A diplomacia portuguesa e a norte-americana estão a preparar um encontro entre Marcelo Rebelo de Sousa e o presidente Donald Trump. O ministro dos Negócios Estrangeiros disse esta sexta-feira que 2018 vai ser um “ano-chave” nas relações entre Portugal e os EUA e que a prova disso é que o Dia de Portugal vai ser comemorado em Boston. Num encontro com políticos norte-americanos lusodescendentes, Augusto Santos Silva confessou que Portugal está a preparar “encontros de alto nível” com Washington, sugerindo que o Presidente português poderia vir a ter um encontro com Trump durante as comemorações do 10 de junho. O Observador confirmou depois junto de altas fontes diplomáticas que há “negociações em curso” para um encontro entre Marcelo e Trump e que, embora ainda não esteja confirmado, “há duas datas possíveis“.

Já depois do almoço, Augusto Santos Silva voltou a não querer concretizar quais eram os encontros de alto nível que referiu. Começou por dizer que se estava a referir “à visita do Presidente da República e do primeiro-ministro” aos EUA, mas que depois “farão programas separados” de forma a que Portugal possa “tirar todo o partido possível da presença de ambos nos EUA.”

Sobre se isso significava um encontro com Donald Trump, Santos Silva não negou: “Não falemos de hipóteses. O programa ainda está a ser preparado. Ainda falta muito tempo, o foco do programa é o contacto com as populações”. Contactada pelo Observador, a Presidência da República não desmentiu a informação, limitando-se a dizer que “é público que o Presidente se vai deslocar aos EUA no âmbito das comemorações do 10 de junho“.

Durante a intervenção na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, Santos Silva enumerou vários assuntos importantes para a diplomacia dos dois países, como o “AMIGOS Act”, um projeto-lei apresentado pelo congressista David Cicilline, do estado de Rhode Island, que permite que Portugal seja incluído no nível de países elegíveis para ter vistos de não-imigrantes E-1 e E-2. O projeto chama-se AMIGOS como acrónimo de “Advancing Mutual Interests and Growing Our Success Act” permite que os portugueses entrem nos EUA como empresários e investidores não-imigrantes, caso Portugal ofereça as mesmas condições. Santos Silva disse, perante os eleitos norte-americanos presentes, que espera que “a lei seja aprovada”.

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O ministro dos Negócios Estrangeiros falou também sobre que o programa de imigração DACA (Ação Diferida para Imigração de Menores), que foi lançado por Barack Obama mas que Trump decidiu travar. Santos Silva destaca que este é um “assunto interno” dos Estados Unidos, que “Portugal respeita”, mas é também “uma preocupação portuguesa”. Os portugueses, lembra o ministro, vêem os EUA como “um país de oportunidades, uma terra de liberdade”, acrescentando que os “imigrantes deram um grande contributo para a prosperidade e crescimento da América.” Santos Silva espera, por isso, que os EUA continuem a ser “um sítio onde os sonhos se tornam realidade”. O ministro português lembra que foi cauteloso, mas que naturalmente que está preocupado com os 500 jovens portugueses que beneficiam do DACA.

O governante português antecipou também “boas notícias” para a base das Lajes, nos Açores, onde registou que têm existido avanços nas negociações entre os dois países sobre que futuro dar àquela base norte-americana, que tem perdido relevância na estratégia militar do Pentágono. Mais tarde, aos jornalistas, Santos Silva concretizou que, em termos de “relações laborais”, os dois lados estão de acordo, quanto às infra-estruturas tem havido entendimento e onde havia discórdia, como o caso da descontaminação dos solos, os norte-americanos estão dispostos a “reanalisar os seus próprios dados” sobre nove locais em que Portugal considera que deve haver intervenção, mas que, até agora, não eram reconhecidos pelos EUA.

Numa altura em que Portugal foi criticado por não seguir os seus aliados na expulsão de diplomatas russos, Santos Silva fez questão de lembrar que o país “é um dos mais antigos aliados dos EUA” e um importante parceiro. Com base num encontro que tinha tido há alguns meses com o antigo secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, Santos Silva elegeu três áreas de política externa em que Washington e Lisboa têm “interesses comuns”: Venezuela, África e Coreia do Norte.

O ministro dos Negócios Estrangeiros fez questão de lembrar a resposta de Lisboa a Pyongyang a pedido de Washington: “Portugal foi um dos primeiros países do mundo a suspender os contactos políticos e económicos com a Coreia do Norte, depois de um pedido dos EUA“. Santos Silva lembrou o interesse comum em que a Coreia do Norte pare com o programa nuclear e que Lisboa promove sempre uma postura de diálogo.

Sobre a Venezuela, Augusto Santos Silva diz que é igualmente uma preocupação de ambos os países e que Portugal tem um interesse particular devido à quantidade de portugueses e lusodescendentes naquele país. Na próxima semana, o ministro dos Negócios Estrangeiros venezuelano vem a Portugal. Sobre se se encontrará com o seu homólogo, Santos Silva disse aos jornalistas que estará na Irlanda nessa data, mas que encontrará forma de comunicar com o país. “A nossa posição é que nós falamos com todos”, lembrou o ministro.