Atualizado às 10h30 de sexta-feira com cotações mais recentes de produtos refinados.

Os automobilistas já se habituaram aos aumentos semanais no preço dos combustíveis que têm ocorrido desde o início do ano, mas na próxima segunda-feira a subida vai ser muito maior. No gasóleo pode mesmo ser a mais expressiva das duas últimas duas décadas. De acordo com fontes do mercado ouvidas pelo Observador, e tendo por base as cotações dos produtos refinados até ao final de quinta-feira, o gasóleo pode disparar até 14 cêntimos por litro, enquanto a gasolina sofrerá um aumento de 7,5 cêntimos por litro.

A regra é que estas variações sejam refletidas, a partir do início da semana, porque este é um negócio de grandes quantidades e margens muito baixas. Mas compete às petrolíferas optarem por transferir um aumento desta amplitude para o preço final de uma só vez. Se isso acontecer, o preço médio do gasóleo simples vai ultrapassar os 1,8 euros e o da gasolina 95 simples 0s 1,9 cêntimos.

Estas subidas refletem o efeito conjugado de dois fatores. O mais relevante é a grande subida das cotações do petróleo ao longo de toda a semana — esta quinta-feira o Brent chegou a negociar perto dos 120 dólares por barril, o valor mais alto desde maio de 2012. Aliviou no final da sessão para 110 dólares, mas acumulou já uma valorização de 14% desde o dia da invasão da Ucrânia pela Rússia.

Os produtos refinados que servem de referência ao preço dos combustíveis também sofreram fortes valorizações esta semana, em particular no gasóleo. Para além de ser um grande fornecedor à Europa de gasóleo, a Rússia também vende o VGO (gasóleo de vácuo), produto intermédio usado para produzir diesel rodoviário. A Galp Energia anunciou esta semana a suspensão das compras deste produto com origem na Rússia e outras empresas estarão a fazer o mesmo o que está a pressionar mais as cotações internacionais do gasóleo do que as da gasolina.

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A ampliar este efeito das matérias primas está a desvalorização do euro face ao dólar, a moeda na qual são feitas as compras de produtos petrolíferos. Considerando o efeito cambial, chegamos a uma valorização esta semana de 18% no gasóleo e de 10% na gasolina nos mercados internacionais. Se estes aumentos forem transferidos para o preço final, o gasóleo pode ficar até 14 cêntimos mais caro. A confirmar-se, este será o maior salto semanal no preço do gasóleo em pelo menos 20 anos. A gasolina poderá aumentar 7,5 cêntimos por litro.

Desde o início do ano e sem considerar as subidas da próxima semana, os combustíveis já sofreram aumentos na casa dos 17 cêntimos por litro, de acordo com os dados da Direção-Geral de Energia e Geologia para os combustíveis simples.

A escalada dos combustíveis não surpreende. É mesmo o impacto mais imediato da crise energética que foi agravada com a guerra na Ucrânia. O Governo já sinalizou o prolongamento de algumas medidas adotadas no ano passado para conter os preços, nomeadamente a não atualização da taxa de carbono. Outras medidas de apoio estarão a ser preparadas nomeadamente para substituir o Autovoucher que termina no final de março. E está em aberto nova descida do imposto petrolífero (na medida do ganho na cobrança de IVA).

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Mas dada a amplitude deste agravamentos dos preços, poderá ter de ir mais longe do que o pacote de medidas anunciado em novembro do ano passado.

Também esta quinta-feira, o gás natural atingiu um novo recorde no mercado europeu, com índice holandês TTF para entrega em abril a atingir quase cerca de 198 euros por MW, baixando no fim do dia para 147,5 euros por MW. O gás natural tem arrastado também os preços da eletricidade no mercado grossista, o que a prazo terá impacto nos preços da eletricidade.

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