José Castella, ex-controller financeiro do Grupo Espírito Santo (GES), morreu no dia 26 de fevereiro, em Lisboa. O ex-quadro do GES, casado com uma irmã de Pedro Santana Lopes, foi vítima de doença oncológica.
Figura muito próxima de Ricardo Salgado, Castella era um dos principais arguidos do caso Universo Espírito Santo, tendo sido dos primeiros suspeitos, juntamente com o ex-presidente executivo do Banco Espírito Santo (BES), a ser constituído como arguido logo em 2015. Na altura, foram-lhe imputados, entre outros, alegados crimes de burla qualificada e falsificação de documento, em regime de co-autoria com Salgado.
O procedimento criminal contra José Castella será em breve declarado extinto pelo Ministério Público.
Como controller financeiro do GES, José Castella era administrador de algumas das principais holdings do grupo da família Espírito Santo e estava a par da situação financeira de sociedades que vieram a entrar em insolvência, como a Espírito Santo International, a Rio Forte ou a Espírito Santo Financial Group.
Castella foi igualmente secretário do Conselho Superior dos Espírito Santo — um órgão informal que reunia os cinco ramos da família para tomar as decisões mais importantes sobre a gestão do GES e do BES. Foi nessa qualidade que supervisionou as gravações das reuniões do órgão secreto da família Espírito Santo que vieram a ser divulgadas pelo jornal i em 2014. Com a divulgação dessas reuniões ficou a saber-se, entre outros factos relevantes, que os cinco clãs da família Espírito Santo tinham distribuído entre si uma comissão de cinco milhões de euros da venda dos submarinos ao Estado português.
As gravações evidenciavam igualmente o papel relevante de José Castella dentro do GES, já que Ricardo Salgado costumava terminar as suas exposições mais importantes aos cinco clãs da família com um inevitável: “Não é isto, ó José Castella?”.
Castella foi igualmente administrador de várias sociedades offshore dominadas pelos Espírito Santo, sendo a mais conhecida a Espírito Santo (ES) Enterprises, o famoso ‘saco azul’ do GES que terá servido para pagar alegadas contrapartidas a José Sócrates, Zeinal Bava e Henrique Granadeiro — acusados na Operação Marquês de terem sido alegadamente corrompidos por Ricardo Salgado —, a titulares de cargos públicos e políticos venezuelanos e para pagar remunerações ‘por debaixo da mesa’ a inúmeros administradores e diretores do e BES e do GES.
O ex-quadro do GES, contudo, sempre refutou responsabilidades sobre a gestão da ES Enterprises. Juntamente com Machado da Cruz, o ex-comissaire aux comptes que terá falsificado as contas das holdings do GES a pedido de Ricardo Salgado, e que também era administrador da ES Enterprises, Castella afirmou nos autos do Universo Espírito Santo que o ‘saco azul’ do GES era gerido por Salgado em conjunto com Jean-Luc Schneider, um quadro suíço da Espírito Santo Financiére. Quer Castella, quer Machado da Cruz foram claros: apenas obedeciam a ordens de Ricardo Salgado em todas as sociedades onde estavam por indicação do GES.
José Castella foi ainda acusado pelo Banco de Portugal em dois dos quatro processos de contra-ordenação abertos pelo supervisor no âmbito do caso BES. Num primeiro processo, Castella foi condenado ao pagamento de uma coima de 50 mil euros por ter prestado informações falsas ao Banco de Portugal, enquanto que num segundo processo, relacionado com a violação de determinações específicas ordenadas pelo banco central liderado por Carlos Costa (o falhado ring fencing, nomeadamente), Castella foi acusado de ter violado determinações específicas do Banco de Portugal sobre ring fencing, juntamente com Amílcar Morais Pires (ex-chief financial officer do BES), José Manuel Espírito Santo (primo de Salgado e ex-administrador do BES) e Isabel Almeida (ex-diretora do Departamento Financeiro, Mercados e Estudos do BES).
A missa do 7.º dia de José Castella realiza-se esta quarta-feira, dia 4 de março, na Capela do Colégio dos Salesianos, no Estoril, segundo um anúncio publicado no jornal Público.