Tudo começou com uma série de pequenas explosões que lançaram uma grande nuvem de fumo espesso para os céus de Beirute. Depois, uma gigantesca explosão cuspiu uma pluma cor de rosa e laranja e uma onda de impacto em formato de cogumelo apareceu na zona portuária da capital libanesa, espalhando-se a seguir pelo resto da cidade. À medida que avançava, a onda de impacto dizimava as ruas por onde passava.

Quase nove horas após as explosões, é mais o que não se sabe do que aquilo que já é conhecido sobre o incidente. O número de vítimas mortais continua a subir, o de feridos também e a origem das explosões continua uma incógnita.

Até à data, a explicação apontada pelas autoridades libanesas parece estar nas 2.750 toneladas de nitrato de amónio alegadamente guardadas há seis anos num armazém na zona portuária de Beirute, também alegadamente sem cumprir critérios de segurança e contra os procedimentos legais previstos — uma tese que merece oposição de um antigo operacional da CIA, Robert Baer, que disse à CNN não acreditar que nitrato de amónio possa ser a causa de uma explosão tão massiva e que pelos vídeos que viu acredita que a explosão possa ter sido provocada por explosivos militares.

As respostas podem surgir apenas nos próximos dias, quando começarem a ser publicadas as conclusões das comissões de investigação instauradas para este caso. As autoridades libanesas estabeleceram um prazo de cinco dias para que sejam conhecidos os resultados ao inquérito feito às causas do acidente. Eis o balanço até agora.

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Explosões em Beirute causam pelo menos 78 mortos e 4.000 feridos

O que se sabe

Uma grande explosão, acompanhada por outras de menores dimensões, atingiu a cidade de Beirute, capital do Líbano, na terça-feira à tarde. A onda de impacto provocada pela explosão espalhou-se ao longo da zona portuária (uma região nobre da cidade) e dizimou todas as infraestruturas que atingiu num raio de pelo menos cinco quilómetros. A explosão chegou a ser sentida no Chipre, a cerca de 250 quilómetros do epicentro da explosão.

Pelo menos 80 pessoas morreram, segundo as autoridades — a Cruz Vermelha aponta para mais de 100 vítimas mortais — e mais de quatro mil ficaram feridas (dados das 9h de quarta-feira), após terem sido atingidas pela explosão. São números preliminares que têm sofrido atualizações muito frequentes. Alguns hospitais não puderam receber vítimas das explosões e tiveram mesmo de ser evacuados, por terem sido danificados pela onda de impacto. Aliás, três hospitais ficaram inteiramente destruídos na sequência das explosões — os pacientes tiveram de ser transferidos — e dois hospitais ficaram parcialmente destruídos, segundo a presidente da Ordem dos Enfermeiros em Beirute, Mirna Doumit.

O apartamento de um português residente em Beirute foi destruído pela onda de impacto criada pela explosão de maiores dimensões, adiantou Berta Nunes, secretária de Estado das Comunidades. O proprietário estava fora da cidade, mas já foi contactado pelas autoridades portuguesas e informado da destruição do apartamento, que estava vazio. O cônsul honorário português em Beirute, André Boulos, também foi “afetado” pelas explosões, mas não terá ficado ferido.

Português no Líbano: “O caos está em todo o lado. Há edifícios destruídos e pessoas feridas a tentar encontrar uma ambulância”

Há vítimas mortais de outras nacionalidades: pelo menos uma australiana e dois filipinos morreram na sequência do acidente.

Entre os feridos estão soldados da Força Interina das Nações Unidas cujos navios estavam atracados no porto junto à zona da explosão, confirmou Stefano Del Col, major general da unidade no Líbano. Alguns dos soldados estão em estado crítico e foram levados para os hospitais mais próximos.

As explosões terão ocorrido num armazém de material pirotécnico na zona portuária de Beirute onde, desde 2016, estavam guardadas 2.750 toneladas de nitrato de amónio que haviam sido apreendidas num navio. O governo prometeu dar mais informações sobre o local após a conclusão das investigações em curso, disse o primeiro-ministro libanês em declarações ao país.

