A Human Rights Watch apela a todos os países que estão a acolher cidadãos da Ucrânia para que lhes concedam estatuto de refugiados, apoio e proteção o mais depressa possível. “A situação é dramática. Os refugiados têm de ser protegidos”, afirma o diretor da Divisão da Europa e Ásia Central da Human Rights Watch. Em declarações ao Observador, Hugh Williamson volta ainda a alertar para os casos de “tratamento desigual e assédio” por questões raciais que, afirma, se estão a passar nas fronteiras.

O responsável desta organização não-governamental afirma que é urgente ajudar civis a saírem da Ucrânia, rumo a países vizinhos. E sublinha a importância de dar prioridade a crianças e mulheres.

Se ficarem na Ucrânia, estes cidadãos têm de ser protegidos, não podem ser atacados pela Rússia. Se saírem, não podem ser alvos. E devem receber o estatuto de refugiados, apoio total e segurança por parte dos países para onde vão. A prioridade principal é a proteção para os civis que fogem da Ucrânia, em particular mulheres e crianças”, afirma o responsável.

Não especificando números exatos, o diretor da Divisão da Europa e Ásia Central da Human Rights Watch explica que a organização não-governamental já recebeu vários pedidos de ajuda desde o início do conflito. “Recebemos apelos diretamente de pessoas na Ucrânia, ou de pessoas fora do país que estão a tentar encontrar os familiares”, detalha Hugh Williamson.

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Ainda assim, o responsável adianta que, tendo em conta o contexto atual do conflito, por vezes é difícil agir.

Fazemos os possíveis. Não somos uma organização de ajuda humanitária. Mas temos, por exemplo, muitos contactos com organizações de direitos humanos na Ucrânia. Por isso, transmitimos a informação para estas entidades. É uma crise gigantesca e há muitas pessoas à procura de ajuda neste momento”, descreve o responsável da Human Rights Watch.

O diretor da Divisão da Europa e Ásia Central da Human Rights Watch acusa ainda os países envolvidos na guerra de “não fazerem o suficiente” para proteger a vida dos civis.

O último balanço das Nações Unidas, divulgado esta segunda-feira, apontava para a morte de 406 civis desde o início do conflito, incluindo 27 crianças. Tal como a própria ONU, o diretor da Divisão da Europa e Ásia Central da Human Rights Watch alerta que o número é provavelmente “muito maior”.

Ouça aqui as declarações de Hugh Williamson ao Observador:

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“Tanto a Ucrânia como a Rússia têm a obrigação de proteger os cidadãos em contexto de guerra. E é óbvio que não o estão a fazer, porque há tantas pessoas a serem mortas”, acusa. Hugh Williamson imputa responsabilidades diretamente a Moscovo: “A Rússia tem de parar de atacar cidades. Não deve atacar escolas, hospitais ou áreas residenciais”, apela.

Casos de racismo nas fronteiras continuam: “Todos devem ter o direito a fugir do país nesta guerra, independentemente da cor da pele ou herança cultural”

Na semana passada, foi notícia o caso de dois estudantes portugueses que se queixaram de que as autoridades ucranianas não os deixaram passar a fronteira para a Polónia por questões raciais. O diretor da Divisão da Europa e Ásia Central da Human Rights Watch afirma que a organização tem detetado vários casos semelhantes.

Há tratamento desigual por parte das autoridades ucranianas, do exército e guardas fronteiriços. Há casos de atraso nos processos, assédio, tratamento desigual nas várias etapas”, lamenta Hugh Williamson.

Em declarações ao Observador, o responsável destaca que a Ucrânia já garantiu estar a par da situação e que prometeu resolvê-la. “Mas tem de ser de forma rápida e eficaz, de forma a evitar tal discriminação nesta crise. Todos devem ter o direito a fugir do país em contexto de guerra, independentemente da cor da pele, herança cultural ou qualquer outro aspeto”, sublinha Hugh Williamson.

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O diretor da Divisão da Europa e Ásia Central da Human Rights Watch adianta que a organização não-governamental está em contactos constantes com a Comissão Europeia e com as Nações Unidas para tomar medidas no sentido de pôr fim ao conflito e mitigar os efeitos do mesmo. “Estamos a apelar aos Estados-membros da União Europeia para que criem um sistema de distribuição de cidadãos que cheguem da Ucrânia”, exemplifica. Quanto ao papel da ONU, Hugh Williamson lembra que há a possibilidade de, quando a guerra terminar, ser feito um processo judicial internacional, para que “os responsáveis pelos abusos dos direitos humanos possam ser julgados pelos atos”.

A Human Rights Watch está também presente nas fronteiras da Ucrânia com países vizinhos para “fazer entrevistas” aos cidadãos que deixem o país, para perceber como foram tratados “durante o processo”.