(Artigo em atualização)
O secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo considerou o incidente com o futebolista maliano do FC Porto Marega intolerável e inaceitável, assegurando que as autoridades estão a identificar os responsáveis, a fim de serem punidos.
O que aconteceu esta noite no jogo entre Vitória Sport Clube e FC Porto é absolutamente intolerável é inaceitável. Os insultos dirigidos ao jogador Marega envergonham todos quantos pugnam por uma sociedade inclusiva. Os valores do desporto nada têm que ver com estas atitudes racistas, xenófobas e ignóbeis”, começou por dizer João Paulo Rebelo, em declarações à agência Lusa.
Segundo o governante, a Autoridade para Prevenção e o Combate à Violência no Desporto “está desde já a trabalhar em articulação com as autoridades policiais e desportivas” para “identificar e punir exemplarmente os responsáveis” daquilo que considerou ser um “triste episódio que enche de vergonha todos quantos lutam por uma sociedade mais tolerante”.
“Todos os agentes desportivos e, em particular, os seus dirigentes além do repúdio têm de atuar de forma a que isto não se repita”, frisou ainda o governante.
O comentador da SIC Luís Marques Mendes começou o seu habitual espaço de comentário no canal de televisão a pedir que os responsáveis pelos insultos fossem “banidos do futebol, interditados” e proibidos de entrar nos estádios.
“Este comportamento de alguns adeptos em Guimarães é um comportamento absolutamente inaceitável, totalmente censurável, eu diria que isto é uma minoria de adeptos que na prática são uns energúmenos. Esta gente tem que ser banida do futebol, interditada, não pode entrar nos estádios”, disse acrescentando que Portugal devia seguir o exemplo inglês — conhecido por ter uma conduta rígida com o comportamento dos adeptos nos estádios de futebol.
[Como podem ser punidos os adeptos racistas? Interdição de entrada nos estádios. Penas até 3 ou 5 anos por injúrias ou incitamento ao ódio, explicou à Rádio Observador o advogado Pedro Duro. Mas a identificação pode ser difícil. Pode ouvir aqui.]
“Face às leis e aos regulamentos, o Vitória de Guimarães vai ser penalizado, mas mais importante era as autoridades imediatamente irem analisar as câmaras de videovigilância do estádio, detetarem quem foram os infratores e rapidamente atuarem de forma exemplar”, defendeu, dando como exemplo Inglaterra, que seguiria de imediado esse procedimento.
“É bom que em Portugal acabe este clima de condescendência. Tem que haver tolerância zero”, defendeu. Caso contrário, disse, “está-se a degradar o espetáculo desportivo”.
Na bancada da esquerda têm sido várias as manifestações de apoio a Marega e condenação da atitude dos adeptos do Vitória de Guimarães. A líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins utilizou o Twitter para se “confessar adepta de Marega” e frisar que “racismo não é opinião, é crime”.
Não sigo futebol, não tenho clube e raramente acompanho o que se passa nos jogos. Mas hoje adepta de #Marega me confesso. Racismo não é opinião. É crime. https://t.co/hFo1GDe0lM
— Catarina Martins (@catarina_mart) February 16, 2020
Ainda na bancada dos bloquistas, há vários deputados a repudiar a atitude dos adeptos do Vitória de Guimarães e a apoiar o jogador dos azuis e brancos. Moisés Ferreira afimou que “os racistas estão a mais em qualquer estádio” e Isabel Pires escreve que “não há como continuar a negar o problema” do racismo em Portugal.
Já na bancada dos socialistas, Tiago Barbosa Ribeiro afirma que aquilo que aconteceu durante o jogo desta tarde “cobre de vergonha o futebol português”.
https://twitter.com/tbribeiro/status/1229119302021865472
O recém-eleito líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos também já manifestou o seu repúdio pelo episódio vivido no estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães.
“As manifestações de racismo não podem ter lugar na nossa sociedade: devem ser julgadas e severamente punidas pelos Tribunais”, escreveu no Twitter acrescentando que todos são “chamados a condenar os crimes de ódio e a defender a dignidade de cada pessoa”.
As manifestações de racismo não podem ter lugar na nossa sociedade: devem ser julgadas e severamente punidas pelos Tribunais.
