Os possíveis atrasos na execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) foram o principal risco identificado por agências de rating e bancos de investimento, desde que o orçamento do Estado foi chumbado e se marcaram eleições antecipadas. Mas agora, com a maioria absoluta obtida pelo PS, os analistas do Berenberg Bank destacam que “Costa conseguirá agora passar o seu orçamento e Portugal poderá começar a gastar” os fundos europeus – que, como o Observador noticiou na sexta-feira, até poderão ser mais volumosos do que se previa.
Os analistas Holger Schmieding e Guidigiorgio Bodrato, do Berenberg Bank, falam de um “vencedor claro” nas eleições portuguesas e um resultado que demonstrou que António Costa se “saiu bem da jogada” que foi deixar cair o Governo após o chumbo do orçamento. Ainda assim, na nota que o banco distribuiu esta manhã de segunda-feira pelos investidores, salienta-se um ponto que já tinha sido destacado pelo Berenberg: “O rendimento líquido médio das famílias portuguesas continua a ser um dos mais baixos da zona euro“.
“Costa quer aumentar o rendimento dos trabalhadores mas vai continuar a fazê-lo salvaguardando a estabilidade orçamental”, diz o Berenberg Bank, acrescentando que “com políticas económicas globalmente sensatas, Portugal tem condições para continuar num caminho sólido de recuperação”. A expectativa do banco é que o Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal cresça 5,3% em 2022 e 2,8% em 2023.
Também o Capital Economics coloca a tónica na execução da chamada “bazuca” europeia. “Tendo em conta que o Partido Socialista já dominava a coligação anterior, a principal consequência desta eleição é a redução do risco de atrasos e instabilidade, mais do que qualquer alteração significativa de política económica”, afirma o economista Michael Tran, acrescentando que “sem as complicações associadas a governos de coligação, deve ser mais fácil para Portugal executar de forma eficiente os fundos do Next Generation EU”.
O Capital Economics antecipa um “crescimento robusto” da economia este ano, o que aconteceria “independentemente de quem ganhasse”, com uma recuperação dos níveis de PIB pré-pandemia. Porém, a consultora sublinha que “uma recuperação dos níveis de PIB pré-pandemia não é o mesmo que obter um crescimento sustentável da economia sustentado, através de um crescimento da produtividade“.
“Isso será um grande desafio para Portugal, depois de a pandemia passar, e terá para isso o apoio do programa Next Generation EU”, diz Michael Tran. Este é um programa de investimentos que, de acordo com estimativas da Comissão Europeia citadas pelo Berenberg Bank, poderá contribuir para subir o PIB português entre 1,5% e 2,4% até 2026.
O impacto na economia pode, contudo, ser ainda maior. Como noticiou na sexta-feira o Observador, Portugal deverá receber mais dinheiro do que o previsto, cerca de mil milhões de euros a mais. Essa é a expectativa, indicou fonte do Governo, em relação ao que será o resultado do novo cálculo que a Comissão Europeia se prepara para fazer em abril. Depois de ser feito esse cálculo, alguns países vão receber mais do que o previsto, outros menos, conforme o impacto que a pandemia teve em cada uma das economias.