A Polícia Judiciária e o Ministério Público estarão a investigar o Marítimo-Benfica, jogo relativo à 33.ª e penúltima jornada do Campeonato de 2015/16 que terminou com o triunfo dos encarnados por 2-0 (golos de Mitroglou e Talisca na segunda parte, quando a equipa estava reduzida a dez por expulsão de Renato Sanches) e que colocou a equipa a apenas um triunfo do título, que seria confirmado na ronda seguinte, na Luz, frente ao Nacional.

Polícia Judiciária junta alegada viciação de resultados a processo dos vouchers e dos emails

De acordo com uma reportagem transmitida esta quarta-feira pela SIC, três intermediários terão abordado jogadores dos insulares durante a semana, um deles César Boaventura, agente que tem sido apontado há vários meses por FC Porto e Sporting de aliciar atletas em benefício das águias e que já tinha reagido à notícia durante o dia.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na reconstituição apresentada pelo canal num breve excerto que abriu o Jornal da Noite, um intermediário aborda um jogador e pergunta se o mesmo irá jogar. “O treinador é que sabe, mas acho que sim”, responde. “Estamos aqui pelo Benfica, para não rematares, não jogares como é habitual, e em troca damos 40 mil euros”, dizem então os alegados intermediários. Perante a recusa do elemento abordado, é pedido apenas para que não comente aquela conversa por ninguém até porque “o Benfica é muito grande”. O encontro durou dois a três minutos e teve lugar dois dias antes do jogo no Pestana Casino Parque, com dois intermediários que terão viajado nessa sexta-feira para a Madeira e que o jogador confessa não conhecer nem saber quem eram essas pessoas.

Empresário ligado ao Benfica suspeito de tentar aliciar quatro jogadores do Marítimo

A SIC destaca que, como ponto de partida, teve informações de que um conjunto de agentes desportivos tentaria aliciar jogadores de vários conjuntos, de Norte a Sul. Em relação à partida entre Marítimo e Benfica, há ainda um outro jogador que diz ter sido alegadamente abordado pelo empresário César Boaventura para que “o jogo corresse bem” aos encarnados, havendo como contrapartida um contrato muito melhor na época seguinte com as águias. Um dos jogadores que falou no anonimato sobre um incentivo extra do Sporting, que corria contra o clube da Luz na luta pelo título, de 400 mil euros para o plantel, que daria cerca de 13 mil euros por jogador (então legal, porque apenas a partir de 2017 passou a ser crime aquilo que se denominou no mundo do futebol por “jogo da mala”).

“Vi mas não vou dizer nomes porque não posso porque não estaria a proteger-me a mim… Paulo Gonçalves, fico-me por aqui”, diz o mesmo jogador que falou sob anonimato, respondendo à pergunta se teria visto coisas estranhas neste âmbito de pessoas ligadas de forma direta ao Benfica.

Casos vouchers, emails, Lex e e-toupeira: o que pode acontecer ao Benfica e aos seus dirigentes

“Estive no Funchal em 2016, não consigo precisar a data, para falar com um jogador que estava em final de contrato com o Marítimo. É essa a minha função, sou agente de jogadores. Não tem cabimento essa questão [de ter falado com jogadores para o Benfica ganhar], nunca fiz nada disso e o jogador tem de provar. Não trabalho nem para o CashBall nem para o Apito Dourado. O Sporting anda a comprar jogadores para andarem a mentir, assim como outras instituições tentaram fazer o mesmo comigo”, comentou César Boaventura.

Também à SIC, em resposta por escrito, o Benfica voltou a negar qualquer ligação ao caso, garantindo que “nunca foi ouvido sobre esse ou qualquer outro jogo por qualquer autoridade judicial”. “Para nós o momento e a forma pouco transparente de quem levanta esta insinuação visa tão só desviar atenções de processos esses sim com arguidos constituídos e milhares em cofres”, acrescentaram, numa alusão à operação CashBall que envolve o Sporting e o team manager do futebol, André Geraldes, além de dois intermediários e mais um funcionário do clube. Já os leões negaram ter oferecido qualquer verba aos jogadores do Marítimo para roubarem pontos aos encarnados, dizendo que não é sua prática mas que, na altura, esse tipo de incentivos não constituía qualquer tipo de ilegalidade.

Operação Cashball quer saber como era financiado o alegado saco azul do Sporting e desconfia do envolvimento de mais dirigentes do clube

De referir que, há sensivelmente um mês, o Expresso noticiou que a PJ e o Ministério Público estariam a investigar todos os jogos do tetracampeonato do Benfica, entre 2013 e 2017, bem como os 31 encontros da presente temporada realizados até esse momento por haver alegadamente resultados combinados em benefício dos encarnados. Na altura, o jornal acrescentou que as autoridades teriam não só SMS mas também mensagens e cópias de correspondência trocada via WhatsApp e Messenger, além dos telemóveis que estariam a ser analisados. Existiriam ainda vários elementos alvo de monitorização, por forma a tentar comprovar as suspeitas que recairiam nessa fase sobre o clube da Luz, a propósito de um alegado domínio do futebol nacional. O Benfica desmentiu qualquer ligação a atos ilícitos praticados nesse período através de um comunicado oficial colocado no site do clube.

Polícia Judiciária e Ministério Público investigam todos os jogos do tetra do Benfica

De referir que o Marítimo-Benfica entronca no período futebolístico mais vezes abordado por diferentes órgãos em relação à investigação que estará a ser feita pela Polícia Judiciária. No final do último ano, o Correio da Manhã, na sequência do Feirense-Rio Ave que estaria sob investigação, avançou que haveria suspeitas em relação ao Rio Ave-Benfica, na segunda volta desse mesmo Campeonato de 2015/16. No dia seguinte, entre desmentidos do clube da Luz, a RTP avançou que estariam em causa cinco jogos, todos nesse período. Ao Observador, algumas fontes contactadas tinham referido a existência de dois encontros que estariam a merecer uma atenção especial.

PJ estará a investigar mais jogos do Benfica, águias falam em campanha contra o clube