O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, qualificou nesta segunda-feira os últimos confrontos em Jerusalém de “ataque brutal” da polícia israelita, à qual o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, expressou o seu apoio.
Abbas considerou os confrontos desta segunda-feira na Esplanada das Mesquitas na Cidade Velha localizada em Jerusalém Oriental, ocupada e anexada por Israel, “um ataque brutal das forças de ocupação israelitas contra os fiéis”, que é “um novo desafio para a comunidade internacional”.
O seu primeiro-ministro, Mohammed Shtayyed, considerou Israel “responsável” pelos confrontos que causaram centenas de feridos e pediu “uma intervenção imediata da comunidade internacional” para “dar proteção aos civis palestinianos nos territórios ocupados” e “acabar” com “as horrorosas violações” israelitas. Por seu turno, o ministro dos Assuntos Civis da Autoridade Palestiniana, Hussein al-Sheikh, disse que a liderança “está a analisar todas as opções” para responder “face à agressão israelita” na Esplanada das Mesquitas.
Também o líder do movimento islâmico palestiniano que controla a Faixa de Gaza, o Hamas, Ismail Haniyeh, advertiu que a “resistência” palestiniana não “ficará de braços cruzados”.
Enquanto se multiplicam os apelos internacionais à calma, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu saudou a “firmeza” das forças de segurança para garantir a “estabilidade” em Jerusalém. “Apoiamo-los nesta luta justa”, disse. Netanyahu descreveu os confrontos, que causaram mais de 300 feridos quase todos palestinianos, como uma “luta entre a intolerância e a tolerância, entre a violência e a lei e a ordem“.
Insistimos em garantir os direitos de todos e isto às vezes requer a firmeza que a polícia israelita e as nossas forças de segurança estão a ter neste momento”, disse ainda.
Mais de 300 palestinianos feridos em confrontos com polícias em Jerusalém
Desde o início da manhã desta segunda-feira que a polícia israelita enfrenta grupos de palestinianos, que lançam projéteis na sua direção, respondendo com balas de borracha e gás lacrimogéneo. A tensão aumentou drasticamente em Jerusalém no último fim de semana com noites consecutivas de confrontos intensos. Face à situação está prevista para esta segunda-feira uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, pedida pela Tunísia.
O dia desta segunda-feira é especialmente complicado porque é o da celebração pelos judeus do “Dia de Jerusalém”, que marca a conquista da parte oriental da cidade por Israel em 1967. Os palestinianos querem Jerusalém Oriental para capital do Estado a que aspiram. Para a tarde está prevista uma marcha de ultranacionalistas judeus pela Cidade Velha, o que pode exacerbar a tensão. Um organizador da iniciativa disse à rádio militar que são esperadas “entre 50.000 e 80.000 pessoas” que desfilarão com bandeiras israelitas em algumas das zonas mais tensas da cidade, segundo a agência noticiosa espanhola EFE.
Movimento islâmico Hamas ameaça Israel se não sair da Esplanada das Mesquitas
O movimento islâmico Hamas, no poder na Faixa de Gaza, ameaçou Israel com uma escalada militar se suas forças não se retirarem até esta segunda-feira ao fim da tarde (hora local) da Esplanada das Mesquitas, disse um porta-voz da organização.
Numa curta declaração, o Hamas avisou que o prazo terminaria às 18h00 locais (16h00 em Lisboa) para que Israel, que ainda não se pronunciou, retire os soldados que se encontram na Esplanada das Mesquitas, palco de violentos confrontos nos últimos dias entre palestinianos e polícias israelitas, e também do Bairro de Seikh Jarrah, ambas em Jerusalém Oriental.
Além de uma escalada militar, o Hamas ameaçou também com a realização de greves caso as autoridades israelitas se recusem a retirar as suas forças.
Secretário-geral da ONU exige contenção a todas as partes
O secretário-geral da ONU, António Guterres, advertiu nesta segunda-feira que a tensão em Jerusalém pode originar outra “perigosa escalada” que conduza a mais violência, e exigiu contenção a todas as partes.
Através do seu porta-voz, Guterres condenou “nos termos mais contundentes o lançamento de foguetes desde Gaza em direção a Israel” e em particular se atacaram “centros de população civil”.
O chefe da ONU também demonstrou preocupação pelo possível desalojamento de famílias palestinianas na zona ocupada de Jerusalém Oriental, e exortou Israel a terminar este género de ações, enquanto solicitava às autoridades israelitas “máxima contenção” e respeito pelo direito a protestos pacíficos.
Guterres acompanha com “profunda preocupação” os acontecimentos em Jerusalém, que, para a ONU, “se arriscam a provocar uma nova e perigosa escalada que implique mais violência e perda de vidas”, disse aos jornalistas o seu porta-voz, Stephane Dujarric.
Segundo indicou, o enviado das Nações Unidas para o Médio Oriente, Tor Wennesland, estava em contacto com todas as partes para “restaurar a calma”. Wennesland informou esta semana o Conselho de Segurança sobre os últimos acontecimentos durante uma sessão à porta fechada, convocada de urgência após as violências das forças de segurança israelitas durante o fim de semana em Jerusalém. Segundo fontes diplomáticas, os membros do Conselho de Segurança estavam a discutir uma possível declaração sobre a situação, um género de texto que geralmente necessita de unanimidade para aprovação.
Netanyahu diz que Hamas transpôs “linha vermelha” e promete resposta “com força”
O primeiro-ministro de Israel considerou nesta segunda-feira que o movimento islamita Hamas que governa a Faixa de Gaza transpôs “uma linha vermelha” e prometeu uma reposta musculada do Estado judaico. “As organizações terroristas em Gaza atravessaram uma linha vermelha durante a tarde no ‘Dia de Jerusalém’”, indicou Netanyahu, para acrescentar: “Israel reagirá com força (…), quem atacou o nosso território, a nossa capital, os nossos cidadãos e soldados pagará um elevado preço”.
