O pai sempre apreciou vinho. À falta de tempo para visitar feiras e descobrir vinhos de diferentes regiões e até de diferentes países, limitava-se aos rótulos do costume. A escolha pelo mais seguro não era, porém, reflexo da vontade em conhecer e provar mais. Sem saber, o pai de Marta Maia revelou-se a inspiração para criar a startup Nosy (o nome significa curioso em inglês e faz ainda lembrar “nariz” na mesma língua, tido como um instrumento fundamental para mergulhar no mundo do vinho).

A Nosy, que nasceu no final do ano passado, é um clube de vinhos digital que permite aos seus subscritores conhecer mais e melhores vinhos. “A única maneira de conhecer vinhos novos é tendo uma pessoa que realmente percebe do assunto e que recomende”, explica Marta Maia ao Observador, que está à frente do projeto com outros dois sócios — Fernando Correia e Virgílio Bento (da SWORD). A startup entrega em casa um pack de três garrafas de vinho que variam consoante a experiência e o gosto do perito convidado — a Nosy conta todos os meses com um expert diferente, sendo em que dezembro foi a vez de o produtor Dirk Niepoort escolher as referências que, juntas, perfazem uma média de 45 euros.

Até abrir a caixa (50 euros), os vinhos são uma surpresa, seja pelo estilo, região ou país. Não existe qualquer limitação da variedade. “Não somos um clube exclusivamente português.” O projeto de Marta é, em parte, semelhante ao da startup WIME, que desde 2015 vende subscrições de vinhos que trazem para casa duas garrafas que variam de mês a mês, sempre recomendadas pelo escanção Rodolfo Tristão. A diferença entre ambos os projetos, além da Nosy estar sediada no Porto e a WIME em Lisboa, é precisamente o facto de a primeira variar mensalmente na pessoa que escolhe os vinhos — à partida, será sempre alguém com boas credenciais no universo vínico e até com participações em títulos da área, como tem acontecido até agora.

A Nosy não requer fidelização e a periocidade pode ser escolhida pelo consumidor.

A subscrição da caixa de vinhos não requer fidelidade e pode ser ajustada consoante a periocidade desejada. Marta Maia dá como exemplo consumidores que optam por receber os vinhos de dois em dois meses. A CEO não fala no número exato de subscritores, mas garante que “do início [novembro] até agora temos mantido 40% de crescimento todos os meses” (o primeiro subscritor foi o pai). O boca a boca, explica, tem funcionado bem, sobretudo numa cidade que vive o vinho de maneira muito familiar — não estivesse o Douro ali tão perto. 

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Os vinhos que mensalmente são encaixotados rumo a narizes e paladares curiosos são iguais para todos e não há diferenciação tendo em conta gostos pessoais. “Não queremos dar às pessoas vinhos que elas acham que possam gostar. Queremos tirar as pessoas da sua zona de conforto.” Além dos rótulos que seguem na caixa, há ainda uma revista com uma entrevista ao perito do mês, bem como as histórias e as notas de provas dos vinhos selecionados — a equipa faz ainda sugestões de acompanhamento para os vinhos.

@ Divulgação Cada caixa custa 50 euros e traz trÊs vinhos e a edição mensal da revista Nosy.

Apesar da imagem divertida e descontraída, a Nosy não quer apenas apostar em jovens consumidores, uma vez que a ideia global é mostrar “que o mundo do vinho está acessível a qualquer pessoa” e que não tem de ser snob, ao contrário do que muitos possam pensar. “Há um lado mais descontraído associado ao projeto, de modo a existir maior liberdade na partilha de experiências”, garante Marta Maia, cuja família detém vinhas em Baião (região dos Vinhos Verdes) e que, por isso, desde muito cedo se deixou fascinar por este universo.

Recém-nascida no universo das startups, o próximo passo da Nosy é a internacionalização, pelo que o trio de empreendedores está de olhos postos no Reino Unido, que enquanto mercado está mais habituado a gastar dinheiro em vinho (comparativamente com Portugal). O derradeiro objetivo é, mais tarde, chegar aos EUA.