Todos somos chamados a condenar os crimes de ódio e a defender a dignidade de cada pessoa. Essa é uma luta que não tem cor. pic.twitter.com/hgtWeAxcx8
— Francisco Rodrigues dos Santos (@francisco__rs) February 16, 2020
O deputado único do Iniciativa Liberal está solidário com a atitude do jogador do Porto. “Ninguém deve admitir este tipo de discriminação que tanto fere a sua humanidade”, escreveu o deputado.
Marega fez bem em abandonar o campo. Ninguém deve admitir este tipo de discriminação que tanto fere a sua humanidade.
Felizmente, todos somos diferentes, mas cada um de nós é igualmente importante e merecedor de respeito.
— João Cotrim Figueiredo (@jcf_liberal) February 16, 2020
Também o partido Livre, que perdeu representatividade no Parlamento com a desvinculação da deputada única, utilizou o Twitter para demonstrar “toda a solidariedade com Marega” e exigir ao Vitória de Guimarães e à liga portuguesa de futebol “uma condenação inequívoca destes comportamentos”.
Numa sociedade democrática atitudes racistas são inaceitáveis. Racismo é crime. Toda a nossa solidariedade com Marega.
O LIVRE exige da parte do Vitória de Guimarães e da Liga uma condenação inequívoca destes comportamentos.— LIVRE (@LIVREpt) February 16, 2020
Do lado oposto, o deputado único do Chega André Ventura diz que se está assistir a “uma chuva de lamentos e de análises histórico-megalómanas” negando que o problema seja o racismo.
“O nosso problema não é o racismo. É a hipocrisia”, escreveu o deputado no Facebook.
O Presidente do PSD, Rui Rio, utilizou a rede social Twitter para dizer que “uma sociedade civilizada não pode tolerar” comportamentos com “contornos racistas que chocam com os nossos valores”.
O que se passou ontem no jogo Guimarães-Porto tem óbvios contornos racistas que chocam com os nossos valores; mas evidencia, acima de tudo, comportamentos primários, responsáveis por um intolerável aumento da violência no desporto que uma sociedade civilizada não pode tolerar.
— Rui Rio (@RuiRioPT) February 17, 2020
Já o PCP, em comunicado, anunciou esta segunda-feira que pediu a audição, no parlamento, do ministro da Administração Interna, secretário de Estado do Desporto e Liga de Clubes sobre “medidas a adotar” depois das “manifestações de racismo” contra o futebolista Marega.
“As manifestações de racismo que envolveram o jogador do Futebol Clube do Porto Marega no jogo com o Vitória de Guimarães devem ser repudiadas. Mas mais do que palavras de condenação, o que a situação desperta, para lá do horizonte desportivo, são os fatores que abrem espaço a manifestações de racismo e xenofobia”, lê-se no comunicado divulgado.
O PCP alerta para a crescente exacerbação e fomento de conflitos raciais artificialmente inculcados na sociedade portuguesa a partir de diversas formas e agentes”, independentemente de “uma consideração mais global que a questão suscita, a par de problemas reais que não devem ser iludidos”, refere o texto.
SOS Racismo pede punição severa para quem insultou futebolista Marega
A associação SOS Racismo defendeu também esta segunda-feira que os responsáveis pelos insultos racistas ao futebolista Moussa Marega devem ser “severamente punidos”, considerando que o fenómeno tem que ser “enfrentado antes que se torne incontrolável”.
Em comunicado, manifesta “solidariedade a MoussaMarega, jogador do FC Porto que foi alvo de insultos racistas” durante um jogo disputado no domingo com o Vitória de Guimarães.
A SOS Racismo saúda a decisão de Marega abandonar o relvado, considerando que “era o que todos os presentes deviam ter feito”, começando pela equipa de arbitragem.
Não há nenhum interesse ou valor que justifique que um jogo de futebol continue perante a prática de atos racistas”, argumenta a SOS Racismo, que pede a todos os envolvidos no futebol que “condenem sem reservas” os insultos e exige “medidas concretas de combate ao racismo no desporto e na sociedade em geral”.
“Infelizmente, este episódio não é exclusivo do futebol ou do desporto em geral. É transversal na sociedade portuguesa e tem de ser enfrentado, antes que se torne incontrolável”, considera a associação.