O exército israelita anunciou nesta segunda-feira à noite “ter começado” a realizar uma série de ataques contra posições do Hamas na Faixa de Gaza, visando em particular um comandante das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, o braço armado do Hamas, que foi morto. “Começámos a realizar ataques em Gaza. Temos como alvo um comandante sénior do Hamas”, disse um porta-voz das Forças de Defesa israelitas, numa conferência de imprensa em Jerusalém.
O movimento Hamas, que governa na Faixa de Gaza, anunciou a morte de um de seus comandantes num ataque israelita no norte do enclave. As declarações do Hamas surgem depois de fontes sanitárias palestinianas terem adiantado a ocorrência de uma explosão de origem desconhecida no norte da Faixa de Gaza, que provocou a morte a pelo menos nove pessoas, três delas crianças.
A explosão surgiu depois de militantes do movimento islâmico Hamas terem disparado sete foguetes em direção a Israel. Por saber está se a explosão foi provocada por um dos foguetes lançados pelo Hamas, que poderá ter falhado o alvo, ou se se deve a uma retaliação de Israel.
No entanto, a imprensa do Hamas indicou que, numa reação inicial, Israel realizou um ataque com um drone (aparelho aéreo não tripulado) que provocou um morto no norte da Faixa de Gaza.
Por outro lado, e citado pela agência noticiosa Associated Press (AP), Abu Obeida, porta-voz do braço militar do Hamas, disse que o ataque a Jerusalém foi uma resposta ao que chamou de “crimes e agressão” israelitas. “Esta é uma mensagem que o inimigo deve entender bem”, disse Obeida, que ameaçou com mais ataques se Israel “voltar a invadir a Mesquita de Al-Aqsa” e a prosseguir com as operações de desalojamento de famílias palestinianas num bairro na parte leste de Jerusalém.
O Exército de Israel adiantou que um civil israelita sofreu ferimentos leves quando um veículo foi atingido no sul do país por um míssil antitanque disparado de Gaza.
Várias explosões ouviram-se nesta segunda-feira à noite em Jerusalém depois de terem soado as sirenes de alarme antiaéreas acionadas na sequência dos foguetes lançados a partir da Faixa de Gaza, indicou o exército israelita, sem avançar pormenores. “Foram disparados sete foguetes desde a Faixa de Gaza contra o território israelita (em Beit Shemesh e Jerusalém). Um dos foguetes foi intercetado pelo sistema de defesa aérea ‘Cúpula de Ferro’”, lê-se num curto comunicado do Exército israelita.
Um dos foguetes lançados pelo Hamas caiu na periferia oeste de Jerusalém, danificando ligeiramente uma casa e causando um incêndio florestal.
PCP condena Israel e exige “posição contundente” ao Governo português
O PCP condenou nesta segunda-feira “veementemente a campanha de violência” de Israel “contra a população palestiniana em Jerusalém” e exigiu “uma posição clara e contundente” do Governo português “em defesa dos direitos nacionais do povo palestiniano”. Em comunicado, os comunistas criticaram a “escalada de agressão do governo israelita e das forças sionistas” com vista à “anexação de Jerusalém Oriental e, em última instância, de todo o território histórico da Palestina”.
Desse modo, nega-se “de facto ao povo palestiniano o seu legítimo direito a um Estado” e ajuda a provar, segundo o PCP, que o “Governo israelita está empenhado em sabotar a solução do conflito e inviabilizar a criação do Estado palestiniano com base nas resoluções da ONU aprovadas há muitas décadas”.
A Portugal e ao Governo, os comunistas “exigem uma posição clara e contundente, nomeadamente quando exerce a presidência do Conselho da UE, em defesa dos direitos nacionais do povo palestiniano e do cumprimento das resoluções das Nações Unidas que os consagram”.
É ainda feito um apelo “à solidariedade para com o povo palestiniano” e o PCP “exige a libertação dos milhares de presos políticos palestinianos nas prisões israelitas, o fim do bloqueio à população palestiniana na Faixa de Gaza, a concretização do direito do povo palestiniano a um Estado independente”.
Hamas diz ter disparado mais de 100 foguetes de Gaza contra Israel
O Hamas afirmou ter disparado nesta segunda-feira, a partir de Gaza, mais de 100 foguetes contra Israel, argumentando tratar-se de uma “resposta aos crimes e à agressão à Cidade Santa”.
Inicialmente, foi indicado que o movimento islâmico no poder na Faixa de Gaza tinha disparado sete foguetes.
Entretanto, em Berlim, o chefe da diplomacia alemã, Heiko Maas, defendeu nesta segunda-feira que israelitas e palestinianos “têm o dever de evitar novas vítimas civis”, depois dos ataques de Israel a Gaza e dos palestinianos ao território israelita. “Nada justifica o disparo de foguetes sobre a população civil israelita”, sublinhou Maas, considerando que os confrontos “não irão conduzir à resolução do conflito”, mas sim a “uma nova escalada insensata”.
“Todas as partes de devem evitar novas vítimas civis”, frisa o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, cujo homólogo norte-americano, Antony Blinken, também já exigiu a israelitas e palestinianos que ponham termo imediatamente às hostilidades. Para Blinken, a violência deve parar “imediatamente”, pelo que as duas partes devem pôr cobro aos ataques, reduzir as tensões e “tomar medidas concretas” para que a situação regresse à normalidade.
Pelo menos 20 palestinianos, entre eles nove crianças, morreram nos ataques israelitas na Faixa de Gaza, em resposta aos disparos feitos pelo Hamas.