A SaeR – Sociedade de Avaliação Estratégica e Risco critica esta quarta-feira “a indiferença em relação aos sinais de crise no mundo e na Europa” que marca a evolução política em Portugal e o foco em “fórmulas distributivas entre grupos sociais”.

“A evolução política em Portugal apresenta duas características paradoxais, ambas alimentadas pela indiferença em relação aos sinais de crise no mundo e na Europa”, indica a SaeR no Relatório Trimestral sobre a situação económica e dos negócios, hoje divulgado.

Segundo a entidade, por um lado, em Portugal, “não é reconhecida a gravidade da evolução internacional, que é um fator de incerteza e de risco para uma sociedade que está dependente do exterior para obter a dimensão de mercado que não tem”.

Por outro lado, aponta a SaeR, “o debate político permanece centrado na comparação de fórmulas distributivas entre grupos sociais, numa ótica de sociedade fechada onde se pode tirar a uns para dar a outros” e da qual os primeiros “não possam sair e os segundos não precisem de sair porque podem manter o estatuto de beneficiários dessas políticas de distribuição”.

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A SaeR alerta que estas duas características “não são sustentáveis no tempo” e salienta que a instabilidade da evolução internacional recomenda a adoção de estratégias de precaução para a eventualidade de um agravamento, num contexto externo caracterizado pela “desagregação da ordem mundial que tinha como centro hegemónico os Estados Unidos e pela crise da União Europeia instabilizada pelas forças do nacional-populismo”.

Segundo a SaeR, em Portugal, “a fixação em políticas distributivas impede a concretização de políticas de crescimento económico” porque, argumenta, aquilo que “se desvia para o circuito da distribuição já não entra no circuito do investimento” e o que se tira a quem tem rendimentos “anula a motivação para querer ter maiores rendimentos”.

No relatório, a SaeR afirma ainda que nos próximos tempos, Portugal terá de gerir as suas relações com as potências mundiais e “garantir uma situação económica vantajosa que venha contrariar a constante desaceleração da economia”. Nos tempos de “incerteza e desconforto a nível internacional”, a SaeR refere também que Portugal, enquanto “ator dependente das grandes potências mundiais, precisa de capacidade para gerir as suas relações e usufruir dos seus acordos bilaterais”.

E a entidade recorda que Portugal tem nos Estados Unidos, no Reino Unido e na China “poderosos parceiros económicos”, sendo que “a instabilidade sentida nestes países pode facilmente transpor-se numa instabilidade das relações, principalmente no caso chinês, que é cada vez mais questionado por diversos estados”.