O pé a limpar o pó de tijolo na linha de fundo antes do serviço, o ajeitar dos calções, os dedos a colocar o cabelo atrás da orelha. Quase uma década e meia depois, há coisas que não mudam em Rafael Nadal mas aquele miúdo acabado de fazer 19 anos que ganhou o seu primeiro Grand Slam da carreira em 2005 é hoje um homem de 33 anos com o corpo marcado por problemas físicos que o foram apoquentando ao longo do tempo. Também por isso, o espanhol foi tentando adaptar-se ao contexto em que está inserido. Até nas coisas pequenas a que ninguém liga ou nos pormenores que são apenas falados quando se chega ao sucesso.

A Marca explicava este domingo a importância da alimentação não só para o êxito de Nadal mas também de Thiem, austríaco que chegou pelo segundo ano consecutivo à final da Roland Garros após eliminar Novak Djokovic nas meias que começaram na sexta-feira, continuaram sábado de manhã e acabaram apenas à tarde. No caso do espanhol, o trabalho foi feito a longo prazo: passou a ter outro cuidado com o que comia para ter menos lesões e uma recuperação mais rápida das mesmas, com uma dieta baseada em arroz, vegetais, peixe e marisco. Objetivo final? Poder movimentar-se em campo de forma mais rápida.

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No entanto, o grande segredo de Rafa Nadal está hoje no que faz durante os jogos. Em particular, no que leva no saco para o court e vai comendo durante os jogos: em vez das barras energéticas do passado, quando tinha um corpo mais “largo” e um tipo de ténis mais explosivo e em potência, passou a ter sempre consigo tâmaras, “que têm um efeito imediato no corpo e não afetam o estômago”, como explicou à publicação o médico da Federação Espanhola de Ténis, Ángel Ruiz Cotorro. “Marcamos uma espécie de períodos para comer. A ideia é que seja a partir dos 40 minutos de jogo. Às vezes esquece-se e somos nós que o temos de recordar. Com a parte da hidratação não há problemas porque as garrafas fazem parte da sua vida”, acrescentou.

Essa nova “arma” terá dado jeito na batalha do espanhol frente a Thiem, bem mais consistente e evoluído do que na final do ano passado: nas alturas mais importante dos sets, cada ida à cadeira servia quase como bálsamo para Nadal recuperar o seu melhor jogo. Depois, houve a arma de sempre – a força mental. E se o terceiro set praticamente não teve história (6-1, com dois breaks a abrir nos jogos de serviço do austríaco), o primeiro obrigou Nadal a aguentar vários breaks e a conseguir um contra break que faria toda a diferença nas contas finais desse parcial (6-3) e o quarto teve mais uma vez o austríaco de 25 anos a ameaçar passar para a frente sem sucesso nos jogos de serviço do espanhol (6-1). Esta final não deixou dúvidas que Thiem – que venceu o segundo set por 7-5 com um break no último jogo de Nadal – é o príncipe herdeiro de Nadal na terra batida, mas também não deixa de ser verdade que, aos 33 anos, o espanhol permanece como rei e senhor na terra sagrada de Roland Garros.

E esta viagem no tempo para a imortalidade começou com um alemão pouco conhecido hoje com 43 anos Lars Burgsmüller. Foi ele o primeiro adversário que o espanhol derrotou em Roland Garros na primeira ronda da edição de 2005, começando um legado que só consegue ter a verdadeira dimensão colocando, ano a ano, todas as campanhas do jogador em Paris:

