Em dezembro de 1997 já o Washington Post escrevia sobre os funerais como importantes rituais no Gana (África) — eventos sociais criativos e coloridos destinados a celebrar a vida. E já então havia referências aos “pallbearers”, os homens que carregam os caixões e que, em 2020, se popularizaram através de um meme que em pouco tempo se tornou viral e invadiu as diferentes redes sociais. É fácil navegar no Instagram, Facebook ou Whatsapp e encontrá-lo: por norma, situações de algum perigo antecedem os ganeses que carregam um caixão pelos ombros e dançam ao som de uma música eletrónica.

Os “pallbearers” são aqueles cuja profissão consiste precisamente em carregar os caixões durante os funerais. No Gana, quando morre uma pessoa jovem é algo doloroso, mas se isso acontece a alguém mais velho, o funeral transforma-se numa espécie de celebração da vida, tal como disse ao El País Emmanuel Agyeman, da funerária EA Hearse Services & Funeral Agreement, que opera em todo o país. É ele quem explica que as festas realizam-se quando a pessoa morre com 60 anos ou mais, dado que a esperança média de vida no país está abaixo dos 63 anos.

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O meme que entretanto ganhou dimensões internacionais começou a popularizar-se este ano e tem essencialmente origem em duas reportagens, ambas de 2017, da Associated Press e da BBC. De acordo com a página que rastreia a origem da evolução dos memes, Know Your Meme, as primeiras versões surgiram na rede social TikTok em finais de fevereiro.

Ambas as reportagens — tanto da BBC, como da Associated Press — contam com o testemunho de Benjamin Aidoo que desde 2007 é um “pallbearer” e que explica que optou por adicionar coreografias e músicas mais alegres ao transporte dos caixões, bem como trajes coloridos. “No início, os portadores vestiam-se de negro nos enterros. Quando comecei, decidi adicionar algumas variantes: comprar os meus próprios fatos, os meus próprios sapatos… Além disso, estamos sempre a tentar melhorar as coreografias”, conta na reportagem da Associated Press, uma decisão que pretende diferenciá-los perante a concorrência. Ainda assim, tal como esclarece o El País, é difícil precisar desde quando é que este serviço — carregar o caixão enquanto se dança — existe naquele país.

Segundo Emmanuel Agyeman, um serviço básico destes “pallbearers” pode rondar os 140 euros — num país onde 25% da população vive abaixo do limiar da pobreza, há quem gaste até 15 mil euros para celebrar funerais. As cores que estes homens usam são escolhidas pela família (preto no caso de cerimónias mais sóbrias, branco ou vermelho para festas) e há ainda a possibilidade de contratar figurantes para dançar ou chorar.

Uma realidade que agora pode estar temporariamente comprometida devido à pandemia de Covid-19, já que o Presidente do Gana suspendeu todas as reuniões públicas em meados de março para conter a propagação do novo coronavírus, sendo que os enterros estão limitados a um máximo de 25 pessoas.

O certo é que o meme em questão não só ultrapassou fronteiras, como também se adaptou à pandemia. Ainda esta segunda-feira, a GNR fez uso dele para apelar aos portugueses que fiquem em casa.