A concorrência faz “milagres” no que respeita à qualidade e à sofisticação dos veículos eléctricos. Mas tem igualmente a vantagem de obrigar os preços a descer, mesmo se os modelos passam a oferecer motores mais possantes e baterias com maior capacidade, para poderem fazer disparar a autonomia. Esta realidade é válida em todos os segmentos, como aliás se pode constatar com a Tesla, que assim que surgiram os concorrentes Audi e-tron, Mercedes EQC e até o Porsche Taycan, rapidamente tratou de cortar o preço dos seus Model S e X em quase 40%.
Mas todos estes veículos, independentemente das qualidades que possuem – e são muitas –, não se vão converter em best sellers, uma vez que os seus preços elevados, que com a adopção de algum equipamento facilmente superam os 100.000€ (200.000€ no caso do Taycan), afastam a maioria, os que procuram veículos mais acessíveis. Estes têm de esquecer os Tesla e apontar aos utilitários, tipo Renault Zoe, ou ainda mais abaixo em termos de dimensões, aos citadinos, como o VW e-up!. Pelo menos, até o construtor norte-americano decidir conceber um modelo mais pequeno e barato do que o Model 3.
Zoe apertado pela concorrência
O Renault Zoe sempre liderou folgado o segmento dos utilitários eléctricos, ou não fosse ele o único. A realidade é que sempre figurou entre os eléctricos mais vendidos no mercado europeu, ele que praticamente não vende fora do Velho Continente. Em 2018, comercializou cerca 39.000 unidades, mas deverá ver este número crescer quase para 60.000, o que lhe deveria dar a liderança na Europa, a menos que o Model 3 o surpreenda.
Ao Zoe não faltam atributos e a nova geração, que chegará ao mercado em meados de Novembro, reforça ainda mais os seus pergaminhos. A bateria cresce de 41 para 52 kWh, sem aumentar de volume e empurrando o peso para cima em apenas 20 kg, o que permite ao utilitário da Renault ver a autonomia subir dos anteriores 300 km (já em WLTP) para 395 km, um respeitável valor, especialmente neste segmento de modelos com pouco mais de quatro metros.
O novo Zoe é oferecido com duas capacidades de bateria (41 e 52 kWh) e dois níveis de potência (110 e 135 cv), mas a sua versão mais em conta será proposta por 31.900€, menos 1.200€ do que anteriormente. Sendo de esperar, por aquilo que França já anunciou, grande agressividade em matéria de financiamento, com a possibilidade de fazer um leasing por cerca de 200€, incluindo as baterias. Tudo porque em 2020, e nos anos seguintes, a Renault faz questão de continuar a aumentar as vendas do Zoe ao mesmo ritmo.
Fará parte da estratégia da Renault substituir o Zoe por uma nova geração que ande mais, vá mais longe e seja mais sofisticada, mas a redução do preço ficou a dever-se à chegada de três (ou mesmo quatro) concorrentes à altura, todos eles em representação da PSA. Do Citroën C3 eléctrico nada se sabe e do DS 3 Crossback E-Tense apenas que vai ser posicionado como um crossover mais luxuoso, mas as propostas da Opel, com o Corsa-e e da Peugeot com o e-208, visam ambas o Zoe da Renault.
Ambos os modelos partilham a mesma plataforma e mecânica, com bateria de 50 kWh, motor de 136 cv e autonomia de 340 km para o Peugeot e 330 km para o Opel. Ambos anunciam ainda a possibilidade de recarregar a 100 kW em DC (carga rápida) e 11 kW em AC (carga normal), contra 50 kW em DC e 22 kW em AC, do Zoe. O Corsa-e deverá chegar ao nosso mercado em Janeiro, tal como o e-208, com a vantagem dos representantes da PSA entre os carros a bateria proporem preços bastantes competitivos.
O Opel arranca nos 29.990€ em Portugal, esperando-se 32 mil euros para o Peugeot, ou seja, sensivelmente o preço de entrada do Zoe.
Citadinos por menos 10.000€ que utilitários
Em termos de autonomia, os novos citadinos são os antigos utilitários. Complicado? Já explicamos. Até há semanas atrás, ou seja, antes do anúncio desta nova geração de utilitários da Renault, Peugeot e Opel, o normal deste segmento era definido pelo Zoe, que tinha motores de 92 cv ou 110 cv, autonomia de 300 km e um preço de 32 mil euros.
A novidade é que surgiram três citadinos – na realidade é o mesmo, mas com frentes distintas e emblemas diferentes – que oferecem praticamente o mesmo em potência (83 cv) e em autonomia (260 km), mas por um preço pouco superior a 20.000€. Referimo-nos aos VW e-up!, Seat Mii electric e Skoda Citigoe iV, modelos que já podem ser encomendados e que têm a chegada ao nosso pais agendada para o início de 2020.
Aproveitando a evolução na química das baterias, as três marcas do Grupo Volkswagen conseguiram acomodar acumuladores com uma capacidade de 36,8 kWh, onde até há uns meses apenas cabiam 18,7 kWh, o que diz tudo sobre a evolução operada ao nível das baterias. A maior capacidade assegura uma autonomia mais generosa, com os anteriores 135 km entre recargas a aumentarem para uns mais expressivos (e aliciantes) 260 km. Quase tanto quanto o anunciado por um Nissan Leaf (270 km).
Os Seat Mii electric, Skoda Citigoe iV e Volkswagen e-up! distinguem-se entre si por pequenas alterações ao nível da frente e da traseira, com o posicionamento no mercado a justificar a diferença nos preços. O Volkswagen deverá custar um pouco mais de 20.000€, com o Seat e o Skoda a dever assumir um preço mais próximo dos 20.000€, ou ligeiramente abaixo.
Com o apoio de um sistema de multimédia actualizado, uma app com maior potencial e mais funcional, além de um preço muito mais acessível, estes três novos citadinos eléctricos poderão ser a proposta ideal para quem deseja um eléctrico prático e funcional, pequeno e ágil para a cidade mas com uma autonomia surpreendente. E, mais importante do que tudo isso, barato.