A mãe é especialista em tapeçaria manual, o pai deixou a construção civil para se dedicar ao artesanato e das suas mãos saem barcos moliceiros e presépios em miniatura. “O meu pai conta que o bisavô dele era italiano, daí o apelido. Veio para o Minho, trouxe a tradição de trabalhar a madeira em miniatura e isso foi passando de geração em geração”, diz Emanuel Rufo, quinto na linhagem de uma família criativa.

Com mais quatro irmãos, o designer é o único ligado ao ofício dos brinquedos em madeira. Aos 12 anos fez o seu primeiro carrinho, inspirado no piloto brasileiro Ayrton Senna, e tudo o que aprendeu foi por observação. Cresceu no meio das tábuas, das lixas e das latas de tinta, na adolescência apaixonou-se pelo desenho e pela pintura, estudou design de produto em Aveiro e quando nasceu o primeiro sobrinho fez-lhe um cavalo de baloiço de linhas contemporâneas.

Pai e filho na oficina, em Estarreja. © Luís Ferraz

Há dez anos, o artesão desafiou o pai a embarcar numa aventura a quatro mãos. Dois anos depois, lançou a marca homónima e criou a loja online. “Vendemos os primeiros carrinhos para os Estados Unidos da América, percebi que existia uma oportunidade,” diz. Para além de estar presente nas principais feiras de artesanato do país, hoje a marca também chega além-fronteiras, com clientes assíduos nos EUA, Alemanha, Canadá e Austrália.

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Tudo começa num pequeno caderno onde Emanuel Rufo desenha os produtos, regista as medidas e escreve todas as funcionalidades e mecânicas possíveis. O desenho transforma-se em formato 3D no computador, passa depois para um protótipo tosco e por alguns testes até ganhar forma na pequena oficina instalada na casa do patriarca da família, em Estarreja. “Há objetos que demoramos um ano a desenvolver.”

Tudo começa por ser um desenho num caderno. © Luís Ferraz

De roupa descontraída e auscultadores nos ouvidos, pai e filho trabalham com três tipos de madeira – faia, pinho e carvalho – e escolhem-na em função do que querem fazer. A principal matéria-prima é então cortada, lixada e limada, num trabalho minucioso feito com o auxílio de três máquinas. Chegada à forma e textura pretendidas, é hora de isolar a madeira, pintar o objeto com tintas acrílicas e desenhar todos os pormenores, sejam riscas ou números nas portas dos carros. “Eu tenho a maioria das ideias, o meu pai é mais perfecionista nos acabamentos”, diz Emanuel, acrescentando que a madeira que sobra dos recortes vai diretamente para a lareira.

Entre cavalos de baloiço, animais com diferentes mecânicas e carrinhos inspirados em várias marcas, da pão de forma às ambulâncias, a família Rufo produz séries de 30 a 50 modelos em poucos dias, com tudo feito dentro de portas, das pinturas às embalagens. “Ideias não me faltam, preciso é de mais tempo e de mais braços para trabalhar”, diz o artesão, que se divide entre a marca e a profissão de designer numa empresa de produtos sanitários.

Depois de pintados, os brinquedos são colocados a secar num frigorífico transformado em estufa. © Luís Ferraz

No futuro, o artesão gostava de se dedicar a tempo inteiro à madeira e alargar o leque de produtos disponíveis. Além dos brinquedos, indicados para todas as idades, Emanuel Rufo quer arriscar na decoração, especialmente em pequenos objetos como relógios e candeeiros.

Artigo publicado originalmente na revista Observador Lifestyle nº 7 (março de 2020).