O ex-administrador do BES José Maria Ricciardi entende que a resolução do Novo Banco foi “um erro colossal”. Em entrevista ao Público, o banqueiro mostrou-se também convicto sobre o desfecho das investigações à gestão de Ricardo Salgado, seu primo. As críticas, essas, apontam em várias direções: ao anterior Governo, de Pedro Passos Coelho, ou à forma como foi gerido todo o processo.

É a primeira entrevista que dá desde a resolução do banco, e, sobre esse tema, Ricciardi criticou o antigo primeiro-ministro, Passos Coelho: “Eu aqui critico mais o dr. Pedro Passos Coelho e sou insuspeito pela relação muito forte que tenho com ele. O problema é mesmo a Resolução, que nunca devia ter sido feita. E não foi o Banco de Portugal que a quis, foi a União Europeia que a impôs, para fazer aqui uma nova experiência que praticamente não repetiu em mais lado nenhum.”

O ex-administrador do BES referiu aquilo que diz ser o “problema endémico dos governos portugueses”, que “nunca enfrentam a UE”, acusando o executivo de Passos de não ter tido “coragem”, acrescentando: “não bateu o pé a esta solução”. Ricciardi afirmou também culpar “mais o governo de Passos Coelho e a sua atitude face às autoridades europeias”, sendo que “não avaliaram bem as consequências da Resolução que ainda hoje estamos a viver”.

Sobre o Novo Banco, que foi vendido ao fundo norte-americano Lone Star, o ex-administrador do BES acusou: “o Fundo de Resolução está a transferir dinheiro para as empresas de recuperação de crédito”. E explicou ainda: “Se é para usar o dinheiro do Estado para ir saneando o banco, faria mais sentido mantê-lo na esfera pública, escolhendo gestores profissionais, vendendo-o quando o banco estivesse em melhores condições. Agora ser um privado a gerir os dinheiros do Estado é uma solução que nunca vi em lado nenhum”. Nesta entrevista, Ricciardi defendeu ainda que “no Novo Banco há um problema de rentabilidade e de atividade económica por resolver”.

Questionado sobre se aceita a tese de que o Governo e o Novo Banco justificam o agravamento das imparidades alegando que os problemas vêm detrás — do tempo do BES — Ricciardi responde categoricamente: “Sou insuspeito, mas se a culpa é da gestão do dr. Salgado, por que razão as imparidades não foram apuradas quando o Novo Banco foi criado?”

José Maria Ricciardi foi visado em processos do Banco de Portugal, enquanto gestor do GES (final de 2011 até junho de 2014) e administrador do BES, tendo sido este ano absolvido pelo supervisor. Para o banqueiro, “fez-se justiça”. Aquele que contestou publicamente a gestão de Ricardo Salgado afirmou ainda: “Não tenho dúvidas que levarão a condenações”, referindo-se às investigações policiais e do Ministério Público ao BES, GES e PT.

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