  • 2005 (vencedor): Lars Burgsmüller (Alemanha, 6-1, 7-6 e 6-1), Xavier Malisse (Bélgica, 6-2, 6-2 e 6-4), Richard Gasquet (França, 6-4, 6-3 e 6-2), Sébastien Grosjean (França, 6-4, 3-6, 6-0 e 6-3), David Ferrer (Espanha, 7-5, 6-2 e 6-0), Roger Federer (Suíça, 6-3, 4-6, 6-4 e 6-3) e Mariano Puerta (Argentina, 6-7, 6-3, 6-1 e 7-5)
  • 2006 (vencedor): Robin Söderling (Suécia, 6-2, 7-5, 6-1), Kevin Kim (Estados Unidos, 6-2, 6-1 e 6-4), Paul-Henri Mathieu (França, 5-7, 6-4, 6-4 e 6-4), Lleyton Hewitt (Austrália, 6-2, 5-7, 6-4 e 6-2), Novak Djokovic (Sérvia, 6-4, 6-4 e desistência), Ivan Ljubicic (Cróacia, 6-4, 6-2 e 7-6) e Roger Federer (Suíça, 1-6, 6-1, 6-4 e 7-6)
  • 2007 (vencedor): Juan Martin del Potro (Argentina, 7-5, 6-3 e 6-2), Flavio Cipolla (Itália, 6-2, 6-1 e 6-4), Albert Montáñes (Espanha, 6-1, 6-3 e 6-2), Lleyton Hewitt (Austrália, 6-3, 6-1 e 7-5), Carlos Moyá (Espanha, 6-4, 6-3 e 6-0), Novak Djokovic (Sérvia, 7-5, 6-4 e 6-2) e Roger Federer (Suíça, 6-3, 4-6, 6-3 e 6-4)
  • 2008 (vencedor): Thomaz Bellucci (Brasil, 7-5, 6-3 e 6-1), Nicolas Devilder (França, 6-4, 6-0 e 6-1), Jarkko Nieminen (Finlândia, 6-1, 6-3 e 6-1), Fernando Verdasco (Espanha, 6-1, 6-0 e 6-2), Nicolás Almagro (Espanha, 6-1, 6-1 e 6-1), Novak Djokovic (Sérvia, 6-4, 6-2 e 7-6) e Roger Federer (Suíça, 6-1, 6-3 e 6-0)
  • 2009 (quarta ronda): Marcos Daniel (Brasil, 7-5, 6-4 e 6-3), Teymuraz Gabashvili (Rússia, 6-1, 6-4 e 6-2), Lleyton Hewitt (Austrália, 6-1, 6-3 e 6-1) e Robin Söderling (Suécia, 2-6, 7-6, 4-6 e 6-7)
  • 2010 (vencedor): Gianni Mina (França, 6-2, 6-2 e 6-2), Horacio Zabellos (Argentina, 6-2, 6-2 e 6-3), Lleyton Hewitt (Austrália, 6-3, 6-4 e 6-3), Thomaz Bellucci (Brasil, 6-2, 7-5 e 6-4), Nicolás Almagro (Espanha, 7-6, 7-6 e 6-4), Jürgen Melzer (Áustria, 6-2, 6-3 e 7-6) e Robin Söderling (Suécia, 6-4, 6-2 e 6-4)
  • 2011 (vencedor): John Isner (Estados Unidos, 6-4, 6-7, 6-7, 6-4 e 6-2), Pablo Andújar (Espanha, 7-5, 6-3 e 7-6), Antonio Veic (Croácia, 6-1, 6-3 e 6-0), Ivan Ljubicic (Croácia, 7-5, 6-3 e 6-3), Robin Söderling (Suécia, 6-4, 6-1 e 7-6), Andy Murray (Grã-Bretanha, 6-4, 7-5 e 6-4) e Roger Federer (Suíça, 7-5, 7-6, 5-7 e 6-1)
  • 2012 (vencedor): Simone Bolelli (Itália, 6-2, 6-2 e 6-1), Denis Istomin (Uzbequistão, 6-2, 6-2 e 6-0), Eduardo Schwank (Argentina, 6-1, 6-3 e 6-4), Juan Mónaco (Argentina, 6-2, 6-0 e 6-0), Nicolás Almagro (Espanha, 7-6, 6-2 e 6-3), David Ferrer (Espanha, 6-2, 6-2 e 6-1) e Novak Djokovic (Sérvia, 6-4, 6-3, 2-6 e 7-5)
  • 2013 (vencedor): Daniel Brands (Alemanha, 4-6, 7-6, 6-4 e 6-3), Martin Klizan (Eslováquia, 4-6, 6-3, 6-3 e 6-3), Fabio Fognini (Itália, 7-6, 6-4 e 6-4), Kei Nishikori (Japão, 6-4, 6-1 e 6-3), Stanislas Wawrinka (Suíça, 6-2, 6-3 e 6-1), Novak Djokovic (Sérvia, 6-4, 3-6, 6-1, 6-7 e 9-7) e David Ferrer (Espanha, 6-3, 6-2 e 6-3)
  • 2014 (vencedor): Robert Ginepri (Estados Unidos, 6-0, 6-3 e 6-0), Dominic Thiem (Áustria, 6-2, 6-2 e 6-3), Leonardo Mayer (Argentina, 6-2, 7-5 e 6-2), Dusan Lajovic (Sérvia, 6-1, 6-2 e 6-1), David Ferrer (Espanha, 4-6, 6-4, 6-0 e 6-1), Andy Murray (Grã-Bretanha, 6-3, 6-2 e 6-1) e Novak Djokovic (Sérvia, 3-6, 7-5, 6-2 e 6-4)
  • 2015 (quartos): Quentin Halys (França, 6-3, 6-3 e 6-4), Nicolás Almagro (Espanha, 6-4, 6-3 e 6-1), Andrey Kuznetsov (Rússia, 6-1, 6-3 e 6-2), Jack Sock (Estados Unidos, 6-3, 6-1, 5-7 e 6-2) e Novak Djokovic (Sérvia, 5-7, 3-6 e 1-6)
  • 2016 (terceira ronda, desistência): Samuel Groth (Austrália, 6-1, 6-1 e 6-1), Facundo Bagnis (Argentina, 6-3, 6-0 e 6-3) e Marcel Granollers (Espanha, desistência)
  • 2017 (vencedor): Benoit Paire (França, 6-1, 6-4 e 6-1), Robin Haase (Holanda, 6-1, 6-4 e 6-3), Nicoloz Basilashvili (Geórgia, 6-0, 6-1 e 6-0), Roberto Bautista Agut (Espanha, 6-1, 6-2 e 6-2), Pablo Carreño Busta (Espanha, 6-2, 2-0 e desistência), Dominic Thiem (Áustria, 6-3, 6-4 e 6-0) e Stanislas Wawrinka (Suíça, 6-2, 6-3 e 6-1)
  • 2018 (vencedor): Simone Bolelli (Itália, 6-4, 6-3 e 7-6), Guido Pella (Argentina, 6-2, 6-1 e 6-1), Richard Gasquet (França, 6-3, 6-2 e 6-2), Maximilian Marterer (Alemanha, 6-3, 6-2 e 7-6), Diego Schwartzman (Argentina, 4-6, 6-3, 6-2 e 6-2), Juan Martin del Potro (Argentina, 6-4, 6-1 e 6-2) e Dominic Thiem (Áustria, 6-4, 6-3 e 6-2)
  • 2019 (venced0r): Yannick Hanfmann (Alemanha, 6-2, 6-1 e 6-3), Yannick Maden (Alemanha, 6-1, 6-2 e 6-4), David Goffin (Bélgica, 6-1, 6-3, 4-6 e 6-3), Juan Ignacio Londero (Argentina, 6-2, 6-3 e 6-3), Kei Nishikori (Japão, 6-1, 6-1 e 6-.3), Roger Federer (Suíça, 6-3, 6-4 e 6-2) e Dominic Thiem (Áustria, 6-3, 5-7, 6-1 e 6-1)