Olivier François, o homem que sucedeu a Luca Napolitano no comando da Fiat após a formação da Stellantis (Napolitano passou a CEO da Lancia), revelou hoje que a marca italiana aspira tornar-se um fabricante de modelos exclusivamente eléctricos até 2030. O anúncio foi feito no âmbito de uma conversa sobre o futuro das cidades (vídeo), onde o CEO debateu com o fundador do ateliê Stefano Boeri Architetti de que forma a mobilidade e a arquitectura estão a trabalhar para contribuir para um ambiente urbano mais sustentável.

Olivier François, que é também o responsável máximo pelo marketing da Stellantis, surpreendeu ao informar que o fabricante italiano vai gradualmente transformar-se num construtor de modelos isentos de emissões. E não se inibiu mesmo de calendarizar a reformulação da gama: dentro de quatro anos, a Fiat vai acelerar a transição para a mobilidade 100% eléctrica.

O nosso dever é oferecer ao mercado, o mais rapidamente possível e assim que conseguirmos reduzir o custo das baterias, automóveis eléctricos que não custem mais que os veículos com motor de combustão interna. Estamos a explorar o território da mobilidade sustentável para todos, este é o nosso projeto. Entre 2025 e 2030, gradualmente, a nossa gama de produtos tornar-se-á exclusivamente eléctrica. E isto será uma mudança radical para a Fiat”, adiantou o CEO da Fiat.

Por enquanto, o portefólio da Fiat é composto apenas por um modelo a bateria, o novo 500. E, na restante gama, as motorizações mais amigas do ambiente resumem-se a uma hibridização ligeira, com as versões mild hybrid do Panda e do 500. Ou seja, de momento, não há híbridos nem híbridos plug-in e fica a dúvida se alguma vez existirão. Isto porque o rumo que a Stellantis traçou para a transição energética passa por prescindir dos modelos a combustão, substituindo-os por equivalentes 100% eléctricos, sem passar pela fase intermédia da electrificação parcial. A ser assim, a estratégia da Fiat só coincide no timing com o plano da Volvo. Recorde-se que o construtor sueco também anunciou que, a partir de 2030, seria exclusivamente eléctrico, mas à data de hoje toda a sua gama conta com versões híbridas plug-in.

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De sublinhar, ainda, que o ano em que a Fiat diz que vai começar a operar a sua “radical mudança” não terá sido escolhido ao acaso. Pelo contrário, pois é no final de 2025 que entra em vigor a nova norma de emissões Euro 7 que, muitos acreditam, condenará por completo os segmentos mais baixos do mercado, ao exigir investimentos avultadíssimos para colocar as motorizações a gasolina ou gasóleo em conformidade com o padrão.

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Ora, a Fiat tem precisamente nestes segmentos a âncora das suas vendas, com o Panda e o 500 a dominarem a preferência dos consumidores na sua classe. Luca de Meo, o novo patrão da Renault, considera que estes segmentos só têm futuro como eléctricos, apesar das magras margens que já representam actualmente, e parece que a Fiat não só concorda como se antecipa à concorrência ao fazer este anúncio.

Enquanto 2025 não chega, as expectativas vão para a versão de produção em série do promissor concept Centoventi – ao que tudo indica será o futuro Panda – e para os critérios com que a Fiat usufruirá do banco de órgãos da antiga PSA. Pode ser até que o Punto regresse sobre a plataforma do Peugeot e-208.

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Até lá, certo mesmo é que a antiga pista sobre a ex-fábrica do Lingotto de Turim vai dar lugar ao “maior jardim suspenso da Europa, com mais de 28.000 plantas”. A promessa partiu igualmente de Olivier François e está para breve – a expressão exacta é “dentro de alguns meses” –, posicionando-se como um sinal de que nem só os carros têm de evoluir para melhorar a qualidade do ar que respiramos. De acordo com o arquitecto Stefano Boeri, “se considerarmos que as cidades são responsáveis por mais de 70% das emissões de CO2, fenómeno na origem do aquecimento global, e pela emissão de poluentes que põem em perigo a nossa saúde, parece evidente que estes serão os primeiros locais onde é necessário intervir e que precisam de uma profunda mudança”.