As forças de segurança sudanesas dispararam esta terça-feira latas de gás lacrimogéneo contra milhares de manifestantes que marchavam na capital, em Cartum, para uma tomada do poder por civis, declararam testemunhas.

Os manifestantes dirigiram-se para o palácio presidencial, o antigo quartel-general do ditador Omar al-Bashir, que foi derrubado pelo exército sob a pressão de uma revolta popular em 2019.

Desde então, o palácio tornou-se o quartel-general das autoridades de transição chefiadas pelo general Abdel-Fattah al-Burhan, autor do golpe de Estado de 25 de outubro.

Quase um mês após o golpe, foi assinado um acordo ao mais alto nível: o primeiro-ministro civil Abdallah Hamdok recuperou o seu posto, enquanto o controlo do exército e do general al-Burhan em particular foi consagrado pelo menos até às eleições prometidas para julho de 2023.

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Desde então, muitas organizações da sociedade civil, ministros destituídos pelo golpe e muitos manifestantes continuaram a denunciar o acordo de 21 de novembro, visto pela comunidade internacional como um primeiro passo para um regresso à democracia.

Esta terça-feira, milhares de manifestantes em Cartum cantaram “sem parceria, sem negociação” ou gritaram que queriam “que os militares regressassem aos seus quartéis”.

“Estou a manifestar-me para exigir a queda do domínio militar”, disse um manifestante, Mohamed Alaedinne, à agência de notícias France-Presse (AFP).

Para a Associação de Profissionais Sudaneses (APS), uma das pontas de lança da revolta de 2019, a nova manifestação de esta terça-feira, apesar de uma repressão que já deixou 42 pessoas mortas e centenas feridas desde o golpe, é “uma resposta clara ao movimento insensato dos membros do golpe”.

A APS acusa o exército e o primeiro-ministro, que é agora insultado como “traidor” na rua, de “reproduzir o velho regime e a sua corrupção”, enquanto o Sudão emergiu, há dois anos, de trinta anos de ditadura militar-islâmica do general al-Bashir.