Fala sobre o futuro do Arsenal mostrando total confiança no comando de Mikel Arteta, considera que um dos problemas do antigo companheiro Lionel Messi no PSG é o facto de sentir-se isolado, gerou também alguma polémica ao assumir que Salah poderia nesta altura ser considerado o melhor jogador do mundo, surpreendeu ao eleger Dennis Bergkamp como o melhor companheiro que teve ao longo da carreira. Pode falar de variados temas mas é certo que quando fala cria tema. O peso de um percurso como poucos no futebol também gera esse estatuto e é por isso que a presença de Thierry Henry nunca passa ao lado.

Na seleção, ao lado da maior geração de sempre depois daquela que Michel Platini liderou no Campeonato da Europa de 1984, ganhou o Mundial em 1998, venceu de seguida o Europeu de 2000 e conseguiu ainda mais tarde a Taça das Confederações em 2003. Ou seja, tudo. Nos clubes, entre Mónaco, Juventus, Arsenal e Barcelona (acabou depois a carreira nos EUA), só não conquistou troféus no ano passado em Itália, sendo parte integrante da última grande geração dos gunners na Premier e membro do conjunto catalão que ganhou a Champions de 2009 antes de somar ainda uma Supertaça no New York Red Bulls.

Mais de 800 jogos e 350 golos depois, Henry ainda arriscou uma carreira nos bancos, começando como adjunto de Roberto Martínez na seleção da Bélgica (cargo que voltou a assumir este ano) entre experiências como técnico principal no Mónaco e no Montreal Impact. No entanto, é fora da esfera do futebol, onde continua a ter um peso relevante, que mais se tem destacado em 2021 e foi também esse papel que o levou ao palco principal da Web Summit esta manhã para falar de um tema onde também marca golos. 

Ainda antes dos quatro dias sem redes sociais que começaram numa iniciativa conjunta entre a Premier League, a Associação de Jogadores e a Federação de Futebol Inglesa, e que mais tarde se alargaram a vários atletas, clubes e organizações mundiais, o antigo avançado francês de 44 anos anunciou, no final de março, que iria deixar as redes sociais enquanto as pessoas no poder não regulassem de outra forma todas essas plataformas para combater os abusos existentes e recorrentes sem as devidas penalizações.

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O enorme volume de racismo, bullying e tortura mental que fazem às pessoas é demasiado tóxico para ignorar. Tem de haver alguma responsabilidade. É demasiado fácil alguém criar uma conta, usá-la para fazer bullying e assediar outras pessoas sem qualquer consequência e mesmo assim continuar anónimo. Até isto mudar, terei as minhas contas desativadas em todas as redes sociais. Espero que isso possa acontecer em breve”, defendeu.

No palco principal, com uma camisola preta da Puma de quem é há muito embaixador, Henry começou por falar da possibilidade que teve em conhecer Tommie Smith – icónico atleta que depois de ganhar a medalha de ouro nos 200 metros dos Jogos Olímpicos de 1968, na Cidade do México, levantou o punho com a luva negra num protesto que atravessou depois várias gerações – e explicou os projetos que tem liderado. “Quando saí do meu bairro, parecia que já não era humano. A cor da minha pele foi um problema”, defendeu num vídeo lançado antes do discurso direto e que seria apenas uma das partes da luta que está a travar.

“Quando me aconteceu e quando vi acontecer o problema a outros pensei para mim ‘o que posso fazer, como posso ajudar?’. E não era apenas questões de racismo, era a discriminação, o bullying. Queria fazer algo que pudesse causar impacto e pensei em sair das redes sociais para alertar para o problema. Depois criou-se um efeito bola de neve, com muitas companhias sobretudo em Inglaterra a fazer um boicote de três dias. Tommie Smith? Senti um orgulho enorme em conhecê-lo porque quando fez o que fez foi algo mais controverso, sabia que corria o risco de perder o ouro. Foi um dos grandes símbolos desta luta. Quando construímos o nosso legado não se trata apenas do que fazemos como atletas mas também do que queremos deixar”, referiu.

“Todos precisamos de ajuda. Eu preciso de ajuda, vocês precisam de ajuda, toca a todos. Os nossos miúdos estão a ser alvo de bullying. O que tem de acontecer? As pessoas com poder têm de unir-se, precisamos ser uma verdadeira equipa como se viu até no discurso da Rainha, para se legislar e criar leis para as plataformas que impeçam o que se está a passar. Eu não sou ninguém sozinho, foi por isso que falei com a Puma. As pessoas têm tendência a olhar para a minha pele e achar que se trata apenas de uma questão de racismo mas é muito mais do que isso. As redes sociais podem ser um sítio seguro para as nossas crianças? Depois temos um outro problema: o ódio também pode gerar dinheiro e aí o teu remédio é ao mesmo tempo o teu veneno. Quando pomos um vídeo que não é nosso, sabemos que vão apagar e que podemos ser processados. Quando compramos uma casa até o número de dentes que temos têm de saber. E aqui, vai continuar a ser assim tão fácil criar um perfil falso? Quem são estas pessoas?”, prosseguiu, antes de falar do GOL.

O “Game of our lives” é a nova campanha que tem Henry como capitão e que conta com 500 embaixadores ou influencers e 50 clubes com o objetivo de chegar a 30 milhões de consumidores. “Tudo passa por sermos uma equipa, por ajudar quem precisa e por tomar ações que façam o bem. Ninguém faz nada sozinho, vamos ser precisar de muitos capitães e foi isso também que retirei da minha experiência em campo como jogador”, salientou sobre o conceito que tem três palavras chave: prevenção, cura e justiça.