Portugal tem assegurada a segurança de abastecimento de gás natural no contexto do agravamento da crise na Ucrânia. O secretário de Estado adjunto e da Energia, João Galamba, revelou em declarações à Rádio Observador que o Governo tem mantido conversas regulares com as quatro empresas que importam gás e a REN (Redes Energéticas Nacionais) e que o principal risco identificado é o de preço. “Estamos protegidos no volume de gás que precisamos. O principal risco que enfrentamos é do preço”.

Rússia vs. Ucrânia: “Preço do gás já está a subir”, admite João Galamba

E se os preços do gás natural já estão a subir isso “não pode deixar de se repercutir no preço da eletricidade e do gás para a indústria”, admitiu. O setor elétrico, assinala, é o segundo maior consumidor de gás em Portugal. O efeito no preço da eletricidade será “indireto” na medida em que a tecnologia do gás natural é que tem marcado o preço de toda a energia vendida no Mibel (mercado ibérico de eletricidade), em particular num contexto de seca que obriga a recorrer mais às centrais térmicas.

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Questionado sobre o impacto da seca e do aumento do custo do gás natural na eletricidade, o secretário de Estado da Energia admite que os preços podem subir. “No cenário em que estamos a trabalhar não se antevê um problema de segurança de abastecimento, Naturalmente pode haver impacto no preço”, mas a acontecer será generalizado e não apenas ibérico, destaca. João Galamba reconhece a limitação na produção de algumas barragens, imposta por medidas de contingência para responder à seca, mas salienta também o crescimento da potência de fontes renováveis em Portugal e Espanha.

Sobre o impacto nos preços, João Galamba lembra que têm existido reuniões a preparar esta eventualidade de escalada na Ucrânia com outros fornecedores, nomeadamente o maior produtor, os Estados Unidos que já reforçaram a sua capacidade de exportação de gás natural liquefeito (GNL) para a Europa.

É claro que “há toda uma dinâmica” que não é possível antecipar, mas com toda a informação disponível indica que Portugal não terá um problema de abastecimento”. Mas um conflito entre com um dos principais produtores de petróleo “não podia deixar de ter impactos negativos.” O gás natural estava a negociar acima dos 80 euros por MWh mas os preços já chegaram aos 130 euros por MWh.

Portugal pode ganhar com reconfiguração do abastecimento à Europa

Outros países fornecedores poderão também aumentar as entregas à Europa, como é o caso da Argélia que interrompeu o abastecimento pelo gasoduto de maior capacidade (que serve Portugal) por causa de um conflito com Marrocos no ano passado. João Galamba admite que essa situação possa ser reavaliada num contexto em que fornecimentos alternativos ganham importância.

Em 2021, Portugal comprou 10% do gás à Rússia numa operação que o governante descreve como atípica e feita por um único operador no final do ano. Este ano não estão previstas entregas significativas com origem na Rússia e os principais fornecedores são a Nigéria, Estados Unidos e Trinidad e Tobago.

“Esta crise é uma obriga a Europa a repensar a configuração do abastecimento de gás” e e isso é uma ótima oportunidade para a Península Ibérica e para os oito terminais de GNL — Sines é um deles. Mas neste momento a capacidade de importação ibérica não pode ser aproveitada porque existe um “estrangulamento” nas interligações entre França e Espanha. Tradicionalmente houve resistência da França em aceitar reforço de interligações na energia, mas essas ideias devem ser repensadas.

Por outro lado, defende ainda o secretário de Estado da Energia, se é algo que esta crise demonstra é a absoluta necessidade de acelerar a instalação de renováveis que são “o melhor seguro contra esta volatilidade”. O que Portugal tem feito, conclui.