A cidade de Beirute foi considerada uma “zona de desastre” por causa dos estragos provocados pelas explosões. Também foi declarado o estado de emergência durante duas semanas na cidade libanesa. O governo apelou à ajuda internacional para acudir as vítimas do incidente e reerguer a zona ribeirinha da capital. Vários países do mundo, incluindo França e Alemanha, mas também Israel e o Irão, voluntariaram-se para prestar apoio ao Líbano.

As primeiras imagens e vídeos das explosões que dizimaram o porto de Beirute

O que falta saber

Não se sabe quem foi responsável pelo armazenamento do nitrato de amónio naquele espaço. Não se sabe sequer se estamos perante um acidente ou não: Donald Trump fala de “uma bomba de um qualquer tipo”. Mas o primeiro-ministro do país, Hassan Diab, prometeu aos libaneses que não iria “descansar até que a pessoa responsável pelo que aconteceu pague por isto e até impor as mais severas penalidades”: “Não é aceitável que um carregamento de nitrato de amónio estimado em 2.750 toneladas esteja presente por seis anos num armazém sem se tomar medidas preventivas”.

Também não se sabe a origem das explosões. As informações preliminares da investigação da Direção-Geral da Segurança Geral do Líbano sugerem que as explosões ocorreram durante a soldadura de um buraco no armazém. As faíscas terão atingido a substância química, altamente inflamável, e causado as explosões. Outras fontes indicam que havia um incêndio a lavrar nas proximidades do armazém. O governo insiste, no entanto, que “não há motivos para acreditar que as explosões não foram um acidente”.

Desconhece-se o paradeiro de pelo menos dez bombeiros a serviço do município de Beirute que tinham sido recrutados para enfrentar esse foco de incêndio. Marwan Abboud, governador da cidade, explicou as circunstâncias do desaparecimento: “Havia um incêndio e os bombeiros foram chamados para o apagar, depois houve a explosão e eles desapareceram. Estamos à procura deles”. Não se sabe se o incêndio em causa está ou não relacionado com as explosões.

Vídeo. O brutal impacto da explosão em Beirute

Não se sabe com precisão a extensão dos danos materiais provocados pelas explosões em Beirute. Os vídeos do momento da grande explosão mostram a onda de impacto a espalhar-se pela cidade, destruindo todas as infraestruturas que encontrava pelo caminho. A zona portuária ficou completamente destruída, mas as imagens da baixa de Beirute provam que os danos se estendem cidade dentro. O governo já disse que os danos materiais são “avultados demais para serem calculados neste momento”.

Não se sabe se a explosão libertou gases tóxicos e irritantes para a atmosfera na cidade de Beirute. Quando exposto a altas temperaturas, o nitrato de amónio liberta amónia e outros gases que geram problemas respiratórios agudos, irritação dos olhos e vias respiratórias, tosse e dores de garganta. Perante a incerteza, a embaixada dos Estados Unidos aconselhou os cidadãos norte-americanos a ficar em casa ou a utilizar máscara na rua.

Não se sabe ao certo se há portugueses entre as vítimas das explosões em Beirute. Berta Nunes, secretária de Estado das Comunidades, confirma ao Observador que não há registo de portugueses feridos. No entanto, a hipótese de haver cidadãos portugueses entre as vítimas não foi descartada, uma vez que podem não estar registados na embaixada.

Ainda não é conhecida a quantidade de energia libertada durante a explosão na cidade libanesa. A Inspeção Geológica dos Estados Unidos indicou que as explosões de Beirute provocaram ondas sísmicas com uma magnitude equivalente a um terramoto de 3,3 na escala de Richter. No entanto, essas ondas não são comparáveis com as de um sismo dessa magnitude porque, durante uma explosão, a maior parte da energia é libertada pelo ar — não pelas rochas e edifícios, como num terramoto. Ou seja, se a mesma explosão tivesse ocorrido em profundidade, o sismo teria magnitude muito superior.