Num momento em que se avolumam as dúvidas sobre o plano de vacinação contra a covid-19 e sobre a resposta do Governo à segunda vaga da pandemia, António Costa garante que não há qualquer atraso no plano de vacinação e pede tranquilidade. “Não vale a pena estarmos a antecipar ansiedades“, diz.
O primeiro-ministro assume que ainda não há uma data concreta para a chegada da primeira vacina e lembra a grande complexidade do plano. “Vai ser a maior operação de vacinação à escala mundial“, diz. Na quinta-feira, anuncia Costa, serão conhecidos mais detalhes sobre o plano, mas há uma certeza que o primeiro-ministro quer deixar: “Os critérios [de vacinação] não são critérios políticos, são técnicos. Mas por muitos ajustados que sejam esse critérios técnicos, há limitações éticas que não podem ser aceites“.
O primeiro-ministro refere-se assim ao primeiro documento de trabalho da Direção-Geral de Saúde, que não aconselhou a vacinação para pessoas acima dos 75 anos. “O decisor político não pode aceitar isso. Isso é politicamente inaceitável”, diz.
Sem nunca se comprometer com datas, António Costa assume que “a queda da pandemia vai ser mais lenta” e que essa dinâmica implica um “equilíbrio” que tem de ser mantido para “ajudar a consolidar a dinâmica [descendente], de forma a que possamos chegar a Dezembro confiantes”.
O primeiro-ministro assume como absoluta prioridade evitar uma terceira vaga em janeiro e afasta eventuais riscos de rutura no Serviço Nacional de Saúde. “Há uma gestão em rede que tem permitido responder a todas as situações e estamos a aumentar o número de camas disponíveis”, diz. António Costa garante, ainda assim, que o Governo está a “continuar a trabalhar no reforço do SNS”, nomeadamente através da contratação de 48 novos médicos intensivistas e a suspensão dos limites à contratação de médicos e enfermeiros nos hospitais.
Desafiado a concretizar que medidas vão vigorar durante o período de Natal, António Costa resiste e atira a questão para quinta-feira, altura em que vai haver nova reunião no Infarmed. Mas o primeiro-ministro deixa uma novidade: no sábado, quando anunciar as novas medidas do estado de emergência, o Governo vai avançar já com as medidas que vão vigorar até 6 de janeiro. “É fundamental que as pessoas possam ter uma noção antecipada“, sublinha o primeiro-ministro.
“Esta semana é decisiva. Vamos todos fazer um esforço para podermos ter um Natal com as melhores condições. Mas a passagem do Ano vai ter todas as restrições. Não haverá seguramente festas de Passagem de Ano“, diz.
Travão ao Novo Banco “minou a credibilidade do PSD”
Depois de o Parlamento ter aprovado um diploma que impede a injeção de capital de quase 500 milhões de euros no Novo Banco, António Costa critica a posição do PSD e atira o momento para o plano da inconsequência. “Minou a credibilidade do PSD. Foi um bravata política que vai ser jurídica e politicamente inconsequente” , acusa.
Sem concretizar de que forma é que o Governo vai contornar este chumbo parlamentar, o primeiro-ministro atira-se a Rui Rio, acusando o líder social-democrata de ter “muita facilidade” a “arrumar os seus princípios“. Uma atitude, diz, que já se viu durante a campanha com a exploração do caso Tancos, com a capacidade para dialogar com o Chega e a forma como põe em causa a estabilidade de contratos assinados pelo Estado.
António Costa não poupa também o Bloco de Esquerda, depois de Catarina Martins ter votado contra o Orçamento do Estado. Segundo o socialista, o BE agiu por oportunismo e “desertaram”. “Pensaram: ‘fiquem sozinhos com a vossa impopularidade e nós vamo-nos pôr ao fresco’. Os portugueses são muito sábios e não perdoam o oportunismo. Se fizer um exame de consciência, o Bloco vai perceber gravidade do erro político”.
O primeiro-ministro diz, no entanto, que não pode viver de costas voltadas e que as portas não estão fechadas. “Um primeiro-ministro não pode viver em estados de alma. Temos de seguir em frente. Espero que o Bloco reflita e aprenda com os erros que cometeu“, sugere.
Bloqueio na União Europeia será “dramático”
Sobre o bloqueio à bazuca europeia, liderado por países como a Húngria e a Polónia, António Costa não esconde a preocupação com o impasse, mas demarca-se de Viktor Orbán e deixa um aviso: quem quiser avançar para as negociações numa posição de “chantagem” está “derrotado à partida”.
Ainda assim, o primeiro-ministro alerta que se o acordo não for alcançado “viveríamos um situação dramática” já a partir de 1 de janeiro.
Numa última pergunta sobre as presidenciais, António Costa escudou-se no “recato” que lhe é devido como primeiro-ministro em funções, mas deixou uma certeza: “Já sei em quem vou votar e não votarei em branco”.
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