórias para quem procura um poiso para comer bem na Baixa do Porto. Quando o vizinho do lado, no caso a loja Matéria Prima, pegou nos seus discos e partiu em busca de uma nova morada, Marta pensou: porque não pegar no espaço e abrir ali outro restaurante? Chamou o chef Luís Américo, com quem já tinha trabalhado na carta do Cruel, idealizou uma carta com divisões diferentes do habitual e arranjou mais um nome para assustar potenciais clientes. Chamou-lhe Vingança.

Se um restaurante chamado Cruel tem resultado tão bem, porque não? A sugestão veio da irmã — e uma das designers do projeto –, que se lembrou do mote “a vingança é um prato que se serve frio”. Joana Vale, a gerente, clarifica que por ali a vingança serve-se idealmente fria, normalmente morna e, em desespero, quente. É que o novo restaurante Vingança divide o menu, de inspiração mediterrânica, nesses três níveis de temperatura e dá ao cliente a possibilidade de escolher o que mais lhe agrada — ou misturá-los a todos. Acabando com o suspense, a carta que Marta Freitas delineou com a colaboração do chef Luís Américo não está dividida em entradas, pratos principais e sobremesas mas sim em frio, morno e quente.

A partilha é incentivada, mas também há pratos principais para quem se dá bem apenas com a sua escolha. Nas primeiras propostas, o ceviche de garoupa (7€), que chega à mesa acompanhado por um pratinho de milho crocante, chama a atenção. “Contrasta bem com o peixe marinado”, vai explicando Joana. O sashimi de bacalhau com rebentos de coentros e gaspacho (8€) também não é das combinações mais comuns. Cada secção tem duas sobremesas e as frias são de arregalar o olho: mil-folhas de lima com framboesas frescas e mousse ligeira de chocolate com “creme delicioso de laranja” e “um toque de café”, ambas a 5€.

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Novilho estufado com puré de batata e cebola caramelizada. © Leonor Oliveira / Divulgação

Virando a página do menu encontram-se os pratos mornos, que têm uma particularidade. “Temos umas máquinas onde conseguimos controlar a temperatura de confeção com diferenças de meio grau. A comida fica 12, 13, ou 14 horas a baixa temperatura.” Resultado: comida “muito tenrinha”, como é o caso do novilho estufado com puré de batata e cebola caramelizada, que no Vingança se serve com uma colher em vez de faca. “É tão tenrinho que o naco se desfaz com a colher“, garante Joana.

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O rosbife com azeite de alecrim e lascas de parmesão, e o tataki de peito de pato com puré de alperces e cebola crocante (10€) — o favorito de Joana — antecedem os três pratos principais mornos disponíveis. Entre eles, um ovo cremoso cuja gema, uma vez rebentada, cobre o puré de aipo, os cogumelos e o molho de trufa que o acompanham (12€). Vale a pena guardar lugar para as sobremesas desta secção: um quente e frio de nata e caramelo salgado, ou então a tarte tatin de pêra com creme de baunilha, ambas a 4,50€.

O novilho que se come à colher está na parte final da carta, ou seja, nos quentes, assim como a perna de leitão no forno com arroz de maçã e passas. É nesta secção que se encontra a única sopa disponível, um creme de alho francês com camarão e tomilho. Continuando nos pratos vegetarianos, há uns estaladiços de cogumelos Portobello e cebola caramelizada (8€), e um queijo provolone no forno com tomate e manjericão. E porque estamos nos quentes, uma das sobremesas — o leite creme — vem mesmo para a mesa a arder.

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Tártaro de salmão com tostas de azeite em cima, ceviche de garoupa e milho crocante em baixo. Dois dos pratos que a Vingança serve frios. © Leonor Oliveira / Divulgação

Quem procura vingança, “que se vingue na comida”, atira Marta Freitas. Mas a primeira coisa que o cliente vê quando entra é um bar, pensado como sala de espera, e que convida à companhia de uma bebida. Segue-se a sala dos flamingos, estampados no papel de parede que a encenadora escolheu como cenário para a ação principal, que é comer. As mesas têm as cadeiras habituais, mas também um sofá corrido de oito metros de comprimento. Ao fundo, um candeeiro ilumina um piano, fazendo-nos crer que entrámos num filme dos anos 1920.

Ao descer as escadas encontram-se dois cenário distintos: uma esplanada-jardim, com capacidade para cerca de 40 pessoas, que ainda não está 100% terminado, mas onde já se plantam as ervas aromáticas que servem a cozinha; e uma mesa para cerca de oito pessoas, que é servida diretamente pelos cozinheiros que ali preparam os pedidos. “Quem está nessa mesa pode ver todas as preparações e até pedir sugestões ao chef”, adianta Marta. “Foi inspirada na mesa da cozinha da minha avó, com o relógio a dar as badaladas”, recorda a proprietária, que todos os domingos se junta com a família numa mesa como aquela, e que também foi buscar um relógio antigo para tornar ainda mais real o cenário.

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Os flamingos do papel de parede remetem “para as plumas e o glamour dos anos 1920”, descodifica Joana Vale. © Leonor Oliveira / Divulgação

Por enquanto, a Vingança por aqui só se serve ao jantar, exceção feita aos almoços de sábado. Lá para janeiro, quando a equipa já estiver bem oleada, os pratos também se vão servir com a luz do dia. De quatro em quatro meses, será tempo de mudar a carta. E cruzar os dedos para que nenhum cliente destroçado pela eliminação de um prato se queira vingar no chef.

Nome: Vingança
Morada: Rua da Picaria, 84, Porto (Baixa)
Horário inicial: De segunda a sexta-feira das 19h30 às 00h, sábado das 13h às 15h e das 19h30 às 01h
Telefone: 92 754 7453
Reservas: Aceitam
Preço médio: 25€ – 30€
Site: www.facebook.com/pg/vingancarestaurante