Nasceu esta quarta-feira o bebé da grávida com Covid-19 e não vacinada que está ligada à ECMO no Hospital de São João, no Porto. Santiago nasceu às 12h20, “bem, a chorar e com um bom peso para a idade gestacional [34 semanas]”, de acordo com os médicos desta unidade hospitalar. A mãe, de 35 anos, continua internada nos cuidados intensivos e ligada ao dispositivo de circulação extracorporal (essencial no tratamento de doentes críticos), mas encontra-se estável, consciente e “a encarar com muito otimismo toda esta fase”.

“Houve todas as condições para receber o bebé com todas as medidas de segurança. Felizmente, o Santiago nasceu bem, a chorar e com um bom peso para a idade gestacional [34 semanas]. Foi transferido para a neonatologia e encontra-se muito bem, a respirar sozinho, sem qualquer apoio. Já está com leite e clinicamente muito bem. Os primeiros exames que fazem parte de uma primeira avaliação global também estão normais”, informou Henrique Soares, diretor de Neonatologia do São João.

De acordo com o responsável hospitalar, o bebé vai continuar com um programa próprio de seguimento, devido ao facto de ter nascido com 34 semanas. Os testes já realizados não indicam que tenha Covid-19, mas um segundo teste vai ser ainda feito. Se tudo correr conforme o esperado, Santiago poderá ter alta quando chegar às 35 semanas e tiver plena autonomia alimentar (quando mamar sozinho), não estando dependendo da alta da mãe.

Segundo Marina Moucho, diretora do serviço de obstetrícia, os médicos decidiram avançar com uma cesariana depois de “pesarem as vantagens e os inconvenientes” desta decisão. “Se o bebé continuasse dentro da mãe estava sujeito à medicação toda e sabendo que ele já tinha feito medicação para ajudar a sua maturidade, teria a capacidade de respirar sozinho cá fora. Havia também a vantagem para a mãe o facto de não ter a sobrecarga da gravidez“, explicou a média.

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A mulher, de 35 anos, chegou na passada sexta-feira ao Hospital São João, oriunda do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa. Segundo Roberto Roncon, coordenador da Medicina Intensiva do Hospital de São João, a mãe do bebé está numa situação estável, mas tem de continuar internada nos cuidados intensivos. “A mãe continua com Covid-19 grave, com suporte respiratório extracorporal. Quer isto dizer que apesar de estar acordada, colaborante e bem disposta, ainda tem uma insuficiência respiratória que faz com que precise do ambiente de cuidados intensivos”, explicou, acrescentando que a recuperação poderá ser um pouco mais lenta, uma vez que “pelo facto de se tratar de uma mulher grávida, a rapidez acompanha-se de alguma depressão do estado imunológico”.

Segue-se uma fase delicada, que é uma fase de tentar manter o suporte respiratório com a doente acordada e evitar as complicações dos cuidados intensivos, que são as complicações infeciosas. O facto de não estar sedada, nem ligada ao ventilador diminui a probabilidade desse tipo de complicações, mas não a elimina totalmente e, por isso, seguimos com a preocupação que é devida a estas situações.

A situação deverá ser “menos complexa” a partir de agora, uma vez que o bebé já nasceu: “Sabíamos que nós, em cuidados intensivos, enquanto o parto não ocorresse também éramos responsáveis pelo bem estar fetal, porque a oxigenação da mãe tinha impacto na oxigenação do feto e no desenvolvimento ou não de complicações”. O médico disse ainda que estão, neste momento, a tentar organizar tudo, em termos médicos e logísticos, para que a mãe possa ter um contacto mais próximo com o filho.

Questionado sobre se a mulher não era vacinada por opção própria, Roberto Roncon não quis falar no caso em específico, mas frisou que o que vai percebendo é que a esmagadora maioria das grávidas não tem reservas quanto à vacina, mas sim dificuldades no acesso à informação e na resposta às dúvidas que surgem.

“Quando conversamos com as mulheres grávidas à posteriori e tentamos perceber melhor o que presidiu a essa escolha, muitas vezes percebemos que na maior parte dos casos nunca houve um aconselhamento médico direto. Até agora não conheci nenhuma grávida que não se tivesse vacinado por se opor à vacina, mas sim porque achava que não era indicado e que podia haver riscos. E depois quando se pergunta se falou com o médico de família ou com o obstetra dizem que nunca chegaram a falar. Muitas vezes é isso que acontece”, explicou o responsável pelo serviço de cuidados intensivos.

Desde o início da pandemia este hospital contabilizou três grávidas com Covid-19 em ECMO, sendo que todas foram salvas e apenas um dos bebés não sobreviveu. Este foi o primeiro caso no hospital em que o parto foi feito com a grávida ainda ligada à ECMO. Há ainda a contabilizar desde o início da pandemia cinco grávidas não Covid-19 ligadas também a este dispositivo de circulação extracorporal.