A Polícia Judiciária e o Ministério Público estarão a investigar todos os jogos do tetracampeonato do Benfica, entre 2013 e 2017, bem como os 31 encontros da presente temporada, segundo avança este sábado o jornal Expresso (conteúdo fechado). Em causa estarão resultados alegadamente combinados em benefício das águias.

De acordo com a publicação, e além dos compromissos para o Campeonato desta época que se encontra a três rondas do final, a Justiça estará a analisar todos os 130 jogos do período em que os encarnados venceram um inédito tetra na sua história, por suspeitas de que um ou mais intermediários possam ter abordado jogadores adversários. Ainda assim, “e por razões estratégicas”, não existirão ainda suspeitos formais, sendo expectável que em breve sejam chamados alguns futebolistas como arguidos face aos elementos de prova entretanto encontrados.

As autoridades terão não só SMS mas também mensagens e cópias de correspondência trocada via WhatsApp e Messenger, além dos telemóveis que estarão a ser analisados. Existirão ainda vários elementos alvo de monitorização pela Polícia Judiciária e pelo Ministério Público, por forma a tentar comprovar as suspeitas que recairão nesta fase sobre o Benfica, a propósito de um alegado domínio do futebol nacional.

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Acrescente-se que, depois do caso dos vouchers e do caso dos emails, que a investigação acabou por juntar apenas num só, também a questão dos jogos combinados acabou por integrar este processo. Tudo começou quando o Correio da Manhã avançou com as alegadas suspeitas sobre o jogo Rio Ave-Benfica da temporada 2015/16, que os encarnados venceram por 1-0. No dia seguinte, a RTP falou num total de cinco encontros dessa mesma época que estariam a ser investigados, o que motivou uma forte resposta dos encarnados em comunicado. De acordo com as fontes contactadas, o Observador confirmou que, além desse jogo em Vila do Conde, havia pelo menos mais dois referentes à segunda volta desse Campeonato de 2015/16 que estariam a ser alvo de escrutínio.

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Uma semana de contra ataque, de mais emails e de denúncias

Esta é mais uma notícia numa semana que tem sido particularmente agitada no futebol português fora das quatro linhas, sobretudo depois de uma denúncia anónima revelada pelo jornal I que teria sido enviada não só para o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e para a Procuradoria-Geral da República (PGR) mas também para o Ministério da Justiça, para a Polícia Judiciária, para a Federação Portuguesa de Futebol e para a Liga de Clubes. Aí, era descrita uma alegada rede montada pelo FC Porto através de dirigentes, elementos ligados a órgãos da Justiça, forças policiais e meios de comunicação no sentido de acabar com a hegemonia do Benfica.

Nesse mesmo dia, através das suas plataformas de comunicação, os encarnados acabaram por apontar todos os nomes que, no seu entender, estariam ligados a essa mesma estrutura que teria sido apresentada na denúncia anónima, apontando que a base era formada pelo Adelino Caldeira, administrador da SAD; Luís Gonçalves, diretor-geral do futebol; Manuel Tavares, diretor-geral de media; e Francisco J. Marques, diretor de comunicação. Haveria ainda os contributos de José Manuel Matos Fernandes, presidente da Mesa da Assembleia Geral do clube e juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, e mais três agentes da Polícia Judiciária do Porto.

Foram ainda referidos outros nomes que estariam diretamente ligados a toda esta estratégia, incluindo pessoas do Sporting como o diretor de comunicação Nuno Saraiva. Entre os elementos referidos, encontrava-se também o deputado do PS Tiago Barbosa Ribeiro, que anunciou pretender avançar com uma queixa contra as águias. Este sábado, a direcção do jornal Expresso fez também uma nota sobre o assunto.

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De acordo com o Expresso deste sábado, as fontes da Justiça contactadas suspeitam que, perante a ligação temporal dos factos, a denúncia supostamente anónima terá partido do próprio Benfica, não só essa mas também uma contra o guarda-redes do Marítimo Amir, que irá defrontar o FC Porto no próximo domingo, e que levou várias pessoas ligadas ao futebol inclusive Carlos Queiroz, selecionador do Irão, a utilizar a expressão “lamaçal”.

Tudo isto numa semana em que foi também revelada mais correspondência eletrónica de responsáveis das águias no blogue Mercado de Benfica, neste caso do administrador da SAD Domingos Soares de Oliveira. O alegado plano do Benfica para controlar vários setores do futebol, explícito ao longo de 49 slides preparados para a VIII Reunião de Quadros do clube em junho de 2012, preparados para “definir e implementar uma estratégia coerente a cinco anos”, revelam esses mesmos objetivos numa “vertente externa”. Entre várias metas faziam parte “o reforço do controlo/influência nas diferentes áreas do poder na indústria”, a nível de “Federação e respetivos Conselhos de Arbitragem”, “poder político”, “meios de comunicação/media” e “judicial”.

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Em paralelo, e depois de um primeiro pedido de indemnização interposto pelo Benfica ao FC Porto, no valor total de 17,7 milhões de euros, por concorrência desleal, o advogado dos encarnados, João Correia falou que esse passo seria apenas “o início de uma longa marcha para punir todos os que atacaram o Benfica”. “Isto é apenas o princípio de uma procissão que ainda nem sequer saiu do adro. Todos aqueles que ofenderam e atacaram o Benfica nas mais diversas vertentes (desportiva, moral, económica, empresarial, imagem, honra, dignidade, etc.) vão ser judicialmente acionados, não há dúvidas sobre isso”, afirmou João Correia, em declarações ao site do clube.

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“Estão à espera que chegue o padre… Cá para mim vai ser uma procissão aos quadradinhos”, respondeu Francisco J. Marques, diretor de comunicação do FC Porto, através da sua conta no Twitter. “E a procissão continua no adro e já o andor vai a cair…”, referiu, após a notícia de que todos os jogos das águias estariam sob investigação.