O embaixador dos Estados Unidos em Portugal, George Edward Glass, disse esta quinta-feira aos jornalistas que o memorando celebrado entre a Altice e a Huawei para a construção da infraestrutura de rede 5G — que vai substituir as atuais ligações à Internet e promete velocidades mais fiáveis e rápidas — “não está nada fechado”.
Glass acrescentou que, sendo Portugal um dos “parceiros mais próximos na NATO”, se o país optar por redes que os EUA não confiam que sejam seguras, isso afetaria a relação com os norte-americanos.
Isto é tudo sobre segurança. Se olhar para a relação de segurança que temos com os nossos parceiros da NATO, Portugal é um dos nossos aliados mais próximos. Se estivermos a falar relativamente a informação sensível em redes que não estamos confiantes de que sejam seguras [como componentes de empresas chinesas no 5G], acho que isso ia afetar a relação [entre Portugal e os EUA]”, afirmou.
As declarações surgem no momento em que Portugal tem estreitado as relações com a empresa de telecomunicações chinesa para começar as construir as infraestruturas 5G. A China, que atualmente está à frente nesta tecnologia, tem sido criticada por vários governos, como o norte-americano e australiano, por influenciar a Huawei no controlo de infraestruturas críticas de comunicações dos país, algo que a Huawei tem negado veemente.
A conversa com os jornalistas contou com a presença de Ajit Pai, responsável da FCC (Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos da América, o equivalente à ANACOM), que veio a Portugal diretamente do Mobile World Congress, em Barcelona, (MWC), para “partilhar informação útil para os nossos parceiros portugueses, especialmente num assunto tão importante como a segurança nas telecomunicações”.
Fomos muitos claros com os nossos parceiros de segurança de que devemos proteger as nossas telecomunicações críticas. A América está a pedir a todos os parceiros para estarem vigilantes e para rejeitarem qualquer projeto que comprometa a integridade das nossas comunicações ou o nosso sistema nacional de segurança”, disse George Edward Glass.
Pai, que já se reuniu com responsáveis governamentais portugueses, começou por salientar que “Portugal é dos aliados mais antigos dos Estados Unidos da América, uma aliança quase tão antiga como os próprios EUA e em lado algum está a relação mais forte do que nas telecomunicações”. Já o embaixador, afirma que o memorando celebrado entre a Altice e a Huawei para a construção destas redes, “não é nada fechado”. Este acordo foi celebrado durante a visita do presidente chinês Xi Jinping a Portugal, em dezembro.
Ajit Pai está numa curta visita a Portugal (termina amanhã) e “durante a sua visita a Portugal, está a participar numa delegação governamental que tem reuniões marcadas com vários líderes governamentais e empresariais Portugueses, incluindo representantes da ANACOM, o Ministério da Infraestrutura, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros, avançou a embaixada dos EUA. É a primeira vez que este responsável da FCC, que se tornou polémico em 2017, com a mudança jurídica relativamente à neutralidade da rede nos Estados Unidos da América, visita o país.
Ao Observador, a Huawei, na sequência das declarações do embaixador norte-americano, confirmou que a Altice, ao não cumprir o memorando, não vai incorrer em nenhuma quebra contratual com a empresa chinesa e que o negociado “foi apenas um memorando”.
Ajit Pai, nesta conversa com jornalistas, afirmou também: “Acreditamos que o futuro da economia da Internet pode muito bem depender do 5G em coisas como a telemedicina, agricultura e noutros campos. Por isso é que a FCC tem sido muito agressiva em pôr mais espectros de rede no mercado comercial para modernizar as nossas regras, melhorar a infraestrutura e para garantir a liderança dos Estados Unidos da América neste campo”.
O norte-americano acrescentou ainda que acredita “que o 5G representa oportunidade tremendas em termos de crescimento económico, criação de empregos e empreendedorismo”, disse Pai, salientando que “com a transformação das redes sem fios, vem uma preocupação de segurança”.
Viemos para Portugal, vindos do Mobile World Congress, em Barcelona, onde vários responsáveis de todo o governo norte-americano, como a FCC, o departamento de Estado, o departamento de Comércio, a Agência dos Estados Unidos da América para desenvolvimento internacional e o departamento norte-americano da Defesa, tiveram a hipótese de encontrar-se com os homólogos europeus e de outros lados do mundo. Foi gratificante ouvir que dão uma importância semelhante não só à relação que estes países têm com os Estados Unidos da América, como com este valor de segurança com as redes ICT [tecnologias de comunicação e informação]”, disse Ajit Pai.
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A principal missão dos representantes norte-americanos da FCC e do departamento de Estado em Portugal é fazer com que os responsáveis governamentais portugueses partilhem as “preocupações de segurança” que os EUA têm levantado. Contudo, ao não confiar que a China forneça a tecnologia necessária para o 5G, Pai diz que é preciso confiar nos Estados Unidos da América, tendo em conta que não há outros países com avanços nesta tecnologia. “Termos valores democráticos — geralmente — tem proibido o governo americano de perseguir algumas das práticas [menos democráticas”, afirma Ajit Pai quanto à razão para Portugal confiar neste antigo aliado.
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Da nossa perspetiva, o nosso governo tem um número de medidas jurídicas para garantir que o serviço de inteligência que é feito nos Estados Unidos da América é tratado de forma própria. Por exemplo, ao ter de ir a tribunais independentes para identificar um pedido, as empresas podem pôr em causa o que é decidido”, diz Ajit Pai.
“Portugal partilha esses valores democráticos também e essa é parte da razão porque valorizamos tanto esta relação e porque a FCC, o departamento de Estado e outros estão cá”, disse o responsável da FCC. Quanto às reuniões que foram realizadas esta quinta-feira entre responsáveis portugueses e norte-americanos, Pai afirma que “sente” que que “todos os responsáveis governamentais na sala estavam em consenso para garantir a segurança dos países enquanto se entra na Era do 5G”.
Desde 2018 que os Estados Unidos da América têm “proibido a utilização de fundos federais de serem gastos em equipamentos ou serviços que venham de empresas que tenham sido consideradas pelo governo americano como um risco para a segurança nacional”, como explicou Pai. Esta proibição política tem tido como principal alvo a Huawei, numa polémica guerra comercial que levou à detenção de Wanzhou Meng, diretora financeira da Huawei e filha do fundador da empresa. Contudo, outra empresas chinesas, como a ZTE, estão também banidas.
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Esta proibição não tem levado apenas a que produtos como os smartphones da Huawei não sejam sequer vendidos por operadoras de telecomunicações nos Estados Unidos da América, como também tem causado danos na venda de antenas e infraestruturas de telecomunicações.
Com o 5G a ser a principal tendência para o futuro das telecomunicações, e com o mercado chinês a estar à frente de empresas norte-americanas no que toca à inovação de redes, esta corrida pela liderança das próximas infraestruturas de rede tem chamado bastante a atenção do governo norte-americano. Recentemente, Donald Trump, presidente norte-americano, pediu no Twitter que os EUA fossem líderes no 5G “e até no 6G”, sendo que esta última é um tipo de rede que não existe.
I want 5G, and even 6G, technology in the United States as soon as possible. It is far more powerful, faster, and smarter than the current standard. American companies must step up their efforts, or get left behind. There is no reason that we should be lagging behind on………
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) February 21, 2019